23.12.23

Hubris, religiões e outras infantilidades

Deixando de lado quaisquer considerações, não consigo deixar de pensar que o choradinho nacional - enfim, lisboeta - sobre os recentes desaparecimentos de uma barbearia, uma livraria e um café deixariam um novaiorquino de boca aberta.

Hoje li um post no FB segundo o qual tudo isto é orquestrado. «Um projecto global de dominação» (aspas porque cito). Orquestrado? Por quem? Por amor de Deus, alguém manda no tempo? É este tipo de conceitos que ajuda a explicar a maravilhosa gestão da Covid e a ideia genial da «Covid-zero» (aspas para não rebentar de riso) - por sinal, materializada e explicitada por um ditador mas aprovada por tantos por assim dizer «democratas» (ditto). Quando eu era adolescente (isto é, há meia dúzia de semanas) estava em voga a expressão «reduzir alguém à sua insignificância». Continua a ser muito necessária, por difícil que seja aceitarmos que nós não temos poder sobre a maioria das coisas que o governa. 

A necessidade de acreditar na infinitude do poder do Homem, como se «quero, posso e mando» fosse extensível a todas as áreas da vida é uma ilusão infantil, uma crendice que as religiões fizeram o favor, ao longo dos séculos, de delegar num deus qualquer. «Eu não posso, mas Deus pode» revela-se, nestes tempos a-religiosos (ou melhor, de micro-religiões) uma atitude mais adulta e mais racional do que o conspiracionismo vigente.

Adenda: isto dito, os compradores desses edifícios são idiotas, porque manter as lojas torna a cidade muito mais interessante, mas isso é outra história. 

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