Eleições

As eleições foram há uma semana e parece que passou um ano: isto afinal não está a começar mal.

Serviço Público / Restaurantes

O restaurante Casa da Morna é, incontestavelmente, um restaurante que merece ser frequentado: é bom, bonito, não é demasiado caro, tem boa música e tem, rara e suprema qualidade, uma lista de vinhos que, não sendo muito extensa, tem preços absolutamente aceitáveis.

A lista é constituida por pratos africanos provenientes daquilo a que agora se chama PALOPs - o acrónimo soa mal e é feio, mas é o que há. O grogue - uma bebida que apesar de feita a partir de cana de açúcar é totalmente diferente do rum - é bom, o serviço atencioso e simpático; para além de restaurante, a Casa da Morna é também bar e espaço para exposições.

Casa da Morna, Rua Rodrigues Faria 21, Lisboa (em Âlcantara, perto do Largo do Calvário). Tel.: 213 646 399. Fecha ao domingo.

Diálogos possíveis

- A minha mãe é louca - diz a adolescente, pesarosa.
- Dá graças a Deus. Se o não fosse queixar-te-ias muito mais.

Vitória

A vitória por vezes parece-se com o peixe grelhado: começa a cheirar horas antes de chegar à mesa.

It's gonna be a long long way, José

O acto de reconhecer uma assinatura já de si é discutível - países muito mais ricos que Portugal não sabem o que é e vivem muito bem, obrigado.

Agora imaginem o seguinte: reconhecer uma assinatura num documento escrito à mão custa 16 euros; se o mesmo documento fôr impresso custa 30.

A pessoa que fez este magnífico (e paradigmático) regulamento nunca deve ter visto um documento manuscrito por mim.

Eleições

Das duas coisas que Portugal mais precisa - estabilidade e reformas estruturais - ganhámos uma, ontem. Resta saber se o PS vai também dar-nos a outra. Não faz parte do seu código genético, mas as mutações acontecem.

Publicidade

No dia 06 de Outubro partirá de La Trinité-sur-Mer, no sul da Bretanha, uma frota de 10, talvez 15, embarcações de vela - 10 Grand Surprise garantidos e eventualmente 5 A40, com destino a Oeiras.

A Make Fast, de que o autor do Don Vivo é o feliz e solitário accionista, procura pessoas que queiram fazer a viagem - cerca de 7 dias (mas prever 15: a vela é, por natureza, um meio de transporte em que as datas são incertas).

O preço é de 300 euros por pessoa, incluindo IVA e excluindo viagens e alimentação. Não é necessária experiência prévia de vela.

Mais informações em Lserpa@make-fast.com.

Será o amor um verbo reflexo?

Sim, sem dúvida.

Meteorologia psico-marítima

A tua depressão transformar-se-á num anti-ciclone posicionado sobre Lisboa.

(De, e para, S. S.)

Paraphrase

Le français est ma seconde patrie.

Est-ce cela l'amour?

J'aime voir ton corps nu, ton désir à fleur de peau, la musique de ton bonheur.

Serviço público / Bares

Nunca é demais repetir:

Blueswing
Blueswing
Blueswing

Tragédia

Tudo o que é bem feito é bonito, e isso é uma tragédia.

Au secours

"Au secours! Au secours!", gritava no deserto. Ninguém o ouvia, claro. Refugiou-se logicamente na escrita, nas palavras, no silêncio. Numa cave, em resumo, à qual ele chamava uma coisa e os outros outra.

Repetições

Dizer (ou pensar) que os portugueses hoje não podem ouvir "a verdade" é o equivalente actual da convicção de há 30 anos segundo a qual Portugal "não está preparado para a democracia".

Estava, está - e pode ouvir que ou o futuro próximo não vai ser fácil, ou o futuro longínquo será ainda pior.

Espanha

Oiço frequentemente comparações entre Espanha e Portugal - a favor, claro da primeira. Espanha é hoje o que é porque (entre outras razões, claro) há dez ou quinze anos - isto é, quando Portugal era um "oásis", lembram-se? - tinha uma taxa de desemprego de 25%.

Vamos a isso?

"Talk is cheap...

...money buys the whiskey", dizia-me um dia um sul-africano que falava (e bebia) muito.

É o que me ocorre quando vejo esta proposta do Partido Socialista: pela negativa, isto é. Até que enfim que vejo um político propôr que se ponha o bolso onde se põe a boca.

Claro que a "indignação" foi despoletada pelo actual governo de gestão - seria lá o PS capaz de fazer tal coisa! - mas enfim, é de supôr que se aplicaria a todos os partidos. Já agora: poder-se-ia estender o ãmbito da medida aos salários dos boys? Just in case...

Ano do Galo

Sei que sou de um ano do Galo; ano de galo...

Au revoir

Um adeus provisório, e uma homenagem grata, ao rum agrícola branco "Habitation la Favorite" impõem-se agora, hora da partida:

"La distillerie La Favorite est l'une des dernières distilleries familialles de la Martinique. Notre rhum est le résultat du respect de techniques affinées par de nombreuses générations. En goûtant notre "coeur de canne" vous découvrirez le rhum agricole authentique alliant la douceur de la canne et le soleil de la Martinique."

A isto, segue-se outra grande verdade:

"Le coeur de canne se déguste en ti-punch."

Não sei o que é que "o sol da Martinica" vem para aqui fazer, mas benditos sejam o "respeito", as "numerosas gerações" e as "distilerias familiares". Quanto ao "ti-punch": é uma mistura baseada no princípio da caipirinha, mas que a deixa a milhas (náuticas).

As raízes do possível

Regressemos então às coisas importantes: Leonard Cohen, o rum "Habitation La Favorite", o facto singelo de ires esperar-me ao aeroporto, a neve, mais cinza que branca, ou o céu, mais cinzento que azul, como de costume; regressemos a essas coisas simples, mas essenciais: é nelas que se funda a esperança, se afundam todas as impossibilidades; elas são as raízes do possível.

Porque o possível é feito de coisas assim: uma memória e uma esperança chegam para o construir. Um bom livro, uma boa música, um bom olhar, um seio bonito, uma pele que se oferece, um desejo que se satisfaz, um amanhã que promete, um ontem que se manteve hoje, um promessa por cumprir e outra que se cumpriu, um adjectivo justo (se é que tal coisa existe), um verbo apropriado, um substantivo feliz, um diálogo fluido.

Blogs

O blog é o instrumento ideal para quem tem boas intenções mas não tem talento para as desenvolver.

Pequenos anúncios

Pseudo-homem, pseudo-intelectual, pseudo-pai, marido e filho, pseudo-trabalhador, mal-empregado, 42 / 176 / 90, procura mulher verdadeira, real, consistente, para juntos construirem vida plena de sentido e de verdade.

Diálogos de fazer por casa

- Je suis un tactile.
- Les tactiles sont souvent fous.

- Les souvenirs dont on se souvient le mieux sont ceux que nous avons fabriqués nous-mêmes.
- C'est pour ça que tu les fabriques depuis cinquante ans?

Efémeride

Hoje, mudou o disco de Leonard Cohen que ouvia há alguns anos; regressei a um disco anterior, melhor. Um pequeno homem escreve num pequeno bloco pequenas frases que só uma pequena quantidade de pessoas lerá. O céu, cinzento, acinzenta os poucos traços de neve que se vêem pela janela. Penso em ti - hoje é, afinal, um dia igual aos outros.

Pequenos anúncios

Homem, 42, procura mulher mais magra, mais bonita e mais inteligente do que ele para juntos construirem uma relação serena e equilibrada. Apesar de estes critérios não serem difíceis de preencher, não consegui ainda encontrar ninguém, não sei porquê.

Jantar Improvisado (c/reminiscências)

Acontece-me frequentemente começar a cozinhar sem saber o que o vai ser o jantar, ou almoço. A lógica da maioria destes casos é a da refeição a bordo de uma embarcação de vela: um máximo de proteínas, glícidos e lípidos com um mínimo de recipientes para lavar; coisas que se possam comer à colher, se estiver mau tempo, ou numa tigela - idem; e combinações de alimentos simultaneamente clássicas (a despensa de bordo tem uma capacidade limitada) e imprevistas.

O jantar de hoje correspondeu a todos estes critérios:

Refogar cebola e bacon en cubos; juntar alho e carne picada. Alourar, baixar o lume, e deixar cozer o tempo de ir lá fora arriar o balão, ou marear a genoa e a grande. Entretanto aquece-se o forno, não vá o diabo tecê-las. Quando se estiver perto do fogão outra vez, flamear com rum (Habitation La Favorite, que desperdício) juntar natas, paprika, sal e pimenta, um pouco de noz moscada (a droga dos antigos marinheiros).

Cortar batatas cozidas às rodelas - não há frigorífico ou armário que as não tenha - e colocá-las num pirex devida e generosamente untado com manteiga; dispôr a carne picada por cima e por cima desta mais rodelas de batata.

Colocar no forno até cheirar a queimado, ou um bocadinho antes.

O acompanhamento líquido foi feito com um magnífico vinho que descobri recentemente, uma mistura de Syrah e Merlot do Pays d'OC, "Verger du Soleil" (isto, meus caros, não se inventa). O contra-rótulo desta estranha mas deliciosa mistura diz: La noble Syrah à la robe foncée et aux tanins relevés est le compagnon idéal du Merlot doux et fruité. Rond aux début, harmonieux et présentant un nez remarquable de baies des bois, ... Tudo isto é verdade, mas não traduz a delícia que é beber um vinho como este ao preço de 6 euros - abaixo disso, em Genève, nem para a cozinha...

Depois, as reminiscências marìtimas obrigam-nos a atacar frontal e corajosamente este rum (cf. post abaixo), e a telefonar para a Martinique a saber se o Abri Côtier, primeiro refúgio do marinheiro que acaba de chegar, último do que vai partir, cenário de inumeráveis promessas de amor eterno e de eternos 'Ti Punch adoráveis, antro de magníficos slows que tantas, oh tantas, vezes se converteram em beijos afundados nas águas mornas da baía -não os meus, que nessa altura andava de coração e pé no gesso-, ainda existe (a resposta foi: "não sei").

Do Abri Côtier veio a primeira cerveja depois da minha travessia ("uma cerveja, um duche e uma mulher - por esta ordem, se faz favor") e lá bebíamos o último 'Ti Punch antes de voltar para bordo.

Ah, tio Rum...

Serviço público / Rum

Rhum Agricole Blanc "Habitation La Favorite" - link (o qual não sei se funciona) aqui.

O Rhum Agricole Blanc "Habitation La Favorite" tem 50º - menos 5 portanto do que o La Mauny, o rum agrícola branco de referência - e é incomparavelmente mais suave e mais saboroso.

O Rhum Agricole Blanc "Habitation La Favorite" constitui uma razão necessária - se bem que não suficiente - para se ir à Martinique. Outra, claro, é um bar em Fort-de-France chamado L'Abri Côtier.

Portas

A blogosfera é, muito justamente, frequentemente acusada de ser um vase clos. Ao sistema em circuito fechado vem agora juntar-se o das portas giratórias. As quais não têm, infelizmente, porteiro, cansável ou incansável; nem se fecham nunca, nem se abrem nunca verdadeiramente.

Mas têm um incansável apreciador do Digitalis, um blog por vezes culto, muitas vezes oculto e sempre agradável.

PS (salvo seja): um link também é uma porta. Poder-se-á estender um tapete vermelho diante de um link? Se sim, estenda-se então um à frente deste. Vermelho vivo, por favor, com champagne no fim e porteiro fardado no princípio (ou vice-versa); e que não falte o trombone do Miles, ou a voz anasalada do Leonard Cohen.

Pergunta ao PS

"Is there a Blair out there?"

Os socialistas e a economia

No que respeita à economia, os socialistas ainda estão no estádio da pensée magique - um estádio que os ingleses designam por voodoo economics. Enfim, não é só na economia; mas era na economia que gostaria de os ver mudar.

"O Dinossauro Melancólico"

Um título apropriado para a minha vida, se os dinossauros não usufruíssem de uma tão boa imagem.

Wishful thinking

Seria bom que as palavras nos tirassem este peso de cima, de dentro. Não tiram. Nada tira - nem tu, nem nós, nem o sol, o sal, o sul, o azul.

Prémios

Não mereço, como sabes, metade do que me aconteceu: mereço tudo, mereço pior, mereceria o dobro; ou nada: talvez não mereça sequer esta vida que insiste em viver-me.

Resolução

Fechar bem as portas que ficaram mal fechadas, e abrir de vez as que ficaram entreabertas - eis uma boa resolução para o futuro.

Diálogos possíveis

- Nada como uma bela luta.
- Nada como uma bela vitória.

Diálogos possíveis

- A L. hoje não veio trabalhar. Tirou o dia.
- Tirou o dia? A quem?
- Sei lá! Ao tempo, se calhar, ou à vida.

Repetição

"Não é o talento que paga, é a perseverança".

Claro que o talento aliado à perseverança paga a dobrar; mas enfim, para já basta ser pago.

Serviço público / Bares

Restaurante Bar Enoteca, em Cascais.
Rua Nova da Alfarrobeira, 14, Cascais. Tel.: 214 822 328.