Incapaz de adormecer um gajo levanta-se e vai ao frigorífico buscar uma cerveja. Faz dois ou três comentários disparatados no FB - a hora atenua o disparate - e aparece-lhe uma palavra na cabeça. De onde vem? O gajo não sabe.
Mas sabe aonde o leva. A um poema de Manuel Gusmão que tem guardado no Google Keep porque de vez em quando precisa de poesia tanto como de sono, ou cerveja, ou disparates avulso:
«Revolução orbital: vai-se a rosa transformando
na coisa múltipla, amante e amada, na acção
que assim a faz e nos acidentes mínimos – paisagens,
estações dos dias e das noites, dos anos da história.
Ondula no cérebro a fronteira que as margens da luz
desenham. E a rosa é uma hélice que vibra
no ar que a respirar obriga(s): torção dos pulmões,
do tronco e do sexo, dos nomes e dos vocativos
que se respondem: como um coração que deflagra
a rosa faz do ar que te falta a terra de onde nasces
e o chão sobre que danças.»
De Gusmão a Tamen vai um passo:
"Não durmas, que há uma escada
Para uma noite maior.
Não morras, que há uma espada
Que mata com mais amor.
Pássaro de todos os ramos,
Ó minha esquina tão esquiva,
A verdade é que afirmamos
Pela dupla negativa.
Querer-te: não querer e não querer.
Não fugir: ouvir o vento.
Amar-te é nao me esquecer
Da minha casa e assento."
"Um filho como um verso: neste branco
do mundo, o universo. Nos cinco dedos
da mão todos os ventos, e a rosa
que os respira e dá, vertiginosos."
"Nada a fazer, amor: tu és nascida,
e eu também, por graça ou majestade;
de lados longe e de que portos parte
esta morte insolente e assumida
que se nos dá nos dando a maior parte
do pão que se mastiga e bruxo há-de,
além de miga, ser de vida a vida?"
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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.