As coisas são como são e não como nós queremos que elas sejam. As coisas não deviam ser como são e temos a obrigação de as mudar. A violenta ambiguidade do real, inquebrável, está bem manifesta nestas duas proposições, ambas verdadeiras. Deve encontrar-se um equilíbrio entre o abulismo e a hiper-actividade, entre o realismo e o sonho, entre as duas margens do rio, as margens que o oprimem e não o deixam fazer da paisagem o que é nem o que devia ser. O rio nasce das profundas napas freáticas e à superfície ainda se lembra de quando tudo era escuro e não havia ar. Livre como um comboio nos seus carris. Livre como o vento que vai de um lado para outro movido por forças que o ultrapassam. Livre como o leite que ferve e sai da cafeteira, sujando o fogão todo. Livre, o rio, como o que é e o que devia ser. Livre como a napa freática que escapa de uma prisão para se meter noutra. Livre como a ilusão sem a qual nada se constrói, nem a mesmo a certeza. Nem sequer a incerteza, que oscila entre as duas margens do rio. Livre. como tudo, livre como nada. Como o amor, a quem escolheste ceder-te. Oscilas entre prisões e a isso chamas liberdade.
Tens razão.
Escreve tão bem
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