26.3.25

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 26-03-2025

Como toda a gente que faz o que eu faço, viajo muito de avião; como toda a gente que tem a família num país diferente daquele - ou daqueles - aonde vive e trabalha. Passo a vida em aviões e desenvolvi uma razoável aversão a tudo oq ue está com eles relacionado, logo desde a porta dos aeroportos. Durante muitos anos arranjava-me para chegar à última da hora, muitas vezes só não perdendo o bicho devido a correrias insensatas, a ultrapassagens em filas. Cheguei a telefonar para um check in, em Londres, a pedir-lhes para não o fechar que estava a caminho. A senhora ficou tão siderada que esperou por mim. Se bem me lembro, o avião não saiu atrasado e se saiu foi pouco. Esse tempo acabou. Agora é muito mais frequente chegar demasiado cedo ao aeroporto, como hoje. Ainda por cima, estando de maré baixa não posso beneficiar dos magníficos produtos a preços magníficos que o aeroporto de Genebra propõe aos passageiros com tempo - e dinheiro, claro. De maneira faço aquilo que faço sempre, qualquer que esteja o estado da maré: observo os companheiros de (para mim) infortúnio, tento identificar as línguas que oiço (cada vez menos...) e escrevo meia dúzia de linhas de disparates, sempre alivia a pressão. 

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Saio de Genebra como sempre: meio melancólico, meio feliz, meio indeciso sobre qual dos dois estados preferir. S. estando a maior parte do tempo fora em trabalho passo muito tempo sozinho, o que é uma benção; dou longos passeios por estas ruas simultaneamente conhecidas e novas; vejo amigos (poucos, mas dos mais queridos); faço fondue de queijo, um ritual que nem no Verão dispenso (isto discute-se. S. nem sempre está de acordo...); e agora - desde que os tenho - mormente, vejo os netos. Insuficientemente porque não moram em Genebra, mas vejo-os e estou com eles. São uma espécie de extensão do prazo de pagamento de uma dívida e tento aproveitá-la ao máximo.

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No salão do livro contactei uma revista de viagens que paga os artigos. Se pagar a tradução vale a pena; se não pagar, não vale. Ou então recomeço a escrever directamente em francês, perspectiva que não me atrai muito porque esta língua é tão bonita quanto maldita de ecrever.

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Ir ao supermercado aqui é uma dupla dor d'alma: os produtos "bio" (aspas porque cito) invadiram tudo. Como se os preços não fossem suficientemente dementes com os não-bio.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.