16.3.15

Diário de Bordos - Freeport, Bahamas, 16-03-2015

A senhora é bonita. Gorda, mas não para os padrões locais. Ele é gordíssimo, mas pelos mesmos padrões talvez vá para a categoria dos "fortes". Quando muito.

É um casal adúltero, vê-se à légua. Nenhum homem casado olha para a mulher com esta intensidade, esta atenção, quase medo. Ela está mais à vontade. Sabe-se bonita, Não há coisa que dê mais beleza a uma mulher do que saber-se - ou sentir-se - bonita. E desejada, às vezes. Nem todas.

Não lhes oiço a conversa. Precisaria de prestar atenção, e sou incapaz disso. Lamento, claro: de que falarão? Porquê aqueles gestos dela? (Aposto que está a falar do marido, mas é uma aposta que nunca poderei saber se ganhei ou não).

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A viagem para Cuba está a transformar-se numa missão. R., o armador corre o risco de ir para a prisão (prisão - prisão, não a esquadra onde está agora) se não pagar uma porra de uma multa para a qual não tem dinheiro; e ter o barco arrestado. S., a mulher, anda à procura de massa. Já lhe disse que posso e quero ajudar. É uma questão de timing.

A ideia de que o homem está na prisão por causa de uma merda destas deixa-me fora de mim. Darei o que tenho para o tirar de lá. A prisão não é lugar para um marinheiro, um gajo que de prisões só conhece a maior e mais eficaz delas todas. A escolheu, até.

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R. não é bem um marinheiro. É um tipo que sabe que vai desta para melhor em breve (tem uma doença daquelas incuráveis) e antes de morrer quer dar uma volta ao mundo, ou pelo menos uma volta pelo mundo. Merece mais respeito do que muitos filhos da puta que por aí andam. Enfim, digo isto sem o ter sequer visto, mas aposto que tenho razão. Logo veremos.

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Primeiro contacto com as Bahamas: um café onde comi conch fritters melhores do que os do Captain Macks em Bequia. E o vinho custa três dólares e cinquenta. E uma luta para safar um gajo que nunca vi da prisão.

O café tem os vidros fumados, ar condicionado (mas não muito frio) e fica à frente de uns enormes tanques de combustível. É o que mais perto estava do aeroporto.

Preciso de fazer uma chamada para a taxista que me trouxe aqui, mas a dona não deve ter pago a conta do telefone. Vai agora carregar o portátil. É simpática, sorridente, produzida e um bocaduinho gorda, só. Não muito. A comida é boa e o vinho barato.

Quem sabe se há mundos para além disto?

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