28.10.07

Doc Lisboa

Doc Lisboa, "Filmes Premiados". Vi três: um mau, um muito bom e um assim-assim, por esta ordem. Não sei que prémio ganhou o primeiro: provavelmente o do melhor suporífero; o segundo era um filme comovente sobre o reencontro com um pai "ausente", um pai para quem "[o seu trabalho] sempre passará à frente de tudo o mais"; o terceiro um documentário sobre a amizade e a guerra da Tchetchénia. Era uma coisa mais ou menos delicodoce (pelo menos do ponto de vista da perspectiva, que algumas imagens eram bastante cruas). Ganhou, se não me engano, o prémio da Investigação.

Espero que os prémios reflictam um equívoco do Júri, e não o nível médio da selecção.

27.10.07

Aquecimento

"I read, much of the night, and go south in the winter". Já viram que se a terra aquecer o suficiente, poder-se-á dizer "I read, much of the night, and go north in the winter"?

Imaginem Londres, Paris, Copenhaga, Berlim como cidades de vilegiatura no inverno...

Maria Joao Pires V

Schubert - Sonata N. 21, D 960 - Pires [5/5]

Maria Joao Pires IV

Schubert - Sonata N. 21, D 960 - Pires [4/5]

Maria Joao Pires III

Schubert - Sonata N. 21, D 960 - Pires [3/5]

Maria Joao Pires II

Schubert - Sonata N. 21, D 960 - Pires [2/5]

Maria Joao Pires

Schubert - Sonata N. 21, D 960 - Pires [1/5]


26.10.07

O género humano, José Germano (e Maria João Pires)

Uma vez atribuí a Dostoievski uma personagem de Tolstoi, ou vice-versa, não me lembro; e confundi Narciso com Ícaro (- Narciso com Ícaro! Deve ser a queda, o que os une no meu espírito); também já atribuí a Hemingway um livro do Steinbeck, vejam bem. E não conheço ópera, apesar de pensar que gosto (além de que, forçoso é reconhecer, não gosto de uma ópera de Mozart com papagaios, Flautas, bruxas e Rainhas da Noite, vá saber-se).

Um engano, uma completa, total, irremissível fraude. Uma desgraça. Certa vez, até whisky de malte confundi com Johnny Walker; e muitas, aguardente com Luis de Camões.

Quantas vezes, quantas, confundi o passado com o presente, o futuro contigo, o sol e a lua, a água do mar e a água da vida, El Salvador e as Honduras, Monica Bellucci e Cecilia Bartolli, os nus e os mortos, Alcochete e o sonho americano, a guerra e a paz, os irmãos Karamazov e as irmãs Bennet?

Até já confundi a ausência e a distância, vê lá tu, coisas tão diferentes...

PS - nunca confundi Melanie com, sei lá, Marianne Faithfull, por exemplo, mas aposto que não tarda...



Broken English


Times Square
Running for Our Lives

(Os melhores clips têm o "embedding disabled")

...ou com a Maria João Pires, 57 minúsculos e insuficientes segundos, só para acabar com um happy ending:



Mais um, irresistível (7' 37")


(Schubert - Impromptus Op. 90, N. 4, D 899)

Sábado de manhã

O PORTO DE LISBOA HÁ 2800 ANOS

Padrão dos Descobrimentos recebe debate sobre porto de há 2.800 anos. Foram descobertos vestígios de uma estrutura portuária na zona ribeirinha de Lisboa que, segundo a especialista Maria Luísa Blot, datam de há 2.800 anos. ‘Lisboa: Arqueologia de uma cidade marítima plurimilenar’ é o título da conferência que Blot proferirá sábado de manhã no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, integrada no ciclo ‘Memórias do Mar - Aventuras Transoceânicas’.

Às 10h30.

De O Carmo e a Trindade.

Sentimentos belos e pequenos prazeres vagos

"Do que eu falo é de amor... . Cá para mim, é uma ciência".

"- ... Mas sabes tu o que aconteceu?
...
- Deixou-me. Uma noite, cheguei, a casa estava vazia, ela tinha-se ido embora. Deixou-me.
- Com outro tipo? ...
- Ó meu filho, naturalmente! Uma mulher não foge assim, sozinha".

"Não estou a explicar bem. O que aconteceu foi isto. Havia dentro de mim esses sentimentos belos e pequenos prazeres vagos. E esta mulher foi para a minha alma como que um ponto de reunião. Através dela passei esses pedacinhos de mim e saí completo. Estás a perceber?"

"- É isto. Ouve com atenção. Meditei sobre o amor, e esclareci tudo. Vi claramente o que está errado. Os homens apaixonam-se pela primeira vez. E por quem se apaixonam eles?
...
- Por uma mulher. ... Sem ciência, sem nada que os sustente, entregam-se à experiência mais perigosa e sagrada desta terra de Deus. Apaixonam-se por uma mulher. ...
- Começam pelo lado errado do amor. Começam pelo mais alto."


Carson Mcullers, "Uma árvore, Um rochedo, Uma nuvem", in "Folhas Vermelhas e Outros Contos Americanos", trad. Jorge de Sena, Colecção 2 Horas de Leitura, ed. Público, Lisboa 2004

Banalidades de base

É preciso ser teimoso, mais teimoso do que a teimosia ela-própria, mais teimoso do que o tempo, a sorte, as probabilidades, os outros, mais teimoso do que a vida.

25.10.07

Quand l'hôpital se foût de la charité

"Le protectionnisme est encore loin de constituer une déferlante aux Etats-Unis, mais il progresse, parfois accompagné de désagréables relents chauvins."

Cascais, Alexanders, Bahia e o que se segue

O melhor barman do mundo está transformado num empregado de mesa. Aposto o meu braço esquerdo e metade do direito em como ele é o melhor empregado de mesa do mundo. Continua, de resto, a fazer os melhores Alexander de Cascais, de Lisboa, e do mundo todo onde estive nos últimos dez anos (não chega a metade, mas enfim, já foi bastante).

Às vezes perguntam-me se não quero ir viver para Salvador, no Brasil. A minha resposta é "não, não quero, muito obrigado". É verdade: é tudo muito bom, é um facto. Mas não se pode andar a pé na rua depois, ou antes, de um bom jantar, não há Alexanders em lado nenhum e quando se vai para casa, não se vai bem para casa, mas para uma espécie de prisão com grades em todo o lado, guardas façanhudos à porta e gadgets electrónicos.

Aliás, os brasileiros estão todos a vir-se embora - porque iríamos nós para lá?

Um copo no canto da casa do canto (já não entro lá dentro, não gosto de colaborar no triunfo dos porcos) e uma casquinha de siri no Caranguejo do Farol, ao fim da tarde, quando o sol se põe e a noite se prepara, são (quase) equivalentes. Os trajectos até ambos não. Não há nada que valha um passeio pelo paredão, seja ele às 6 da manhã, às 8, ao meio-dia, às 6 da tarde ou à meia-noite. Deve ser isso, a pertença.

24.10.07

Mudança. Evolução.

É reconfortante saber que algumas velhas tradições portuguesas estão a mudar. Antigamente, o organismo do qual a minha actividade depende chamava-se "instituto" e marimbava-se realmente nos meus e-mails; hoje, não se chama instituto, e marimba-se realmente nos meus e-mails - mas responde-lhes.

É uma dessas respostas ready-made, que significam: "vá passear" - mas são melhores do que o silêncio completo que antes recebia em troca.

Recentemente, até me pediram desculpa por um atraso numa resposta. Desculpa! Não haverá por aí um quadro de excedentários a mais?

Assimetrias

Porque é que a androginia feia é muito mais inquietante do que a androginia bonita?

(Não, não é a fealdade que é inquietante).

Pertença. Belonging. Appartenance

Pouco a pouco regresso a Lisboa. Olho para a mesa ao lado e ao princípio assusto-me: quase posso advinhar-lhes a casa, a mulher, o cheiro a chulé - só ficam de fora os clubes de futebol a que cada um pertence. Depois, corrijo: this is where I belong to; c'est mon appartenance. Assim, em francês e inglês no original.

É aqui que eu pertenço, a estas tascas onde já não se pode beber uma aguardente caseira se não se for conhecido, e bem, do proprietário (nesta não sou. Tenho que beber uma dessas coisas de marca); onde se come bacalhau e bebe vinho tinto a dois euros e meio o jarro e os empregados são o que são, não são brasileiros, chineses, franceses ou intelectuais. A tasca é feia, claro - até no nome (chama-se Tachadas), mas come-se bem e não é cara e é de onde eu pertenço.

É a minha gente, os meus gostos, o meu passado e, Inch' Allah, o meu futuro.

Frase do dia, do ano, da vida

"Never give in. Never give in. Never, never, never, never - in nothing, great or small, large or petty - never give in, except to convictions of honor and good sense. Never yield to force. Never yield to the apparently overwhelming might of the enemy."

A totalidade do discurso está aqui.

Já por aqui andámos, Leonard, e é aqui que voltamos, sempre

Dance me to the end of love



Closing Time

Regresso ao presente

Depois voltei ao presente: Marenzio: Madrigaux à 5 Voix, Harmonia Mundi, HM 190 1065.

"Cosi moriro i fortunati amanti
Di morte si soave e si gradita
Che, per anco morire, tornaro in vita!"


Ou, tão presente como o Marenzio:



Avalanche, Leonard Cohen

Well I stepped into an avalanche,
It covered up my soul;
When I am not this hunchback that you see,
I sleep beneath the golden hill.
You who wish to conquer pain,
You must learn, learn to serve me well.

You strike my side by accident
As you go down for your gold.
The cripple here that you clothe and feed
Is neither starved nor cold;
He does not ask for your company,
Not at the centre, the centre of the world.

When I am on a pedestal,
You did not raise me there.
Your laws do not compel me
To kneel grotesque and bare.
I myself am the pedestal
For this ugly hump at which you stare.

You who wish to conquer pain,
You must learn what makes me kind;
The crumbs of love that you offer me,
They're the crumbs I've left behind.
Your pain is no credential here,
It's just the shadow, shadow of my wound.

Oldies, saddies

Andei pelo You Tube à procura de músicas. Passei pelos Doors, mas o Jim Morrison era insuportavelmente bonito; pelo Jimi Hendrix, e a qualidade do som horrível; pelos Led Zeppelin, pelo Cat Stevens, pelo Bob Dylan, até pelo Leo Sayer, meu Deus, Leo Sayer.

"When I need you"



O passado é outro país, e os visas de saída são difíceis de obter, não são? É preciso tentar muitas vezes.

23.10.07

Surpresa

Isto sim, é uma surpresa.

Um dia assim

Foi num dia assim que tudo se desenrolou perante mim: Glenn Gould a tocar as Suites Inglesas, os correios a funcionarem bem, África a democratizar-se, Thabo Mbeki a reconhecer, finalmente, que Mugabe devia ir-se embora ("he should go home"), o fim da pobreza no Brasil; foi num dia assim

que tu respondeste, finalmente, e aceitaste vir para o mar comigo. "Não sei viver noutro sítio, sabes?", perguntei-te, e tu respondeste "e eu não sei viver sem ser em ti, vou amar o mar e amar-te e dar-te o mar que tu me deste", não sabia a que mar te referias então, hoje sei, e foi num dia assim

que pela primeira vi a tua voz, essa voz sem a qual não sabia que se podia viver, não pode, pois não?, ninguém pode, depois de a ouvir, e foi também num dia assim que amar fez sentido pela primeira vez outra vez em tanto tempo, como pode uma vida dissolver-se em amor, desaparecer e ressuscitar transformada?, foi sem dúvida num dia assim que descobri que pode, para isso tu foste feita, para inventar a vida; foi num dia assim

que disseste "é uma questão de pele". "Não é: é uma questão de pele, de olhos e cabelos e seios e ventres e coxas e é uma questão de corpos, de ar e de falta de ar e de gritos e de sussurros, de ânsia e de unhas e carícias e dentes e línguas e dedos e orelhas e bocas", é uma questão de querer mais e não querer outra, nunca mais, nunca mais outra vida, outra pele, outro corpo. Foi num dia assim

que me ensinaste "o sofrimento não presta, não enche uma vida, só a esvazia", e me mostraste que o passado passou, finalmente, e reencarnaste e me bateste à porta e me sorriste e me disseste "olá, sou eu outra vez, pela última vez sou eu". Foi num dia assim que Deus inventou as palavras - tu és os alfabetos todos de todas as formas da palavra amor - e os dias e o mundo

e o mundo és tu, perfeita.

Banco de Créditos do Pai

Uma das coisas (há muitas) admiráveis nesta história do BCP é que ninguém fala do que se passa nos outros bancos. Eu apostaria o meu salário dos próximos dez anos (verdade seja dita que não chegaria sequer a uma fracção visível dos milhões que Jardim Gonçalves pagou pelo filho, nem dos juros perdoados a um dos administradores) em como histórias destas, e piores, acontecem em todos os estabelecimentos que em Portugal se fazem passar, e passam, por bancos.

Tap dance

Eu pensava que já tinha visto tap dance de todos os modos e feitios, mas não.

Desporto

No canal de Desporto da Google News Portugal aparece esta notícia: "Clínica de Mama inaugurada esta terça-feira". Até que enfim que não falam só de futebol.

12,000 euros

Foi quanto custou a reparação do relógio do arco da Rua Augusta. Ou seja, um euro por cada funcionário da CML. A reparação foi paga por duas empresas privadas - a Torres Distribuição e a Jaeger-LeCoultre (cito-as por deformação profissional, e por gratidão).

Deve haver aqui qualquer coisa que não bate certo.

22.10.07

Referendos

De todos os argumentos contra os referendos, o que mais abomino é o da "complexidade técnica": o de os cidadãos não deverem votar sobre matérias complexas, de que não conhecem todos os aspectos técnicos.

Se esse argumento fosse válido, a Suíça seria um país pobre, inabitável.

(Como se os deputados que votam as nossas leis percebessem alguma coisa do que do que quer que seja...)

Ordem

Avinha-te, abifa-te e abafa-te; deve ser esta ordem, não?

(Refiro-me a uma constipação).

21.10.07

Adolescência

Passou a vida toda a vingar-se do que sofreu com as mulheres durante a adolescência.

Na realidade, todos passamos a vida toda a vingar a adolescência.

Comparaison n'est pas raison

Fazer o que se gosta e não ganhar dinheiro com isso é fantástico. É como ter uma namorada boa e ser impotente.

Mistura

Uma mistura de sensualidade, humor, inteligência e cultura não deve ser muito difícil de encontrar, pois não? Basta procurar.

Beauty is a (non-negligeable) bonus.

Passado

Por vezes lembro-me do passado. Mas tenho pouca paciência para ele.

"I don't fuck much with the past. I fuck plenty with the future."

Realismo

Se eu quisesse fazia amigos no Pub. Ou amigas, mesmo: se bem que o meu Pub não tenha mulheres, e as que tem sejam as únicas mulheres feias de Cascais, por vezes lá aparece uma que não é um mostrengo, e não tem idade para ser minha avó, nem minha neta.

(O meu Pub favorito tem as únicas mulheres feias de Cascais, é verdade, quando tem mulheres, e a melhor música de Cascais, quando tem música).

Mas não quero. O que me leva ao Pub é a falta de whisky, não a falta de amigos, ou mulheres.

Sibarita

Hoje chamaram-me sibarita. Era o nome de um Sprog do Centro Náutico de Quelimane. É uma palavra de que gosto desde os meus onze anos. Pena não o ser mais.

Agnosticismo

Sou agnóstico, céptico, não acredito que a força numérica de um grupo lhe dê automaticamente razão, não acredito em dogmas, não penso que uma mentira repetida mil vezes se transforma numa verdade, não acredito em grupos, bandos, teorias, lugares-comuns, modas, não acredito em padres, pastores, imans, mullahs, monges ou seja lá o que for só porque são o que são.

E agora, se não se importam, vou ali ao Pub lutar contra uma aterradora falta de whisky. Enquanto esperam, podem ler isto.

Acredito, outrossim, digo-o se bem que pouco importe, numa mistura de vela, mar, sexo, whisky, boa cozinha, amizade, literatura, filhos e filhas, mulheres e ex-mulheres, amor e amores, música e cinema, à qual se chama, por vezes, liberdade.

Um grande post

Sobre as declarações de James Watson, o politicamente correcto, Orwell - e a importância da crítica, e da razão. Aqui.

Oito dólares, quatro ou a superioridade da ordem

Há uns anos, em Moçambique, fiquei surpreendido com o facto de os Moçambicanos reclamarem contra a Polícia de Trânsito deles.

Para mim, aquilo era um sonho: qualquer excesso de velocidade, estacionamento mais criativo, ausência de cinto de segurança - enfim, qualquer infracção resolvia-se com uma nota de já não sei quantos meticais, mas que equivalia, disso lembro-me bem, a 8 dólares.

Um país em que as multas de trânsito, todas as multas de trânsito, eram resolvidas na hora, por 8 USD, sem muitas conversas nem delongas, só podia ser, pensava eu, amado pelo felizes condutores e demais utentes das vias de circulação.

Tal não era, naturalmente, o caso: as pessoas gostavam de imaginar que viviam num país "normal", e para eles normal é os polícias serem honestos. Tinha para mim que se a maioria daqueles que se queixavam fosse viver para a Suiça, Alemanha, Suécia, Dinamarca, EUA, Reino Unido, Canadá, França, sei lá, deixariam rapidamente de confundir "normal" com "desejável" e voltariam a preferir a doce anarquia dos 8 dólares.

O problema era, se calhar, que frequentemente a ausência de infracção também custava oito dólares - se bem por vezes fosse possível reduzi-la a quatro.

BCP

Há uns anos, Jardim Gonçalves era considerado um dos raros gestores em Portugal que "se preocupa[va] com a rentibilidade dos investimentos feitos pelos accionistas", e dos "poucos que sabe quem uma empresa pertence aos accionistas, e não aos seus gestores".

Nunca subscrevi esta tese porque deixei de acreditar em marcianos ainda antes de deixar de acreditar no Pai Natal (e isso aconteceu muito cedo).

On est toujours le héro de quelqu'un

Uma das coisas a que acho piada no Brasil é que eles acham que Portugal é um país "europeu": pensam, por exemplo, que não há corrupção, que a burocracia funciona, e que os bancos são bancos, não as casas de penhores que realmente são.

Eu não os desminto, claro. Não por nacionalismo, patriotismo ou seja o que for (se bem não veja nada de errado nesses sentimentos), mas porque não gosto de desfazer ilusões. Para quê? Se eles cá vierem, a realidade encarregar-se-á disso; se não vierem, de pouco lhes servirá saber a verdade.

20.10.07

750 + 1

Malabarismos semânticos. Rodriguinhos. Indubitavelmente porreiro, pá, mas nada de muito entusiasmante. Venha a massa.

O novo aeroporto

Um artigo interessante de João César das Neves, aqui. Não é sempre mau, o senhor. Às vezes é mesmo muito bom.

Brasil II

A falta de profissionalismo é a causa apontada pelo autor da observação do post anterior para a impossibilidade de o Brasil progredir. Esta história, que apareceu nos jornais mesmo antes de me vir embora, aponta mais duas ou três:

Um Polícia Militar de quase 60 anos e o filho, de 30, raptaram um miudo de 19 ou 20 anos. Suspeitavam, erradamente, que ele lhes tinha assaltado uma casa de praia. Levaram-no para um descampado, e deram-lhe pancada até se convencerem que estavam realmente enganados - altura essa em que resolveram matá-lo, para que ele não os denunciasse.

Enfiaram-lhe quatro tiros, quatro, no corpo (um dos quais na cabeça), e foram-se embora.

O miudo sobreviveu. O PM e o filho foram apanhados porque resolveram voltar ao local onde tinham deixado o corpo, atraídos pelo burburinho da multidão que se juntou no local.

18.10.07

Brasil

"O Brasil", escreveu um jornalista alemão que eu não sei quem é - não sei sequer se era jornalista, ou alemão - "é um país que nunca há-de funcionar: aqui, as putas têm orgasmos e os traficantes sniffam tanto como os clientes".

17.10.07

Desistências

Se eu fosse a ti, não desistia. Afinal, aquilo de que possivelmente desistirias não é assim tão bom que mereça ser abandonado.

Pessimismo antropológico

Se misturássemos todas as mulheres do mundo numa só, que saíria - uma deusa, ou um monstro?

15.10.07



Encontrei isto aqui via Jonasnuts. Percebo agora que sou igualmente inábil com as duas metades do meu pobre cérebro.

Salvador da Bahia - IV

No Brasil, o par "Pão e Circo" foi substituído por "Sexo e Circo", com resultados moderados.

13.10.07

Arquétipos

Gosto de arquétipos. São eles que nos unem a nós próprios.

12.10.07

Salvador da Bahia - III

Chove a rodos. Sem transição, o sol aparece, ofuscante. O calor e o cheiro são nauseabundos. De um lado da bomba de gasolina, um talho, com as carne todas à vista, penduradas. Do outro, pescadores arranjam peixe. O cheiro é uma mistura de: esgoto (predominante), gasolina, peixe, talho, fumos de escape (estou no centro, o trânsito é intenso) - não há nada que não seja intenso,nesta cidade: a começar na paisagem e na sua terrível degradação e a acabar no sorriso das pessoas.

À noite não se pode andar na rua, em lado nenhum. É frustante, como ter uma mulher bonita ao lado na cama e não lhe poder tocar. A comida é deliciosa. António, um músico / guia turístico / futura estrela e ex-emigrante brasileiro em Paris diz-me que o maior atractivo de Salvador é a "qualidade de vida"; "não é, António", não-respondo. "É a vida, sem mais nada, e a vida não tem qualidades, nem defeitos. É como a chuva, o sol, o barulho, o cheiro, a quantidade alucinante de carros, a beleza das mulheres da tua cidade. É a vida".

10.10.07

Le regard

Essaye le regard. Des fois ça marche, je te le promets.

Diálogos reais

Um brasileiro veio a Lisboa e perguntou a um chauffeur de táxi onde é o túmulo do Cabral.
- Já morreu? - perguntou o senhor do táxi, verdadeiramente condoído.
- Já, há para aí 480 anos - respondeu o turista.
- Não sabia.

Declaração de quase-amor

Um dia quase te direi quanto é bom amar-te.

Salvador da Bahia - II

Cada vez que venho a Salvador fico fascinado com a vontade, a energia, o dinamismo que foram precisos para fazer do Brasil um país pobre (ou melhor: de pobres).

Salvador da Bahia

Salvador é uma cidade mais feia, do ponto de vista arquitectónico, do que Maputo, e com uma natureza muito mais bonita. Parecem-se muito, furiosamente.

Há porém uma diferença grande: é que em Salvador demoramos algum tempo a interiorizar que o Brasil é um país pobre.

Retratos improváveis

Gostava muito de sexo, mas não gostava do que era preciso fazer para o ter; um dia, descobriu que o mesmo se aplicava a outras áreas da sua vida: o dinheiro, por exemplo.

Verdades essenciais

"Nesta vida absurda e vã, só duas coisas contam: o ócio e o cio". A citação é de memória, mas não deve andar muito longe do original. Vinha numa revista chamada "Viver Bahia" e não retive, infelizmente, o nome do génio que a produziu.

Não estou totalmente de acordo com ele: o ócio aborrece-me, enjoa-me, farta-me. Mas lá que é bela é.

8.10.07

Promessa de casamento

Se me caso contigo? Claro que caso, querida, se me prometeres que nunca me serás fiel e farás tudo para ser feliz.

Bebedeiras

Há várias formas de bebedeira - a pior é quando falta o whisky.

Injustice

Un jour, nous savons tous les deux qu'il ne viendra jamais, je te parlerai de l'injustice. Ce qu'elle est triste et belle, joyeuse et laide, combien est-elle adorable et atroce, insoutenable et répugnante.

Faudrait presque la rendre volontaire...

La légèreté de l'air qui reste

Je suis venu te dire que je ne m’en vais pas. Je reste.

Tu peux en faire une chanson aussi triste, aussi belle que celle-ci, si ça te dis. Tu peux en douter, en rire ou même - qui sait? - en pleurer. Je reste.

Tu peux en faire ce que tu veux, nous en ferons ce que nous pourrons. Je reste.

Je suis venu te dire que plus jamais je m'en irai .





"Quand Gainsbourg se bourre le bar se barre"...

O programa segue dentro de momentos

O DV é um blog que hesita entre a memória e a recusa da memória (ou o prazer do tempo, vá lá); entre a falta de coisas para dizer e a de jeito para as pensar; entre o júbilo simples de um trabalho que se ama, da vela, do mar e da vida (passem as redundâncias) e a dor sem a qual o encanto não passa de uma garotice.

O DV é sobretudo uma porta aberta para a vida, a que entra e a que sai.

Até hoje pensava, por razões várias - como, por exemplo, a idade, uma formação musical deficiente (se comparada à dos nomes que nessa área por aqui pontificam ), uma irrepremível propensão saudosista (alguns diriam reaccionária), uma inabalável paixão pelos trópicos - que tinha o monopólio do Harry Belafonte na blogosfera, passe o execrável termo.

Uma breve irrupção na net demonstrou-me que não: há um blog, chamado Terapia Metatísica (a melhor das terapias, o melhor dos blogs) que hoje me trouxe à memória a música mais jubilatória, mais lúdica, mais leve, mais alegre e com mais humor que conheço.

Refiro-me a isto, claro: .

Ou a isto:



E tudo começou aqui.

Quase

Que queres?, um quase-eu não pode ter muito mais do que um quase-amor para dar.