17.10.25

Diário de Bordos - no comboio para Caminha, Portugal, 17-10-2025

Os dados rolaram e saiu Panamá. Era a minha segunda escolha, mas a primeira esando nas lentas mãos da justiça portuguesa aceitei-a sem um segundo de hesitação. É um país fascinante, o Panamá: aterritorial,  dividido geográfica e culturalmente, latino e americano, entre a América do Sul e a do Norte,  com populações autóctones que governam os seus territórios, uma administração corrupta, belezas de cortar a respiração... Ainda não sei o que me espera mas já não tarda muito.

En attendant venho a casa, que está tão bonita. História de encher o saco das imagens, dar-lhe um sentido, encher de afecto a casa e a mim dela. Os meus horizontes são variados mas a bússola aponta invariavelmente para Caminha, passem-me o termo terráqueo, talvez seja a minha reinterpretação da velha história do marinheiro que para se retirar vai pela terra dentro com um remo ao ombro até chegar a um sítio aonde lhe perguntam "o que é isso que levas ao ombro?" e é aí que ele decide ficar. Eu troco os léxicos e digo bússola em vez de agulha e antes do mar vejo os rios, o Coura e o Minho e do outro lado Espanha, a Galiza, un canto a Galicia hey, miña terra nai...

Mesmo que isso implique estas intermináveis viagens de comboio, tão longas quanto agradáveis, confortáveis apesar das rodas ovais e do mau estado (às vezes. Nem sempre) das carruagens e da boçalidade (idem) das pessoas que preferem viajar no bar, hoje havia um grupo horrível mas isso não acontece sempre e sentei-me à mesa de uma senhora que tinha um cão enorme e era magra como se fosse feita de fósforos e eu perguntava-me "será que arde?" mas na verdade não me dava vontade nenhuma de experimentar, ele era o cão, ele era a roupa feia, a cara que parecia ter sido desenhada por Modigliani num dia de depressão ou de ódio à humanidade.

Seguiu-se uma hora de espera no Porto e estou de novo no Intercidades. Daqui a meia-hora chego e daqui a menos de uma hora estarei em casa a perguntar-me "como pudeste pensar não vir aqui?"

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É preciso sonhar com o rio Minho cheio de mastros. 

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E dormir, dormir, dormir e acordar sem saber aonde estou e depois chega a resposta: "Estás em tua casa, estúpido. Andas há tanto tempo a falar em sedentarizar-te e agora tens aonde, finalmente."

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