30.9.21

Diário de Bordos - Cabrera, Baleares, Espanha, 30-09-2021

O dia começou em Colonia de San Jordi e vai acabar em Cabrera. Tive bastante sorte com os passageiros esta época e é portanto natural que me espante com a que tive com este grupo: praticamente impossível pedir melhor, uma vez aceites as limitações habituais (têm trinta anos, conhecem-se desde a faculdade, as pessoas que gostam de música não alugam barcos) e uma específica: vieram sem as mulheres. Estas são as duas razões - suponho - que me fizeram esperar com impaciência o meu aniversário. Têm uma capacidade de beber que me faz lembrar a minha quando tinha a idade deles: todos as noites são de farra até às tantas. A desta noite foi especial e juntei-me a eles. Um tipo decente não pode passar meses a beber água (quase só) e não ceder perante tão razoável pretexto como é celebrar a entrada nos sessenta e quatro anos. A festa foi de arromba, apesar de a provecta idade me ter feito ir para a cama antes dela acabar. Só me apetece dar graças, cantar laudas e esperar muitos mais assim. Reforma? No cemitério terei muito tempo para ela.

«Nous avons toute la vie pour nos amuser
Nous avons toute la mort pour nous reposer», 

cantava o Moustaki, se bem me lembro. Podre de razão, tanto mais que «diversão» e trabalho se sobrepõem como um fato feito à medida no corpo ginasiado de um yuppie.

Esta época deu pano para mangas em novidades e felicidades: desde a maior gorjeta (relativa) de sempre ter vindo de portugueses (realidade um - preconceitos zero, o que põe cada um deles no seu devido lugar. Digo isto tendo em mente que os preconceitos são úteis, necessários, imprescindíveis mesmo. Quanto mais não seja, para serem derrotados pela realidade) e continuando com os grupos que tive, as razões de queixa são poucas. Isto se quisesse queixar-me, claro, coisa que dispenso de alma e coração. Viva la vida, coño y dejate de quejas que no ganas nada con ellas, diria se fosse espanhol. Como não sou mas falo a língua, digo-o na mesma: que se lixem as queixas. Apresenta-as ao teu sindicato, ele está aí para te defender das agruras da existência.

(Cont.)

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.