29.8.20

Discrepâncias, medo e drogas

Há uma discrepância enorme, abissal, entre a percepção que a maioria das pessoas faz do vírus e o que os números dizem. Isto em si não é particularmente grave, todos sabemos que o homem é um animal de percepções. Um animal pode fazer e faz muitas coisas que o prejudicam, mas não vê desertos onde há pastos verdes e frescos. O homem gosta de imaginar tragédias onde não as há. Para o animal, o medo é um simples mecanismo de defesa. Para o homem, é uma necessidade ontológica. Há alguma religião que não se baseie no medo? Até o budismo ameaça de downgrading na próxima reencarnação quem não se portar bem nesta. O medo, na humanidade, deixou de ser apenas uma estratégia de defesa, um aviso ao corpo para este produzir adrenalina em doses suplementares. A adrenalina é uma droga barata e o homem viciou-se nela, uns de uma forma outros doutra. 

(Enfim, barata é uma maneira de dizer. É barato a cada pessoa produzi-la, mas os custos colectivos podem ser muito elevados, como se vê.)

O problema é que a humanidade tem tendência a impor as suas percepções aos outros como se fossem verdades absolutas e não são. São verdades relativas. É óbvio que acredito na boa-fé de quem me diz na rua para pôr a máscara. Essa pessoa está intimamente persuadida de que aquele bocado de pano (ou outra matéria qualquer, aquilo não é pano) lhe vai salvar a vida. Infelizmente para mim, ela foi buscar essa convicção algures e a impressão de que ma pode impor ao governo.

É pena não podermos mudar o "algures" - a liberdade da imprensa é fundamental - e termos tão pouco controle sobre o governo.

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