11.2.23

Lama, luz, rum e outras coisas

Tenho um acesso severo de qualquer coisa que me é habitual: mistura de um presente peganhento e um futuro luminoso. Complicado, claro pelo facto singelo e incontornável de que o lamaçal de hoje já foi o luminoso futuro de ontem. Esta mistura de lama e luz torna-se cansativa, a partir do quadringentésimo quinquagési terceiro episódio. Piora quando começo a pensar em quantos faltam ainda. É preciso encontrar um critério, baseado a) na esperança de vida e b) qual o período dessa vida que se deve considerar. Estatisticamente vivi oitenta e quatro por cento da vida que posso esperar viver. Ou seja, para saber quantos episódios lama/luz devo esperar, teria de multiplicar quatrocentos e cinquenta e três por dezasseis e dividir por oitenta e quatro. O resultado desta regra de três simples é oitenta e seis. Mas isso só é válido se considerarmos a totalidade dos anos que vivi até hoje e esse pressuposto parece-me errado. O primeiro episódio não ocorreu à nascença. Que idade teria, quando tão funesta situação me encontrou pela primeira vez? Seria preciso subtrair essa idade à minha idade, perspectiva nada animadora pois vai fazer aumentar a média anual e portanto o número de vezes que ainda posso esperar viver esta situação. É verdade que misturada com a luz a lama se torna mais leve, menos repelente. Mas enfim, é uma simples questão de grau, não de qualidade. Um pântano é um pântano, qualquer que seja o panorama que lhe sucede.

A parte interessante disto é que sendo a vida um fractal este lamacento e luminoso  ciclo se reproduz a todas as escalas - mais vidas houvera, mais ciclos viveria: esta vida está uma merda, mas a próxima, ah, a próxima. Um paraiso de rum e virgens...

(PS à atenção dos senhores que regulam estas coisas; em vez de virgens preferiria senhoras de idade superior a quarenta anos e já, por assim dizer, formadas. E o lugar do rum poderia ser ocupado por uma boa conta bancária, com muitos zeros à direita. Se não for muito transtorno, claro.)

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