18.8.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 18-08-2020

A maré está baixa, é certo. Igualmente certo é o desnorte, por muito atenuado que esteja. Ou desoriente, se a palavra existisse. Não existe, mas existe a coisa que ela designaria. Desorientação não é o mesmo, tem demasiadas sílabas. As palavras devem ser concisas e não ter mais letras do que as estrictamente necessárias. Nem as palavras nem nada, com a possível excepção da loucura, que por natureza e definição não pode ser concisa.

Olha a política, que boa seria se não fizesse mais do que o absolutamente necessário. Como está hoje, parece leite a transbordar da chávena demasiado cheia. E esse argumento de que é o que as pessoas querem não serve, cada vez me convenço mais. Querem ter medo, viver aterrorizadas e fazer figuras de parvas? É um direito absoluto e inalienável. Não podem é impingi-lo a todos, dizimar a economia, provocar mortes escusadas e para isso é precisa a intermediação do Estado. Isto é, da política. De chefias. De comando.

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Esta crise tem a fase emocional, onde agora estamos. E a seguir terá sem dúvida uma racional. Rezemos todos para que esta venha depressa. Nunca suportei a estupidez mas a verdade é que até agora só lidei com ela personalizada, individualizada. A estultícia generalizada, erigida em razão - algum louco entra no manicómio pedindo desculpa pelo funil na cabeça? - é pior do que tudo o que jamais pensei. Já vivi em ambientes de loucura colectiva, mas nada nunca que se parecesse com isto. Nem em intensidade nem em longevidade. Quando isto começou pensei que ia durar dois ou três meses. Já lá vão cinco e não se lhe vê o fim.

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Deixemos as tristezas à cidade triste e alegremo-nos com as alegrias que ela nos dá. As mulheres continuam lindas - se bem haja menos delas - o Abrakadabra, o Makaria, a Taskita continuam como dantes eram, o Verão está aí, de peito cheio e noites doces.

O resto que se lixe e torça de inveja.

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Hoje ouvi de todas a mais delirante teoria conspirativa. O vírus vem "do Vaticano. Mas não dos cristãos, não dos católicos. Dos Jesuítas. São eles que estão a orquestrar tudo isto."

A inveja que eu tenho da malta que acredita nestas coisas, simplesmente para não acreditar no humano, demasiado humano...

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