22.12.17

Se pudesse

É sempre a mesma palavra: mudança.

Poço: muda tudo e cais no poço, nada muda e dele não sais. Ilusão: muda tudo e fica na mesma. Antes concentrar-te no tempo. Isto é,  no que não muda. Imanente. Perene. Intocável - aquilo que o tempo não toca, nem sequer aflora nem em sonhos, mesmo que o tempo sonhasse -. Somos hoje o que ontem fomos, corrigidos pelo que já éramos quando o tempo passou por nós. Não mudámos: afeiçoámo-nos ao que éramos e ficámos-lhe mais iguais do que já éramos.

Isto é: pele seios mãos pila; olhos. Mãos outra vez, a entrar pelo olhar dentro como um gato a estirar-se ao sol. Pele; uma gargalhada potente precedida por um sorriso. Pele outra vez. Joelhos: os teus apertam-me os meus sustentam-me. Amor, ouve-me: quem disser que mudei mente. Não mudei: amo-te como sempre te amei e quem disser o contrário não sabe do que está a falar.

Eu sei. Falo-te do sono, do amor, da luz e do rio da nossa cidade, do desejo e da paz, de olhar para a frente sabendo que à minha frente estás tu, pele da minha pele, olhar do meu olhar. Sou a mão que te leva a colher à boca da alma; tu és a alma que eu alimentaria se pudesse.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.