17.11.23

Vagabundo do espaço-tempo

O homem vagueia perdido no espaço-tempo. Não sabe para onde vai - quem não sabe de onde vem não sabe para onde vai, é inevitável como a chuva depois do bom tempo ou o calor do corpo da mulher que se ama, mesmo não sendo esse amor retribuído. O que nos dá a direcção do futuro é o passado. Reciprocamente, o futuro reifica o passado. Reconstrói-o, por assim dizer. O espaço-tempo é vasto mas não é infinito - pelo menos o tempo. O espaço discute-se. Ou seja: o homem sabe que a sua divagação tem um limite. A pergunta que lhe ocorre é: que farei, comigo neste espaço? O tempo oferece-se-lhe, pernas abertas. "Vem", diz-lhe. "Perde-te em mim. Alguém te encontrará, se não for eu." Mas o espaço? Que farei deste espaço no qual erro, do qual não passo de uma vírgula encaracolada em ti, aconchegada, abraçada à memória que tenho de ti? O homem perde-se no labirinto que ele próprio construíu. Consola-se: "Pelo menos está bem feito. Fui eu qu o fiz."

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