20.12.22

Diário de Bordos - Lisboa, 20-12-2022

Amor e ódio, como um cão que se morde a cauda a correr em círculo sem parar. É o que me ocorre cada vez que penso na minha relação com este país. Hoje fui à DGRM porque ando a tentar ligar para lá e ninguém responde (desde muito antes das cheias, se por acaso). Enviei-lhes um e-mail cheio de raiva contida e esqueci o assunto. Tinha de lá ir, ponto. A senhora que me atendeu foi de uma simpatia inexcedível. Portugal é isto: uma oscilação permanente entre a inoperância e a amabilidade - é o caso da TAP, já aqui o tenho dito. Até se entrar no avião é a pior companhia aérea do mundo, uma vez lá dentro metamorfoseia-se e fica uma das melhores. 

Vinha a pensar que devíamos exportar, para além de jovens qualificados, dois grupos de pessoas: os grafiteiros (?) e os funcionários públicos. Porém, depois da experiência desta manhã, penso que é injusto. Os funcionários públicos devem ter de passar por um filtro.  Não são todos os que merecem um lugar em países organizados. Para equilibrar as deficiências sistémicas retemos os amáveis, os prestáveis, os que merecem a designação de funcionário público. Os outros? No avião juntamente com os idiotas que sujam paredes.

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Começo a trabalhar seriamente no meu projecto pós-mar. É uma ficção, claro. Nunca deixarei o mar a menos que a carcaça decida por mim e as farmacêuticas se coliguem. Mas acredito piamente numa transição modulável, em suaves prestações mensais.

(De qualquer forma, verdade seja dita: a única forma de gerir o "presente actual" é projectar-me no futuro. Tenho uma carreira garantida: cursos de gestão de stress. Vou treinando a prática com os meus acontecimentos literários, que terão várias formas e feitios.)

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O mau tempo passou. Daqui a uns dias há mais. Há muito tempo que não via tantas depressões nas nossas latitudes. A jet stream veio a banhos e dá-nos chuva a baldes. Às vezes acontece, não tem nada a ver com alterações climáticas. A única coisa alterada no meio disto tudo é o bom senso e a Razão. Não me admira nada que os jornalistas se pavoneiem por aí com o rei na barriga. Fazem a chuva e o bom tempo (metafóricos, os das cabeças). Conseguiram parar metade do mundo com a histeria da Covid e agora sentem-se cheios de energia com as alterações. Deviam talvez ir ao café desalterar-se e pensar um bocadinho, caso lhes restem dois ou três neurónios funcionais.

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Vinho: Três Tourigas Reserva, 2020. É um vinho do Pingo Doce a quatro euros a botelha, "produzido e engarrafado pela Symington". Os vinhos do Douro estão a arredondar-se e cada vez têm menos pontas por se lhes pegue. Este escapa, por pouco. 

Qualquer dia restam-nos os vinhos da Beira e alguns de Trás-os-Montes. O resto irá para o carrocel: todos iguais.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.