27.6.05
Sabedoria popular
Procura a felicidade, se quiseres; mas não troques o que não tens pelo que nunca terás.
26.6.05
Diálogos possíveis
- Quero escrever um livro.
- Um livro? Sobre quê?
- Sobre a minha vida. Ou melhor, sobre as minhas vidas: tive muitas, sabes?
- Vida? Vidas? Meu caro, vive-a - ou vive-as - se ainda fores a tempo; não as escrevas.
- Um livro? Sobre quê?
- Sobre a minha vida. Ou melhor, sobre as minhas vidas: tive muitas, sabes?
- Vida? Vidas? Meu caro, vive-a - ou vive-as - se ainda fores a tempo; não as escrevas.
25.6.05
Retratos imaginários
Um dia decidiu deixar de ter namoradas, porque estava farto de rupturas. "É pior que mudar de casa", explicou-me.
24.6.05
Diálogos possíveis
- No caminho perdi amigos, família, consideração (a dos outros por mim, a minha por mim, a minha pelos outros), perdi...
- E acha que valeu a pena? - interrompi-o.
- Faço-me essa pergunta todos os dias, como pode imaginar. E a resposta é sempre uma, só uma: sim! (e por vezes isso assusta-me). Antigamente tinha dúvidas; mas agora basta-me pensar nos dias de sofrimento, nos dias em que não sabia como ia ter dinheiro para pagar as facturas, nos dias em que não conseguia olhar para o espelho, em que já não sabia onde ia buscar recursos para inventar mais desculpas; por vezes punha-me a chorar sem qualquer motivo aparente e dizia a quem estava comigo que tinha uma alergia nos olhos... - em que não pensava senão em baixar os braços e deixar-me ir na corrente...
- Esse longo rio tranquilo ao qual você tanto aspirava.
- Exactamente. Penso nesses dias, quando não tinha paciência para me suportar, para me ouvir respirar, em que escrever um mail era mais difícil do que subir o Everest com um saco de pedras às costas, - e comparo tudo isso com a família que deixou de me falar, os filhos que não conheço, os amigos que me repudiaram ou que eu repudiei - e acho que sim, acho que valeu a pena. E acho que sou um monstro.
- E acha que valeu a pena? - interrompi-o.
- Faço-me essa pergunta todos os dias, como pode imaginar. E a resposta é sempre uma, só uma: sim! (e por vezes isso assusta-me). Antigamente tinha dúvidas; mas agora basta-me pensar nos dias de sofrimento, nos dias em que não sabia como ia ter dinheiro para pagar as facturas, nos dias em que não conseguia olhar para o espelho, em que já não sabia onde ia buscar recursos para inventar mais desculpas; por vezes punha-me a chorar sem qualquer motivo aparente e dizia a quem estava comigo que tinha uma alergia nos olhos... - em que não pensava senão em baixar os braços e deixar-me ir na corrente...
- Esse longo rio tranquilo ao qual você tanto aspirava.
- Exactamente. Penso nesses dias, quando não tinha paciência para me suportar, para me ouvir respirar, em que escrever um mail era mais difícil do que subir o Everest com um saco de pedras às costas, - e comparo tudo isso com a família que deixou de me falar, os filhos que não conheço, os amigos que me repudiaram ou que eu repudiei - e acho que sim, acho que valeu a pena. E acho que sou um monstro.
23.6.05
Palavras bonitas
A: Aldebaran / Agulha - no sentido de bússola, como em "Agulha de marcar", "Agulha de governar"; / Al Iskhandyria (duvido que a grafia esteja correcta. É o nome árabe de Alexandria)
B: Betelgeuse
O: Outspoken / Outburst
S: Samarkand
V: Vápido / Verbo / Ventre / Vento
B: Betelgeuse
O: Outspoken / Outburst
S: Samarkand
V: Vápido / Verbo / Ventre / Vento
Passada...
...esta primeira vaga de má-fé, e ultrapassado o desprezo que sinto pela banca portuguesa, forçoso é reconhecer que o Sampaio disse uma grande idiotice.
Sampaio e os bancos
Até o Sampaio diz coisas certas de vez em quando. Infelizmente, é muito, muito, muito, de vez em quando. Ontem foi uma delas: 79% do crédito bancário comercial está concentrado em 6% das empresas. Meus caros, números são números.
Claro que se os bancos o fazem é porque têm razões para isso: a ausência de um quadro jurídico que lhes permita minimizar o risco de créditos fraudulentos, a ausência de uma lei do arrendamento que não torne tão racional e evidente a opção por habitação própria - qual o banco que vai aplicar activos num crédito duvidoso se os pode aplicar na compra de uma casa, que é, por motivos óbvios, a última coisa que se deixa de pagar? - uma lei fiscal cheia de buracos, o favoritismo que foi permitir a restructuração da banca à custa do erário público (reconhecidamente, não foi o único sector que o fez, e foi o que o fez melhor), j'en passe et des meilleures.
N'empêche: salvo raras e honrosas excepções, os bancos portugueses são casas de penhores com uma rede de instalações bonitas.
Claro que se os bancos o fazem é porque têm razões para isso: a ausência de um quadro jurídico que lhes permita minimizar o risco de créditos fraudulentos, a ausência de uma lei do arrendamento que não torne tão racional e evidente a opção por habitação própria - qual o banco que vai aplicar activos num crédito duvidoso se os pode aplicar na compra de uma casa, que é, por motivos óbvios, a última coisa que se deixa de pagar? - uma lei fiscal cheia de buracos, o favoritismo que foi permitir a restructuração da banca à custa do erário público (reconhecidamente, não foi o único sector que o fez, e foi o que o fez melhor), j'en passe et des meilleures.
N'empêche: salvo raras e honrosas excepções, os bancos portugueses são casas de penhores com uma rede de instalações bonitas.
22.6.05
Oposição
Há algo de obsceno, nos termos em que políticos do PSD criticam o Governo; como, por exemplo (mas está longe de ser o único) Vasco Graça Moura o faz hoje no DN.
Esta oposição não está boa.
Esta oposição não está boa.
18.6.05
Boas notícias
A outra boa notícia do dia é que a Enoteca de Cascais mudou para a minha rua. Antigamente ficava a três minutos, e a subir; agora está a um, a direito.
A Enoteca de Cascais, já aqui a referi uma vez, é um excelente restaurante e um excelente bar de vinhos, com preços mais do que aceitáveis e um serviço mais do que excelente.
A Enoteca de Cascais, já aqui a referi uma vez, é um excelente restaurante e um excelente bar de vinhos, com preços mais do que aceitáveis e um serviço mais do que excelente.
17.6.05
Apologia da paixão
Odeio a distância, todas as distâncias, sejam elas geográficas, psicológicas ou simbólicas.
J'aime les mots
B: Bolina / Bordo - como em "está a bordo, vou para bordo, fico a bordo";
L: (Leme de) Ló - já ouvi falar em Pão de Ló, mas não sei bem o que é, nem qual a relação com este voz tão bonita: Leme de ló!, que o homem de leme (ou o oficial de quarto nos navios do antigamente) dá para indicar o início da manobra de viragem de bordo.
L: (Leme de) Ló - já ouvi falar em Pão de Ló, mas não sei bem o que é, nem qual a relação com este voz tão bonita: Leme de ló!, que o homem de leme (ou o oficial de quarto nos navios do antigamente) dá para indicar o início da manobra de viragem de bordo.
Números
Números, números, números - que fazem tantos números onde só letras e palavras deviam estar?
Ladaínha do amor não correspondido
Fala comigo, fala comigo, fala comigo, mesmo que seja para me dizeres "está calado!".
16.6.05
J'aime les mots
Palavras bonitas (A): Abalar (v.) / Abalo (s.) / Anacrónico
Palavras bonitas (H): Hélice - o hélice: faz-se frequentemente a este belo substantivo masculino a incorrecção de o feminizar;*
Palavras bonitas (P): Peculiar
Palavras bonitas (S): Singular
* - a este respeito, ver Ciberdúvidas (link enviado pela Helena, sempre atenta). Por mim, sempre ouvi "o" hélice, e foi esse som, e essa imagem que me ficaram no espírito.
E se virem a lista dos dicionários consultados, verão que não há nenhum náutico. O hélice de que gosto, escusado será dizê-lo, é o que puxa os navios pela água dentro, ou os aviões pelo ar, o dos helicópteros.
Palavras bonitas (H): Hélice - o hélice: faz-se frequentemente a este belo substantivo masculino a incorrecção de o feminizar;*
Palavras bonitas (P): Peculiar
Palavras bonitas (S): Singular
* - a este respeito, ver Ciberdúvidas (link enviado pela Helena, sempre atenta). Por mim, sempre ouvi "o" hélice, e foi esse som, e essa imagem que me ficaram no espírito.
E se virem a lista dos dicionários consultados, verão que não há nenhum náutico. O hélice de que gosto, escusado será dizê-lo, é o que puxa os navios pela água dentro, ou os aviões pelo ar, o dos helicópteros.
Outra pergunta (muito menos importante que a precedente)
Porque é que os partidos comunistas precisam, para mudar, que morra a figura tutelar?
Pergunta
Que amo, quando te amo? O amor é egoísta, todo. Amo o que recebo, o que me dás, o que em mim trago de ti.
14.6.05
Libertação de Florence Aubenas
O que mais impressiona é a vida, a força, a energia que emana desta mulher. O sorriso, a vivacidade do olhar. A vida, tout court, que cinco meses de cativeiro não chegam para anéantir.
13.6.05
On croît rêver
Em Setembro vai realizar-se na Suiça um referendo para saber se o país deve aceitar a extensão da "livre circulação de pessoas" aos novos membros da União Europeia. Os prós e os contras definem-se ao longo das linhas habituais.
Habituais? Não: os sindicatos - todos os sindicatos - são a favor da abertura das fronteiras aos "canalizadores polacos" que tanto medo provocam noutras paragens. Dizem eles que a imigração legal é o melhor meio de impedir a baixa do poder de compra e de lutar contra o trabalho clandestino.
Com sindicatos assim, até eu sou sindicalista.
PS - claro que foi o resultado de uma negociação política, entre os sindicatos e as confederações patronais. Agora falta ver quais as concessões que estas fizeram. Mas isto não anula o facto singelo que sindicatos pragmáticos são melhores do que sindicatos ideológicos.
Habituais? Não: os sindicatos - todos os sindicatos - são a favor da abertura das fronteiras aos "canalizadores polacos" que tanto medo provocam noutras paragens. Dizem eles que a imigração legal é o melhor meio de impedir a baixa do poder de compra e de lutar contra o trabalho clandestino.
Com sindicatos assim, até eu sou sindicalista.
PS - claro que foi o resultado de uma negociação política, entre os sindicatos e as confederações patronais. Agora falta ver quais as concessões que estas fizeram. Mas isto não anula o facto singelo que sindicatos pragmáticos são melhores do que sindicatos ideológicos.
Luto nacional
Luto nacional porque morreu o Álvaro Cunhal? Um socialista, que ninguém no seu perfeito juízo acusaria de querer instaurar um sistema anti-democrático, decreta luto nacional porque morreu um líder comunista.
Nós, na direita liberal, temos pelo menos a vantagem de não ter ligações "genéticas" a nenhum sistema dictatorial.
Nós, na direita liberal, temos pelo menos a vantagem de não ter ligações "genéticas" a nenhum sistema dictatorial.
Dívida
"Somos devedores...". Devedores? De quê? De ele não ter conseguido instaurar a ditadura que queria? Não, Ana, não estou de acordo: uma ditadura é uma ditadura é uma ditadura, qualquer que seja a razão que apresenta para se justificar.
Porque é que a ditadura comunista ainda goza de tanta boa vontade? Se ele tivesse lutado como lutou para instaurar um regime fascista, no qual acreditasse e pelo qual se tivesse sacrificado tanto, dever-lhe-íamos alguma coisa também?
Porque é que a ditadura comunista ainda goza de tanta boa vontade? Se ele tivesse lutado como lutou para instaurar um regime fascista, no qual acreditasse e pelo qual se tivesse sacrificado tanto, dever-lhe-íamos alguma coisa também?
O casal da mesa ao lado
"Putain, merde, chier, ce n'est pas parce que j'utilise un langage un peu imagé que je parle mal, non?" demande-t-elle.
Poderia amá-la, quase: gosto tanto do sentido de humor como da má-fé.
Poderia amá-la, quase: gosto tanto do sentido de humor como da má-fé.
Retratos possíveis
O casal na mesa ao lado: ele saíu de um filme de Rohmer, ela de um de Jean Eustache.
11.6.05
Galicismos
No Bloguítica, um os melhores blogs políticos nacionais, destaco esta frase:
"[a] Lisboa assumiu a presidência do Comité de Ministros dos Negócios Estrangeiros do Conselho da Europa (Maio/Novembro de 2005). Não se tratando de um vector central na política externa portuguesa, o exercício da presidência confere visibilidade externa a Portugal e contribui para que possamos «punch above our weight»."
Bolas, mas ninguém nos obriga a ser como a França, pois não?
"[a] Lisboa assumiu a presidência do Comité de Ministros dos Negócios Estrangeiros do Conselho da Europa (Maio/Novembro de 2005). Não se tratando de um vector central na política externa portuguesa, o exercício da presidência confere visibilidade externa a Portugal e contribui para que possamos «punch above our weight»."
Bolas, mas ninguém nos obriga a ser como a França, pois não?
10.6.05
Lua
É difícil navegar pela Lua: move-se demasiado depressa, raramente tem um horizonte bem delineado, nunca sabemos se devemos tomar-lhe a parte superior, o meio ou a parte de baixo (isto é, nunca sabemos por onde pegar-lhe).
Não, não é uma analogia.
Não, não é uma analogia.
8.6.05
Palavras em fogo
Brincava com as palavras como um malabarista com garrafas em chamas: cadeado / encadeado / encandeado / encalhado / na calha / se calhar / encalhámos um no outro.
Se calhar. Se calhar desencalhámo-nos um ao outro.
Se calhar. Se calhar desencalhámo-nos um ao outro.
Serão as palavras...
...que o diabo amassou as únicas que merecem ser escritas? Não: o pão que o diabo amassou tão-pouco é o único que merece ser feito.
Sem título
Que há, na estrutura de um cristal, que o torna diferente de outro? Que há no tempo que o torna diferente de outro tempo? Que há em mim que me torna diferente do outro eu? Só de dentro se pode saber. Sabê-lo-ei, um dia?
Porque é diferente a luz, hoje? A cidade é a mesma, o mar. O sol põe-se e, como ontem, como amanhã, não há um sopro de vento. As pessoas são as mesmas, o calor, a distância, a solidão. Essa não muda. Não é preciso estar por dentro para a distinguir. É sempre a mesma coisa: eu estou longe, tu estás longe, e o futuro nunca mais é presente. O futuro nunca será radioso.
- Nunca foi - respondes, com o habitual sorriso trocista ao canto do olho.
Porque é diferente a luz, hoje? A cidade é a mesma, o mar. O sol põe-se e, como ontem, como amanhã, não há um sopro de vento. As pessoas são as mesmas, o calor, a distância, a solidão. Essa não muda. Não é preciso estar por dentro para a distinguir. É sempre a mesma coisa: eu estou longe, tu estás longe, e o futuro nunca mais é presente. O futuro nunca será radioso.
- Nunca foi - respondes, com o habitual sorriso trocista ao canto do olho.
7.6.05
6.6.05
5.6.05
2.6.05
1.6.05
Serviço Público e Agradecimento Público
A esta senhora, bonita, inteligente e culta devo um erro e uma descoberta. O erro foi meu, e já foi corrigido. A descoberta, essa, foi dela (ou por ela), e por isso lhe estou grato ad aeternum.
Trata-se, singela, fundamentalmente, do Restaurante Painel de Alcântara, Rua do Arco a Alcântara, 7 - 13, 1350-019 Lisboa (213 965 920).
Trata-se, singela, fundamentalmente, do Restaurante Painel de Alcântara, Rua do Arco a Alcântara, 7 - 13, 1350-019 Lisboa (213 965 920).
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Restaurantes Lisboa
Aviso
Apesar do tom lamuriento, choramingas, e de uma maneira geral chato deste blog, quem me conhece sabe que sou de um natural alegre, optimista, mesmo ingénuo.
Apesar disso, não quero, não posso, deixar de mencionar o artigo da Teresa de Sousa no Público de hoje, 31/05/2005 - (se o meu amigo e ocasional leitor M. R. tiver a gentileza de Ctrl+C + Ctrl+V, colocá-lo-ei aqui).
Nele, Teresa de Sousa incita-nos a não subestimar a importância, o alcance (portée) do "Não" francês.
Bom seria traduzi-lo, claro.
Apesar disso, não quero, não posso, deixar de mencionar o artigo da Teresa de Sousa no Público de hoje, 31/05/2005 - (se o meu amigo e ocasional leitor M. R. tiver a gentileza de Ctrl+C + Ctrl+V, colocá-lo-ei aqui).
Nele, Teresa de Sousa incita-nos a não subestimar a importância, o alcance (portée) do "Não" francês.
Bom seria traduzi-lo, claro.
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