15.8.24

Diário de Bordos - Valência, Espanha, 15-08-2024

Estou sentado numa cervejariazita de bairro de Valência. Acabei de almoçar, pus as fotografias de ontem no Instagram e no FB, preparo-me para beber um vermute caseiro. O almoço não foi mau, antes pelo contrário: alcachofras com presunto, duas gyozas de porco com laranja bastante apreciáveis, uma fatia de melão. Entretido com as fotografias e a máquina e o Instagram levanto os olhos e vejo mesmo à minha frente um par de pernas que chega ao céu. A priori parecem-me nuas mas como não acredito em milagres olho melhor. A rapariga tem calças da cor da pele? Não, as pernas vão desnudas até àquilo que me parece ser as orelhas e não são. São as nalgas, que continua ainda lá para cima, como se o meu olhar tivesse de apanhar um elevador.

Eu gosto de ver um par de pernas bonito. Só não tenho a certeza de que uma cervejariazita de bairro seja o sítio apropriado. E no fundo, no fundo só precisava de ter menos quarenta anos (eu, não ela).

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Regresso a Palma a pensar no raio do azar que tive: esta viagem coincidiu com a merda de depressão nas Baleares e não consegui tirar aquilo da cabeça, pelo menos até saber que o «meu» P. e a malta amiga estava bem. 

Não consigo porém deixar de ficar furioso com a merda dos comentários dos «navegantes» (aspas porque não passam de pessoas que andam em barcos e de navegantes não têm nem a sombra do cheiro). Tal como detesto quando vejo comentários sardónicos a respeito de encalhes ou acidentes diversos. Em primeiro lugar, aquilo pode acontecer-te a ti, no dia em que decidires finalmente sair do bar do clube; em segundo, não fales se o que disseres não servir para transmitir informação. Os teus comentários não interessam nem a um canguru perdido na Groenlândia.

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Pequena nota de viagem: o vermute caseiro da cervejaria Moonlight é esplêndido, o pessoal simpatiquíssimo e a comida excelente. Agradeço ao acaso, à sorte e ao señor Placido da Blablacar, que me deixou nas imediações.

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CONT.

Os aeroportos começam a misturar-se-me nas diferentes memórias que deles tenho. O de Valência, por exemplo, tão simpático, tão pequenino. Cheguei cedo demais para o meu voo, mas isso está a transformar-se num hábito e já nem reclamo contra mim próprio (pelo menos até chegar a um café e pedir um copo de vinho tinto, mas isso é outra história).

Hoje cheguei, passei os filtros, não me esqueci de tirar o computador do saco, não me esqueci de pôr a camisa fora dos calções para os seguranças não verem o cinto - se o virem dizem-me para o tirar, se não o virem não dizem. (Em todo o lado.)  E depois é isto, simultaneamente:
a) O voo está três horas - três horas! - atrasado; e
b) Um copo de vinho neste café custa sete euros e está quente.

E ainda há quem tenha inveja da minha vida.

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1 - Cheguei demasiado cedo ao aeroporto, isto considerando o horário normal do voo;
2 - O qual voo está atrasado três horas;
3 - O aeroporto está cheio pelas costuras;
4 - No café aonde havia um bom lugar para me sentar um copo de vinho tinto e quente custa sete euros;
5 - Poder-se-á aplicar aos aeroportos aquele velho dito: "Deixai toda a esperança, vós que entrais"? Pode e deve-se.

(Não sei se Dante escreveu ditos, mas deve ter dito.)

A pergunta que me invade os dois neurónios que me restam é: por que raio de carga de água a Air Europe não me disse isto enquanto eu ainda estava na cervejaria Moonlight, aonde o excelente vermute custa três euros e cinquenta cêntimos? (Se calhar disse e eu não vi...)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.