2.4.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 02-04-2020

O frio continua e recomeçou a chuva. Pela primeira vez em muito tempo fui ao Passage Weather: de manhã estávamos mesmo no centro da depressão. Depressões em todo o lado.

Hoje fui parado pela polícia. Foi a primeira vez, estava mesmo à frente de casa; limitei-me a apontar para o cesto das compras - estava cheio - e para a porta de casa, balbuciei qualquer coisa que espero tenha sido tão ininteligível como eu queria que fosse, o homem sorriu-me, fez-me sinal para continuar e ficou por aqui.

Agora apetece-me sair, sem cesto e dizer ao homem - se lá estiver, do que duvido - que vou comprar tabaco. Ou camisas-de-Vénus. Ou rum. Lido pior com a estupidez colectiva do que com a individual. Com esta ainda aguento - pouco, mas aguento. Aquela esfrangalha-me a paciência. Deve ter a ver com a relação difícil que tenho com a autoridade. Já por aqui o disse muitas vezes: a única hierarquia que aceito é a do saber. A estupidez colectiva arvora-se com demasiada facilidade em autoridade. Ponham-lhe um casse-tête nas mãos e um apito na boca, ela não pede senão isso. É como se sente bem: mai-lo uniforme, bonito, de capacete branco ou mesmo - vá lá saber-se - um Pickelhaube. Não há cabeça por esse povo fora que não sonhe com um.

.........
O que sabemos desta pandemia?

- O vírus parece ser extremamente contagioso, mas isso é contraditório com o histórico das infecções pulmonares;
- Ataca sobretudo pessoas de idade, com outras patologias - coração, diabetes, respiratórias;
- Até agora, na Europa (incluindo portanto Itália e Espanha) provocou menos mortes do que a gripe de 2017. Cf. https://www.euromomo.eu/;
- O excesso de mortes (isto é, o nº de mortes acima da média anual para cada país) é tão pequeno que não é detectável (se bem venha provavelmente a sê-lo em breve, mas nunca nas proporções que se andam para aí a acenar);
- Não há diferenças visíveis no nº de mortes entre países que adaptaram diferentes abordagens à crise. Cf. https://ourworldindata.org/covid-mortality-risk.

O que é que não sabemos?
- A taxa de letalidade - quantas pessoas morrem por cada mil infectados (não se sabe isto porque ainda não se sabe o nº real de infectados; o que temos são estimativas e sabemos que elas vão baixar, como baixam em todas as epidemias);

Ou seja: estamos a sacrificar pessoal médico e a dar cabo da economia dos países por uma coisa para a qual já números mais do que suficientes demonstram empiricamente que uma abordagem gradual teria os mesmos efeitos e menos consequências na economia.

Paradoxalmente, os países que adoptaram medidas "laxistas" (para usar o vocabulário dos "especialistas-FB") são aqueles a quem iremos bater à porta quando se tratar de pagar esta loucura toda.

Fique em casa, não se preocupem. Os alemães, os holandeses e os suecos pagar-vos-ão as precauções.

(Obrigado a André Dias e a Henrique Pereira dos Santos.)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.