9.9.23

Diário de Bordos - No mar, golfo da Biscaia, 06 a 08-09-2023

A Lua mingua, como lhe compete. Só aparece tarde à noite. Entro de quarto às cinco da manhã e o cenário está iluminado, ao contrário do negrume que era às onze, quando fui para baixo. Andámos um bocado aos ziguezagues aqui pela Biscaia fora, fruto das indecisões do P. Medo e ignorância juntos não dão bons resultados. Enfim, amanhã de manhã fazemos uma escala para bancas em Ribadeo e depois vamos para a Coruña (espero). O problema de P. é uma depressão que está ao largo de Portugal: tem medo que a coisa entre pelo golfo dentro e nos fulmine com badanal. Digo-lhe que a) é pouco provável que a baixa venha directamente para Leste, b) daqui lá vai encher e c) de qualquer forma podemos sempre abrir se for caso disso. Que não! Rumo directo à Coruña nem pensar nisso. O bote parte-se em bocados (P. é hiper-mega-ultra-super cauteloso com as coisas e esconde o casal medo-ignorância por baixo da picuinhice). A isto acresce o problema do combustível. Disse-lhe para comprar dois jerrycans em Roscoff, mas a sugestão foi descartada. Resultado: escala para bancas em Lorient, ziguezagues na Biscaia, bancas em Ribadeo (aonde, de passagem seja dito, não me importaria nada de passar um dia ou dois, para desenjoar da Coruña, que já parece daquelas paragens obrigatórias nas quais os autocarros têm de parar quer haja pedidos para o fazer quer não). [ADENDA: trocar a Coruña por seja o que for? Só não digo que estava bêbedo porque no mar não bebo senão água...]

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Queixa à organização: ontem os Gémeos viam-se perfeitamente, à esquerda da Lua. Agora só se vê o Castor. Onde paras, Pollux? Em contrapartida, Vénus lá está, fiel ao posto. Oríon já deve ter saído da água: creio que lhe vejo as guardas. Não tenho a certeza. O manto diáfono dos cirros esconde a verdade dos astros. A verdade astrológica, por assim dizer. Ou astronómica, mais verosimilmente.

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Parabéns à organização: a temperatura sobe. Já não preciso de gorro e o casaco de mar está meio aberto. Não tarda posso tirá-lo. 

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Não há um pum: nem de vento nem de luzes no horizonte.

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Há uma relação inversa entre a ignorância e a certeza. Quanto menos se sabe mais seguro se está. A ignorância é uma droga reconfortante e apaziguadora. Por isso é tão penoso reduzi-la.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.