16.10.24

Diário de Bordos - Aeroporto de Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 16-10-2024

Não sei se é o tempo, se a dor, se outra coisa qualquer que tento dissolver em vinho tinto. Sangre de Toro, se faz favor, um vinho que traz com ele vagas de memória semelhantes às da dor no ombro, vagas sem praia aonde chegar. Andam ali pelos respectivos mares, sem areia aonde deixar os traços de espuma que tanto encantam os românticos e os ociosos.

Nunca se sabe bem o que se tenta dissolver, seja lá o que for. Nem porquê. Isto de fazer ao vinho perguntas para as quais ele não tem respostas dá sempre mau resultado. Mais vale bebê-lo em silêncio e agora, não há trinta anos e em diálogo.

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No walk through fui como de costume ao Fahrenheit, outra dessas vagas que anda por aí sem destino. Pus um bocadinho demais. Espero que o meu vizinho no avião goste do cheiro. Se não gostar, explicar-lhe-ei que Fahrenheit é o único perfume que usei (passada a fase Old Spice) e que a minha ex-mulher et al. gostavam muito.

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Hoje fui ao galope do mastro. São quinze metros e foi um desgraçado de um day worker que me subiu. Preveni-o de que não consigo ajudar-me e portanto teria de ser ele a fornecer a energia toda. Custa-me um bocadinho, isto de não conseguir ajudar-me a subir, mas a verdade é que o simples esforço de me manter no mastro enquanto trocava as adriças da genoa foi suficiente para me pôr o ombro aos berros. O rapaz sugeriu-me uma manivela eléctrica. A ver vamos.

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Amanhã vou ao médico. Se alguém um dia me dissesse que ir a uma consulta me encheria de uma alegria que roça (salvo seja) a felicidade tê-lo-ia mandado procurar praias.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.