7.12.25

Diário de Bordos - Fort-de-France, Martinique, DOM-TOM França, 07-12-2025

Venho deixar a Nigist ao terminal de ferries. No caminho, a senhora desfaz-se em agradecimentos e a certa altura oferece-me um pequeno souvenir. Diz-me que o seu filho gosta muito de animais mas que ela me vai oferecer este para que eu me lembre deles. É uma tartaruga. Não há maneira possível no mundo para ela saber que a tartaruga é o meu totem. Estou comovido para além do que é descriptível.

........
Isto dito, eu sei que fiz muito por eles, não vale a pena entrar em falsas modéstias. Mas tão pouco é necessário exagerar: fiz aquilo que penso que devia fazer. Aquilo que a minha humanidade pensa que deve ser feito. «Sou humano e nada do que é humano me é estranho». Brooke (a «mãe adoptiva» deles, senhora de religião), pensa que não. Pensa que eu sou um instrumento de Deus que lhes apareceu. (Nigist pensa a mesma coisa. Queria ter uma conversa teológica comigo, mas eu cortei. Deus não é para aqui chamado.) Brooke é elaborada. Diz que há muitos humanos que fazem mal uns aos outros. É verdade. A humanidade é feita de Bem e do Mal. Assim mesmo, com maiúsculas. Brooke diz «Sim, mas tu és do bem. É uma escolha e tu escolheste-a.» Claro que sim. Escolhi a decência, termo que prefiro a Bem. Uma das provas de que Deus não é para aqui chamado é que é uma luta permanente. Não é uma pomba que nos pousa na cabeça - e às vezes, quando pousa caga-nos em cima. 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.