24.4.24

Diário de Bordos - Marigot, St.-Martin, DOM-TOM França, 24-04-2024

Sinto-me como se houvesse em mim uma porta giratória: por um lado entram as dores, pelo outro saio eu. Regresso eu, saem elas. (Esta é a parte wishful thinking. Não é assim que as coisas se passam. Quem decide é a carcaça, não sou eu...).

.........
Mal cheguei fui passear por Marigot,  Começo por dizer que «passear» é um exagero grosseiro. Arrastei-me por Marigot e confirmei duas coisas: a) gosto infinitamente mais de St. Martin do que da Martinique; b) Se voltar a passar uma época nas Caraíbas será aqui.

Há mais guito do que no Marin. A cidade é mais bonita, está limpa, há menos obesos nas ruas, os preços são mais baratos, há mais escolha em tudo. Claro que uma verdadeira comparação exigiria que ficasse aqui três meses. Deixemos as verdadeiras comparações de lado e fiquemo-nos pelas primeiras impressões. 

........
Escrevo estas linhas (escrever é um exagero grosseiro: bato semi-aleatoriamente nas teclas e às vezes acerto na que quero) no Centr'Hotel, um dos primeiros sítios aonde fiquei as primeiras vezes que vim a St.-Martin. Foi renovado, tem um bar chique (o mai tai está bastante bom) e pergunto-me se quero verdadeiramente ir jantar fora ou se volto para bordo dormir tudo o que não dormi nestes últimos dias. A sesta de hoje não chegou, nem pensar nisso.

O bar tem um spray anti-mosquitos. O velhinho Off. Rousseau era um idiota. A civilização, meu caro Emílio, nunca fez mal a ninguém. Muito antes pelo contrário: só faz bem e nunca há que chegue. 

Enjoo de terra. Hei-de navegar duzentos e cinquenta anos e tê-lo-ei como tive a primeira vez que dele me lembro, em Lourenço Marques, a subir as escadas para casa da tia Luísa A. Tive de me agarrar ao corrimão, pareceu-me que ia cair. Hoje de manhã aconteceu-me a mesma coisa e agora volta. Parece uma vingança: no mar não tenho o mais pequeno sintoma de enjoo e mal chego a terra vejo tudo a abanar. 

O mai tai não está tão bom como inicialmente me pareceu. Tenho de voltar a Oakland para beber um decente. (Passo a minha vida a correr atrás da excelência e tudo o que consigo apanhar é a primeira sílaba: ex.)

........
Se um dia tiver de fazer um inventário deste inverno, o tripulante que me saiu na rifa vai para os três primeiros lugares do topo da lista das coisas boas que me aconteceram na vida e não só este Inverno. Vou beber um shot de Mount Gay à saúde do rapaz.

Romaria em Marigot: Arhawak, Centr'Hotel, Bistro (sic) de la Mer e a incontornável Paula do Sous Marin. A padaria aonde ia tomar o pequeno-almoço agora é a livraria papelaria aonde comprava tinta para as canetas. E livros, claro. É uma boa livraria.

.........
A porra da mesa continua a abanar como se estivesse no mar e a música é horrível, como Sempre em todo o lado.



(Cont.?)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.