13.5.24

Diário de Bordos - Marigot, Saint-Martin, DOM-TOM França, 12-05-2024

Espremendo bem o dia, que sai dele? Coisa pouca. A água continua a entrar no S. D., mas cada vez mais devagar. O Cadisco estava aberto e comprei uma garrafa de Mount Gay Eclipse por dezoito euros e qualquer coisa. Comprei também dois maracujás, o primeiro dos quais bóia agora no copo de Flor de Caña quatro anos que comprei recentemente no libanês pelos mesmos dezoito euros (não é verdade, é efeito literário. Custou-me um euro menos). Oiço Carlo Gesualdo enquanto como os ovos que sobraram do almoço acompanhados por uma tomatada bem puxada - continua a puxar, de resto. Pergunto-me o que sairá amanhã do estaleiro, dos seguros e do proprietário, entidade fulcral no meio disto tudo. Continuo a massacrar-me por não conseguir descobrir de onde vem a puta da água. Gozo a minha novel solidão com um misto de alívio e melancolia. Fartei-me de arrumar e limpar e arrumar e limpar outra vez: um marinheiro não vai para o mar com a sua embarcação suja e não apanha um avião com a sua roupa de mar por lavar com água doce. Lavados e secos, roupa, sapatos e botas. Pronto, foi isto. Parece pouco e é pouco.

Ah, esquecia-me: o meu olho direito, que começou a ageniar há uns meses, está definitiva e oficialmente a precisar de reparação. É a tal história das cerejas em cima do bolo.

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São nove e meia da noite. Faço um café para me ir deitar. (Mentira: faço um café porque quero provar o Mount Gay e apetece-me um café. Mentira. Faço um café porque não quero ir já para a cama e assim tenho de esperar que ele arrefeça. Mentira: faço um café porque me apetece um café, simplesmente. De quantas mentiras é feita uma acção simples como fazer - e beber - um café? Que agora arrefece, mirado com um certo desprendimento pelo rum. Estatisticamente este acabará antes daquele, a menos que encha de novo o copo.)

De repente isto tudo puxa-me para a melancolia e imagino o S. D. a sangrar, mas para dentro. Efeitos precoces do café, sem dúvida.

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Estou completamente farto de tanto plástico, coisa que me parece injusta porque sou com certeza a pessoa que menos se preocupa com a saúde do planeta. É simplesmente que acho enjoativa esta ubiquidade. Não se dá um passo sem tropeçar numa merda qualquer de ou com plástico. 

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Não consigo perceber esta coisa do festival da canção da Euro qualquer coisa. Eurovisão? Não faz sentido nenhum. Não me lembro de ter ouvido uma única música vinda dali nem, muito menos, de ter visto um espectáculo. Nem por um minuto. Não me lembro. No FB vejo algumas fotografias de um monte de palhaços vestidos de panilas ou ao contrário, panilas vestidos de palhaços. (A palhaçada é pior do que a panilada, diga-se de passagem. Quanto a isso, continuo como sempre fui: cada um leva aonde quer e dá aonde pode.)

Não percebo como é que tanta gente vê aquilo e comenta as músicas, os músicos, as classificações e Deus sabe mais o quê. Um dia hei-de ouvir uma música ou duas, só para poder falar. Afinal aquilo é um concurso musical, não de aparências.)

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Tal como previsto, o café acabou antes do rum. Posso ir deitar-me em paz. (Enfim, se é que se pode chamar paz a este ciclone.) 

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