29.12.22

A modernidade e eu

A minha geração bem pode limpar as mãos à parede com o mundo que deixa à seguinte. Podemos - e devemos - ralhar, gritar, insurgirmo-nos contra a cultura woke. Mas fomos nós quem a formatou. Falhadas as  ideologias dos colectivismos do século vinte, acreditámos na liberdade como valor absoluto.  Às novas gerações, a única rebelião possível é lutar contra essa liberdade. Demos ouvidos a Rimbaud: somos "absolutamente modernos". Não lhes resta senão ser anti-modernos, voltar à censura e ao cancelamento (como faziam os vitorianos com o sexo, por exemplo). Matámos os deuses: eles ressuscitaram com redobrado vigor, multiplicaram-se, compartimentaram-se em múltiplas capelinhas. Fizemos da Razão o pilar central das nossas mundovisões: não lhes resta outra porta que a do pensamento mágico.

Isto dito, continuo a subscrever todos os valores que me formataram. Por nada deste mundo trocaria a minha Liberdade (assim mesmo, em caixa alta). Lutei para a ter; agora luto para a manter.

O zeitgeist é um cilindro compressor. Vejo muita gente da minha idade ceder-lhe ("il faut être absolument moderne", lembram-se?) Resistir-lhe é quixotesco? Talvez. Mas não lhe resistir é trágico. Prefiro morrer de pé levado pelas asas de um moinho a morrer cilindrado por um rolo compressor pilotado por um "acordado" cego, surdo e intoxicado de "bondade",  Quem resistiu às sereias dos colectivismos tem a obrigação de resistir à do colectivo.

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