10.11.20

Exageros, divagações e mistificações do dia - Genebra, 10-11-2020.

Preparo uma panela de vinho quente: fenugrec (feno-grego, diz-me um tradutor em linha), cravinho, gengibre (em pó, infelizmente), canela (uma canela esplêndida, directa da Martinica, tal como o feno-grego), cardamoma, um bocadinho de açúcar mascavado, algum tempo ao lume fracote. A ver como fica.

Hoje de manhã foi a vez do coelho à caçador para amanhã. A cozinha liga-me ao mundo, à essência, aos fundamentos, tanto como a palavra, o mar ou a fotografia. Nada a fazer, nada que precise de ser feito ou deva. 

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Plano para a reforma: cancro fulminante.

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Molho improvisado: cebola, alho e alecrim a refogar em manteiga. Aonde é que isto me levará, a que abismo, a que Tártaro? Fogão = Circe? Fogão = Hades? Não inteiramente. Fogão = Cronos.

Exageros.

Adenda: ao refogado inicial veio juntar-se um bocadinho de pasta de tomate, um frasco pequeno de Confettura extra di Cipolle Rosse vindo do Val d'Aosta, meia cerveja Super Bock, um monte de piment d'Espelette, algumas alcaparras e montes de tempo ao lume fraco. É a definição perfeita de improviso. A alegria que se sente quando uma coisa destas fica boa é indescrítivel. Ficou melhor que boa. É quase como fazer amor com uma miúda que não se conhece e sair bem.

Infelizmente, deu-me uma horrível vontade de voltar ao Val d'Aosta, mangiare una fonduta di fontina. O passado é o pior inimigo do presente. Quanto mais passado um gajo tem, mais difícil é o presente, mais é preciso lutar.

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