10.12.25

Diário de Bordos - Le Marin, Martinique, DOM-TOM França, 09-12-2025

Um gajo pensa em tudo aquilo por que acaba de passar e começa a elaborar uma estrutura para a narrativa. De repente cai-lhe um raio em cima. Morreu a C. P-C.  O gajo sabe que não é uma grande surpresa mas sabe também que é injusta, surpresa ou não. Há mortes que não são uma filha da putice? Há. Esta não é uma delas. A cabrona leva os melhores de entre nós até morrermos e só aí reequilibra a média. Puta que a pariu, à morte.

Foi ela também que ceifou a minha Avó Filipa antes de eu a poder levar a comer um linguado ao Leão D'Ouro. Não é só a morte que é filha da puta. 

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Tive de voltar ao hospital para pedir um papel sobre o internamento da Nigist. «You are a miracle worker», diz-me a Brooke. Não sou nada. Sou um worker e já é muito.

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Tenho rum a bordo (branco), hoje comprei café decente - vem do Congo - e chocolate negro. O motor carrega as baterias. É um mistério para mim, isto de os armadores não instalarem painéis solares.

Tudo é um mistério para mim, na verdade. Até eu. Até a raiva que agora sinto, como se não fosse mais do que de vida. Puta que a pariu. Deixei de gostar de chocolate negro.

2 comentários:

  1. Luísa Castelo-Branco03:10

    Foi a primeira vez que o li. Gostei
    Nunca antes tinha querido saber mais (melhor) sobre uma pessoa pública perante a sua morte.
    Também vi a Prova Oral com ela , a CPC
    Estou encantada.
    Ouvi dizer que um Artista nunca morre .
    Que na desgraça está sempre a graça , era o que pensava o Dinis Machado desde miúdo.
    Enfim , escrevo-lhe por impulso e não por outra razão qualquer. Talvez porque percebi que gostava mesmo dela.

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    1. Anónimo03:14

      0brigado, Luísa. Espero que não seja a última.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.