29.12.03

O princípio

Ele, cuja maior aspiração era a normalidade, que a sua vida se transformasse, finalmente, num longo rio tranquilo, sentia-se de novo atraído pela originalidade, pela excentricidade, pelo único.

Nela, essa excentricidade não constituia o cartão de visita que ele inicialmente temera: era tão-só mais uma peça no seu conjunto de defesas, mais uma pedra na muralha. Num país conformista e conservador como Portugal, no qual só em alguns sítios de Lisboa a diferença era aceite ou solicitada, ir viver para o interior e brandir a sua unicidade como um estandarte não era uma provocação: era uma - mais uma - fuga para dentro. E, inevitávelmente, Nuno Júdice veio-lhe ao espírito: "Comecei a fugir para dentro. É cada vez mais difícil não fugir para dentro".

Desejou-lhe boa viagem, em silêncio, e foi dar o seu passeio matinal. "Gostaria que me telefonasses, ou escrevesses, ou me levasses contigo", pensou, ao fechar a porta.

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