18.5.18

Um longo e interminável gin tonic

A ideia apelativa de que é possível separar as coisas umas das outras é irreal. O gin tonic que agora bebes no bar Stop em Paguera está relacionado com o que um dia bebeste não sabes onde nem quando, com a miúda por quem estás pronto a apaixonar-te, se ela quiser, com um livro da Marguerite Duras cujo título falava de Gibraltar, com os teus devaneios em Veneza há quarenta anos. Tudo o que hoje acontece está no fim de uma longa linha que foste paciente mas ignorantemente tecendo ao longo dos anos. A vida é um sono interrompido por meia dúzia de sonhos, mas é sempre o mesmo sono. E se fores a ver bem se calhar até o mesmo sonho.

Mudam os bares e os olhares, as mãos e os ventres, as palavras de uns e outros; mas hoje estás aqui como ontem estavas em Bastimento no Palmar Tent Lodge, no fim de um dia de trabalho a beber um rum punch; ou no Lagoonies a beber outro rum punch que era o mesmo, um prolongamento; já amaste a mulher que hoje amas, a caipirinha que bebias em S. Luis no Bar do Porto ainda não acabou.

Nada nunca acaba. O calor de ontem é o de amanhã, como a sorte, o azar, a dúvida.

Uma longa e interminável dúvida, sempre a mesma. Uma longa e interminável busca. Até os erros são os mesmos, vestidos de cores diferentes: aprendes a mudar-lhes a cor, é tudo.

Sonha; vive; engana-te; aprende; esquece; reaprende; cai; levanta-te; falha; acerta: tudo isso está nesse gin tonic que agora bebes num obscuro bar "familiar" de Paguera.

(Para a L., com um beijo).

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