29.7.22

Diário de Bordos - Málaga, Andaluzia, Espanha, 29-07-2022

As três semanas acabaram por ser só duas. Hallelujah. Aquele proprietário era intragável e o programa chato: trinta, quarenta milhas de navegação diária, noites nos portos. Felizmente o P. D. salvou o trabalho. Sem ele não sei se teria aguentado. Jantaradas e conversas interessantes com alguém que quer genuinamente aprender. Mais um cliente que se transforma em amigo. Espero sinceramente que a compra de um barco na Escandinávia se concretize e a viagem para Portugal idem.

Veio trazer-me a Málaga e como o avião é só às onze e meia da noite fiquei pelo centro. Esta cidade é encantadora. Aluguei uma bicicleta numa loja de holandeses e tenho andado a passear pelos jardins e pela cidade velha, agora transformada em centro turístico, claro. Não encontrei os sítios que conhecia, mas encontrei outros. O passado é um lugar difícil de viver. Acabei no Café Aranda, «fundado em 1932». Se a tabuleta não o dissesse ver-se-ia imediatamente: colunas, candeeiros, paredes, chão, tudo transpira art déco. O café é pequeno, situado entre duas ruas pouco frequentadas - foi isso que me trouxe aqui, de resto - e vai já para o roteiro.

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Em princípio, segunda-feira começo um charter de duas semanas, numa lancha a motor. Não percebi bem a dimensão, mas parece-me que anda pelos cinquenta e qualquer coisa. Uma família, tão pouco sei de onde. Pormenores só amanhã à tarde. Penso no sacana do meu corpo, esse traidor e chego à conclusão de que no fundo não posso queixar-me. A verdade é que eu também o maltrato um bocadinho, por muito bons que sejam os vinhos, os vermutes, os runs, os whiskies e tutti quanti que bebo e ou bebi. Lembro-me da resposta que dei à nutricionista, quando me perguntou como era a minha dieta habitual: «Hidratos de carbono, gorduras animais e álcool».  É natural que a carcaça reaja e me obrigue a adicionar comprimidos e mais comprimidos a esse menu, não é? Não, não é. Quero que a carcaça se lixe. O nascimento do meu neto Leonardo abalou um bocadinho os meus planos para a reforma - um cancro, se possível rápido - mas não o suficiente para dar ouvidos a esta massa de músculos, gordura e orgãos diversos que não me larga, vai para onde eu vou e de vez em quando se manifesta, chateando-me. (Verdade seja dita: manifestações que não chateiem não o são.)

Adenda: isto é uma flagrante mentira.

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Daqui a três semanas vejo o abalador de planos para a reforma. Vem a Palma passar três dias. Viver no passado é difícil, mas o futuro é muito chato, nunca mais chega.

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Adenda: mais um para o roteiro - Antigua Casa de Guardia, Alameda Principal, Málaga.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.