24.10.06

Culpa III

Não te fiz amor. Desculpa. A última vez que mo pediste dançavas em cima de uma mesa, na festa mais alucinante que jamais dei. Eras branca, inteligente, eras um desafio e eu não queria senão a facilidade, o efémero. Há muito que tínhamos perdido o medo das granadas; lá fora, uma dúzia de soldados totalmente bêbados dormia, as kalashes entre as pernas, a apontar para o ar. Não eras muito bonita, repara, mas eras atraente: o teu charme era o olhar, era a dança no tampo da mesa, era o grito mudo que me dizia vem vem vem. Não fui. Hoje não sei se fiz bem. Pouco interessa. Já não interessa. Mas não consigo, repara, após todos estes anos, esquecer-te. Não quis fazer amor contigo porque sabia que a seguir ao amor viria uma amizade, e atrás da amizade um amor e atrás do amor um inevitável adeus.

Há muito que não acredito nas virtudes mágicas do coito, há muito que não acredito numa vida para lá do sexo, há muito que não acredito numa vida para cá do sexo. Nessa altura acreditava em tudo isso. E só pensava em evitá-lo.

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