6.7.13

Não sei

Talvez não sejam milhares; mas são centenas de pessoas que andam no meu cérebro, determinadas. Vêm de todas as direcções mas dirigem-se todas para o mesmo ponto, em grandes filas desordenadas. Visivelmente conhecem-no: nenhuma hesita, nenhuma pára ou sequer abranda. Não sei quem são, o que procuram, de onde vêm ou para onde vão.

Por uns momentos penso que fogem do tinitus, que me massacra hoje mais do que o habitual por causa da grande quantidade de vinho branco que ontem bebi. Claro que não: elas não o podem ouvir.

Não sei como sei que é o meu cérebro. Talvez não seja, talvez seja outra mente qualquer.

É o meu.

Não sei.

Um cérebro não é um passeio público. Dirijo-me apressadamente para o ponto para o qual convergem as pessoas. Nenhuma o atinje, apesar de todas andarem depressa. Eu sim; afinal é o meu cérebro, posso ir onde quiser nele. Faço grandes gestos para que as pessoas párem, voltem para trás, me deixem em paz.

De repente tenho o espírito vazio; desapareceram, foram-se embora. Não as matei, não morreram. Desapareceram, simplesmente.

Talvez cada pessoa fosse um dia, uma semana, um mês. Não sei.


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