23.9.23

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 23-09-2023

Notícias do ecossistema 

Chega a hora da sesta, inexorável (ou inexoravelmente? Qual é a palavra-chave - sesta ou hora? Não sei.) E chegou o Outono, igualmente inevitável. Disfarçado de Verão, pelo menos durante o dia, que à noite não se disfarça de nada. É o que é. Ontem já tive de pôr o cobertor, mesmo antes de o Equinócio chegar, segundo uma das páginas consultadas. 

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As minhas incursões pelo ecossistema continuam mas apercebo-me de que agora têm um duplo sabor, como um gelado com duas bolas, uma amarga e doce a outra, uma quente e outra fria: reencontro e despedida, simultaneamente. Olá adeus, desta sim, estou de passagem. "Não és homem não és nada", repito-me sem parar, "se até ao fim de Novembro não estiveres fora daqui". É batota: quero ir-me embora amanhã de manhã cedo, antes de o Outono chegar em força, antes de o P. explodir em mil pedaços e cobrir esta cidade com um vasto manto de impaciência em micro-bocados de kevlar-carbono. Falta-me a retranca e o registo, convencer o J. W. de que não é preciso fazer um segundo buraco no meu casco adorado, teste de mar e ala, larga tudo. O resto é amendoins. Preciso de um quarto. Hoje comprei um aspirador Nilfisk, quero mudar da Kärcher, só para ver. Quero um quarto até a porra do P. deixar de ser um estaleiro. E até ter a casa de banho a funcionar, ou muito me engano ou vou precisar de uma tampa nova para a retrete, quem é que falou em carrocel? Porque é que não compraste uma tampa nova há cinco amos, quando mandaste vir as juntas? Porque estava boa. Quem é que disse que adora refits? Eu. Come e cala-te. Como e não me calo, esta merda tem de sair, atenuada é certo pelos mexilhões do Dino e pelo vinho branco e pela ideia de que podia estar noutro sítio qualquer. Mal por mal, antes Palma-a-calma, Palma acalma, como quando hoje vinha na BH Glasgow do Leroy Merlin e vi quanto me apazigua esta burra gigante que parece um cavalo a rolar suavemente pelas ruas bem pavimentadas.

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Venho ao Lo Divino. Foi efectivamente o Dino quem ficou com isto. Conheço-o da Fabrique. O mínimo que se pode dizer é que ficou em boas mãos. Está cheio, que bom é ver este restaurante assim. O Fidel não tinha vitello tonnato e de qualquer forma quero lá voltar «outro dia em que o mar seja menos tão sem vento», nas imortais palavras de João Miguel Fernandes Jorge. Um mar sem vento é pior do que um mar tempestuoso. O Divino é um excelente escolha para arribar. Segunda-feira chega o aspirador - o Leroy Merlin solucionou o cruel dilema de saber se levaria aquilo na burra ou se o mandava entregar: não se pode encomendar uma entrega depois de o artigo estar pago. Só antes. Que se lixe. Podia ser pior. 

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A cidade está cheia mas não a abarrotar. Está viva, como devem ser as cidades, as pessoas e o mar, de vez em quando. Fui à Bodega Belver e disse ao homem: «Há muitos anos que não via estaca casa tão cheia». Quase lhe arranquei um esboço, uma pálida sombra de sorriso. Quase.

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A Lua está em quarto crescente. Para um selenita exilado (ou será explanetado?) é a fase favorita: tudo cresce, no crescente. Até o optimismo (não digo esperança: é palavra quase proscrita, como quase).

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