13.2.20

Diário de Bordos - Genebra, Genebra, Suíça, 13-02-2020

Isto é tudo muito bonito e tal até que o corpo se lembra de que sem ele a festa fica incompleta e hoje me pespegou uma gripe de caixão à cama.

Acho adequado e proporcional: ontem esvaziei uma magnum e meia garrafa de Haut Marbuzet 2014 (não estava sozinho mas os meus hóspedes delegaram em mim grande parte do trabalho insano que é extrair aquela quantidade de vinho das garrafas e metê-la na cabeça, via aparelho digestivo).

De modo estou na cama, à espera de que a gripe se esqueça do vinho. Abafa-te, avinha-te e abifa-te, comanda a sabedoria popular. Obedeçi, claro: sou rapazinho obediente.

O pior da gripe é a hipersensibilidade cutânea. Como se não bastasse a outra, a que me faz chorar por dá cá aquela palha ou comover-me com a beleza das mulheres de Genebra (para a qual contribuí honrosamente).

Verdade seja dita: não há estadia aqui que não inclua estes dois elementos, gripe e Haut Marbuzet. Esta continuidade é reconfortante. Tal como saber que sair daqui a pouco para assinar uns exemplares do livro e acabar o que ficou na garrafa não ajuda à gripe, nunca ajudou. Que se lixe. Há valores inconfrontáveis. A amizade e a gratidão aliadas podem mais do que um estúpido vírus que só acorda com o frio.

E frio está ele: a temperatura oscila entre os zero e os oito graus centígrados. Felizmente, a rede de transportes públicos de Genebra é boa e nunca se está muito tempo na rua. Pergunto-me se o nosso bem amado  presidente da Câmara não devia considerar uma visita rápida aqui, questão de perceber que é possível uma cidade organizar os seus transportes colectivos de modo a servir a população. (Farto de o saber está ele, claro. Só piora as coisas. Mas prefere gastar o dinheiro em idiotices circulares, aquela cabeça é um vazio redondo - pelo menos no que respeita à cidade. Ele deve governar-se bem.)

É preciso ser-se velho para apreciar a Suíça ao seu justo valor.

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O Avenida vai ser traduzido, graças à generosidade de Th. J. (não se limita aos bons vinhos). Não há-de um gajo andar por aí a espalhar lágrimas por tudo quanto é canto. Não há-de um gajo pensar que no jogo de Tetris não é só a sorte que decide? Há-de, claro, mas tem de resistir. Sorte, meu caro, sorte. Levou algum tempo, mas finalmente manifestou-se.

E ainda há quem não goste de pagar adiantado. 

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.