4.6.24

Fantasmas, lei da conservação da energia e outras deambulações sobre o cansaço

Há de certeza uma lei na física sobre a conservação do cansaço. Isto é: sobre a equivalência do cansaço à energia que o gerou. A energia transforma-se em trabalho e em cansaço e de repente, numa espécie de fenómeno físico, este sobrepõem-se àquele é o trabalho desaparece da equação e fica só a fatiga.

É por isso, suponho, que desta há vários tipos, dos quais destaco dois: a física e a emocional. Ou seja: a lei da conservação da energia aplica-se. Uma pessoa gasta energia numa determinada actividade, desta resultam consequências e fatiga, ao fim de algum tempo os resultados saem de equação, ficam só os cansaços, um gajo pergunta-se "como é isto possível?" e a resposta vem sob a forma de cansaço intangível.

O dia chega ao fim, um gajo deita-se, os cansaços reagrupam-se, reconstituem-se, começam a sair-lhe pelos poros e a operação - que nesta altura já não sei se é química se física - refaz-se no sentido inverso: os resultados ficam, a fatiga dissipa-se e transforma-se numa indescritível melancolia.

A lei da conservação da energia confirma-se de novo, maravilhoso milagre quotidiano, nocturno, arrebatador. Há alguém na sala que não acredita em fantasmas? Eles existem. São o resultado da transformação da energia do dia. Saem-nos da pele em hordas muito calmas, controladas, lentas como algmas exibições hípicas de dressage. Basta dar-lhes oportunidade para isso e estar atento. Basta procurar os restos do dia como os mendigos procuram comida no lixo. Basta pensar que dormir é a dádiva das dádivas e o caminho do sono não é só nosso.

É dos fantasmas também. 

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