Há muito tempo que não lia uma observação tão justa sobre a burocracia nacional: "Uma pura perda de tempo, falando com paredes humanas sempre com a lei na ponta da língua mas incapazes de a colocarem ao serviço do interesse colectivo."
30.6.10
Coitados
As contorsões que os defensores do Primeiro-Ministro de José Sócrates têm de fazer são absolutamente magníficas.
Às vezes descobrem-se sinónimos estranhos para "confrangedoras".
Às vezes descobrem-se sinónimos estranhos para "confrangedoras".
Vergonha
O BES votou a favor da venda da Vivo à Telefonica. Estou enganado, ou o Dr. Ricardo Salgado é um dos paladinos dos "centros de decisão nacional"?* Era. Mas enfim, "há países e países". E a lista dos países e países está a aumentar. E Sócrates continua a gozar com o país. É mais ou menos óbvio que quando a Comissão Europeia se pronunciar sobre a legalidade da golden share a venda continua.
Que vergonha faz a falta dela.
* - Isto dito, os "centros de decisão nacional" são-me totalmente indiferentes.
Que vergonha faz a falta dela.
* - Isto dito, os "centros de decisão nacional" são-me totalmente indiferentes.
Ibiza, 300610
De Veneza disse um dia Jean Cocteau que era "uma preta apaixonada morta no banho" ["Un somptueux tir de foire, en miettes, c'est Venise le jour. La nuit, elle est une négresse amoureuse, morte au bain avec ses bijoux de pacotille" in Le Grand Ecart]. Penso sempre nesta magnífica descrição em Ibiza, que me faz pensar numa velha gaiteira com um namorado jovem e novo rico, coberta de jóias de pacotilha. Tudo "já foi"; vê-se que quando foi era bom e bonito. Agora não.
O pior é a música, omnipresente, binária, electrónica (lounge, informa-me fonte bem informada) a estragar qualquer cenário, seja ele bonito ou feio, qualquer momento, aprazível ou não. A vulgaridade.
Salva-se o Bar El Flotante, uma honesta espelunca na Cala Talamanca; e a magnífica viagem até lá. E de lá, qualquer dia.
O pior é a música, omnipresente, binária, electrónica (lounge, informa-me fonte bem informada) a estragar qualquer cenário, seja ele bonito ou feio, qualquer momento, aprazível ou não. A vulgaridade.
Salva-se o Bar El Flotante, uma honesta espelunca na Cala Talamanca; e a magnífica viagem até lá. E de lá, qualquer dia.
27.6.10
Gibraltar, 270610
Quando vim pela primeira vez - e até à quarta ou quinta foi assim - a Gibraltar a cidade era uma ilha de civilização num oceano de barbárie. Hoje a diferença não é tão grande; mas continua a ser uma prova de que o Reino Unido é o país mais civilizado do mundo. Talvez não "o mais"; mas aquele onde a civilização é melhor, onde os seus benefícios melhor coabitam com os seus defeitos, onde ela é mais agradável.
Gibraltar agora é muito mais igual a outras cidades; já não é única, já não se sente a mentalidade de cerco, não há 10,000 soldados a embebedar-se em bares sórdidos, e alguns deles a falar-me dos Steeleye Span ou a ensinar-me truques de copos. Já não se vêem senhoras da Salvation Army a distribuir folhetos sobre a temperança nas ruas; há uma Marina que está sempre cheia e onde sempre, não sei bem como, consigo um lugar. Os banhos públicos, onde um dia confundi "um banho" e "um duche", para grande raiva do senhor que me preparou uma banheira cheia de água amarela - e, mais uma prova de civilização, quando eu lhe expliquei o engano e me propus pagar-lhe recusou - também desapareceram.
Continua a ser um prazer cá vir. Gosto dos pubs - aconselho o Black Friar e o Clipper, este último melhor pela comida e pela escolha de cervejas à pressão, aquele pelo quadro, lindo; as livrarias - há pelo menos duas, o dobro das que havia há alguns anos; de ouvir diálogos que começam em inglês e acabam em espanhol ou, melhor ainda, no dialecto local, tão parecido com o português; gosto, sobretudo, desta ideia de estar entre três mundos: a Espanha, o Reino Unido, Marrocos.
Gibraltar agora é muito mais igual a outras cidades; já não é única, já não se sente a mentalidade de cerco, não há 10,000 soldados a embebedar-se em bares sórdidos, e alguns deles a falar-me dos Steeleye Span ou a ensinar-me truques de copos. Já não se vêem senhoras da Salvation Army a distribuir folhetos sobre a temperança nas ruas; há uma Marina que está sempre cheia e onde sempre, não sei bem como, consigo um lugar. Os banhos públicos, onde um dia confundi "um banho" e "um duche", para grande raiva do senhor que me preparou uma banheira cheia de água amarela - e, mais uma prova de civilização, quando eu lhe expliquei o engano e me propus pagar-lhe recusou - também desapareceram.
Continua a ser um prazer cá vir. Gosto dos pubs - aconselho o Black Friar e o Clipper, este último melhor pela comida e pela escolha de cervejas à pressão, aquele pelo quadro, lindo; as livrarias - há pelo menos duas, o dobro das que havia há alguns anos; de ouvir diálogos que começam em inglês e acabam em espanhol ou, melhor ainda, no dialecto local, tão parecido com o português; gosto, sobretudo, desta ideia de estar entre três mundos: a Espanha, o Reino Unido, Marrocos.
19.6.10
17.6.10
Mais Público
Ainda sobre o Público de hoje: já não tem onze páginas de "Destaque" sobre o futebol (para além das habituais páginas "Desporto", que os jornais portugueses continuam, infelizmente, a considerar sinónimos. No Reino Unido, por exemplo, o Independent tem páginas "Sports" e páginas "Football"). E a crónica de Helena Matos está ao nível do seu melhor.
É forçoso - e agradável - reconhecer que com a excepção dos editoriais, francamente piores, a saída de José Manuel Fernandes não foi a catástrofe que esperava.
É forçoso - e agradável - reconhecer que com a excepção dos editoriais, francamente piores, a saída de José Manuel Fernandes não foi a catástrofe que esperava.
A ler em loop
O Público de hoje (sem ligação disponível) tem uma notável crónica de Esther Mucznik. Tenho pena que não esteja em linha; transcrevo o primeiro parágrafo:
"Em Israel, de onde escrevo esta crónica, há uma interrogação em todos os rostos: Porquê? Porquê esta hostilidade crescente que frisa o ódio, esta condenação unânime e desproporcionada? Porquê este escrutínio obsessivo, esta criminalização permanente? Porque é tão ténue a fronteira entre a crítica política e o questionamento da sua legitimidade nacional? Porquê, apesar dos 1500 correspondentes internacionais e os mil enviados especiais por ano a desinformação é permanente e devastadora? porqu~e esta surdez colectiva, esta selectividade da memória, esta ideologização passional na relação com Israel?"
E o último:
"Comecei esta crónica com uma interrogação. Mas a resposta é óbvia. A história é uma grande mestra."
Tudo o que fica pelo meio deve ser lido, relido e perguntado cada vez que um democrata ocidental (não um anti-semita, claro. É espécie que já não há), defensor desse paraíso da liberdade e da igualdade que é o mundo árabe escreve sobre qualquer coisa que Israel faça, ou não faça.
"Em Israel, de onde escrevo esta crónica, há uma interrogação em todos os rostos: Porquê? Porquê esta hostilidade crescente que frisa o ódio, esta condenação unânime e desproporcionada? Porquê este escrutínio obsessivo, esta criminalização permanente? Porque é tão ténue a fronteira entre a crítica política e o questionamento da sua legitimidade nacional? Porquê, apesar dos 1500 correspondentes internacionais e os mil enviados especiais por ano a desinformação é permanente e devastadora? porqu~e esta surdez colectiva, esta selectividade da memória, esta ideologização passional na relação com Israel?"
E o último:
"Comecei esta crónica com uma interrogação. Mas a resposta é óbvia. A história é uma grande mestra."
Tudo o que fica pelo meio deve ser lido, relido e perguntado cada vez que um democrata ocidental (não um anti-semita, claro. É espécie que já não há), defensor desse paraíso da liberdade e da igualdade que é o mundo árabe escreve sobre qualquer coisa que Israel faça, ou não faça.
15.6.10
Era uma vez um Jardim
Roubo a ideia à Rosa Casimiro; e o título do post : não há outro possível.
"Príncipe Real – António Costa bem pode dizer «o jardim não foi destruído»"
"Recuperação alegadamente exemplar."
"jardim do príncipe real"
"Era assim"
"Príncipe Real – António Costa bem pode dizer «o jardim não foi destruído»"
"Recuperação alegadamente exemplar."
"jardim do príncipe real"
"Era assim"
14.6.10
Cabelos, vida
Os teus cabelos espalhados pela almofada como por uma vida: ambas ficam melhores com eles.
Banqueiros
Os nosso banqueiros? Tão avessos que eles eram ao risco, tão cuidadosos na escolha das empresas que financiavam...
"O mercado está seco"
Um bom conselho
Nas estações de Metro, e nalgumas de comboio, vendem-se por um euro e cinquenta pequenos livros da Quasi. Têm normalmente um ou dois contos por volume, bem seleccionados, de autores excelentes, traduções cuidadas; não deve haver melhor maneira de gastar um euro e cinquenta. Pelo menos não me ocorre nenhuma.
Vida, outra vez
A única coisa boa que se leva desta vida são as pequenas mortes; o que não deixa de ser paradoxal.
Retratos potenciais
Tinha tudo aquilo que constitui uma vida: filhos, emprego, mulher, casa, carro e uma máquina fotográfica com a qual fotografava o conjunto; só lhe faltava a vida propriamente dita.
Fantasmas
"Os fantasmas matinais são os mais seguros" diz Cortazar na "Volta ao Dia em Oitenta Mundos". Ou qualquer coisa parecida; cito de memória. Talvez seja "nítidos": os fantasmas matinais são os mais nítidos. Não. São os mais estúpidos, os atrasados, os que se deixaram apanhar pela luz do dia. Fantasmas, só os da noite merecem nome, reverência e cidadania.
12.6.10
11.6.10
Tânia
"Meio whisky? Mas eu tenho cara de quem bebe meio whisky? Eu não bebo meios, pá; eu bebo duplos, a cair para o triplo". O empregado do bar estarreceu. A miúda era um taco de pia, cara angélica e cabelo em rabo de cavalo - mas falava com uma voz grossa, cavernosa, rouca.
Há coisas que na infância nos parecem importantes. Depois crescemos e deixam - na sua esmagadora maioria - de o ser. Viver é isso, imagino: trocar coisas importantes por outras mais importantes ainda. Mas a troca nunca é total: há partes da infância que nunca desaparecem de um homem, como um escaldão depois de um dia de sol.
O meu fascínio por vozes roufenhas; ou os olhos em amêndoa: quando era miúdo o meu pai lia-me passagens da Peregrinação (nas noites em que estava em casa - a maioria) e quando Fernão Mendes Pinto chegou à Ásia puxava os cantos dos olhos para trás; desde aí os olhos das orientais queimam-me. Enfim.
E depois? Que tem tudo isto a ver com a gaja pequena, chinesa, ou japonesa ou coreana ou coisa daí com voz de sax baixo furado? E que tem isto a ver com uns calções de banho encarnados que tenho vai para vinte anos (nunca deito fora as coisas; são elas que me deitam fora)?
Que tem isto a ver com a infância? Nada.
Que tem isto a ver com calções de banho encarnados que tenho vai para vinte anos?
II
"Que se foda a infância". Que se fodam as trocas; que se foda crescer.
III
Estou na praia com uma chinesa de Macau chamada Tânia em cima de mim e já não caibo nos calções de banho encarnados. Ela diz "fode-me" com uma voz de fazer o Louis Armstrong passar por castrato. Tem um bikini minúsculo que afasta para o lado para me provocar. Rapou os pelos púbicos, vulgo pentelheira, e o efeito é garantido (não por causa da ausência de pelos, mas do contraste de cores).
A relação deve ser essa: o cor-de-rosa da cona que ela me mostra quando afasta o bikini; uma voz que me faz lembrar a minha mãe; as idas à praia familiares em que, depois do almoço, os meus pais se fechavam na barraca e toda a praia ouvia "schiu!" durante meia-hora. E eu ficava encarnado da cor dos calções que hoje uso para dizer "sim".
La boucle est bouclée, como dizem os franceses e os que falam a língua deles.
IV
A única coisa com a qual a infância não tem nada a ver é com uma chinesa em cima de mim a dizer "come-me" e a afastar as bordas do bikini para o lado numa praia qualquer da linha de Cascais, cheia de tias para quem o cúmulo do erotismo é suspirar quando acabam de foder. Ou levantarem leve e sugestivamente o cu, quando querem mais.
Pouco me importa. Sou o que sou, sensível a sons roufenhos e a conas cor-de-rosa, sobretudo se contrastados com uma pele escura.
V
"Isto é amor", dizia ela. "É isto o amor", insistia. Antes de adormecer apercebi-me de uma senhora negra, nua, à minha frente. Mas não sei se foi uma visão, uma memória, ou uma ilusão de óptica. Adormeci depois da foda mais alucinante da minha vida, tântrica antes de conhecer o termo, e a coisa.
(Cont.)
Há coisas que na infância nos parecem importantes. Depois crescemos e deixam - na sua esmagadora maioria - de o ser. Viver é isso, imagino: trocar coisas importantes por outras mais importantes ainda. Mas a troca nunca é total: há partes da infância que nunca desaparecem de um homem, como um escaldão depois de um dia de sol.
O meu fascínio por vozes roufenhas; ou os olhos em amêndoa: quando era miúdo o meu pai lia-me passagens da Peregrinação (nas noites em que estava em casa - a maioria) e quando Fernão Mendes Pinto chegou à Ásia puxava os cantos dos olhos para trás; desde aí os olhos das orientais queimam-me. Enfim.
E depois? Que tem tudo isto a ver com a gaja pequena, chinesa, ou japonesa ou coreana ou coisa daí com voz de sax baixo furado? E que tem isto a ver com uns calções de banho encarnados que tenho vai para vinte anos (nunca deito fora as coisas; são elas que me deitam fora)?
Que tem isto a ver com a infância? Nada.
Que tem isto a ver com calções de banho encarnados que tenho vai para vinte anos?
II
"Que se foda a infância". Que se fodam as trocas; que se foda crescer.
III
Estou na praia com uma chinesa de Macau chamada Tânia em cima de mim e já não caibo nos calções de banho encarnados. Ela diz "fode-me" com uma voz de fazer o Louis Armstrong passar por castrato. Tem um bikini minúsculo que afasta para o lado para me provocar. Rapou os pelos púbicos, vulgo pentelheira, e o efeito é garantido (não por causa da ausência de pelos, mas do contraste de cores).
A relação deve ser essa: o cor-de-rosa da cona que ela me mostra quando afasta o bikini; uma voz que me faz lembrar a minha mãe; as idas à praia familiares em que, depois do almoço, os meus pais se fechavam na barraca e toda a praia ouvia "schiu!" durante meia-hora. E eu ficava encarnado da cor dos calções que hoje uso para dizer "sim".
La boucle est bouclée, como dizem os franceses e os que falam a língua deles.
IV
A única coisa com a qual a infância não tem nada a ver é com uma chinesa em cima de mim a dizer "come-me" e a afastar as bordas do bikini para o lado numa praia qualquer da linha de Cascais, cheia de tias para quem o cúmulo do erotismo é suspirar quando acabam de foder. Ou levantarem leve e sugestivamente o cu, quando querem mais.
Pouco me importa. Sou o que sou, sensível a sons roufenhos e a conas cor-de-rosa, sobretudo se contrastados com uma pele escura.
V
"Isto é amor", dizia ela. "É isto o amor", insistia. Antes de adormecer apercebi-me de uma senhora negra, nua, à minha frente. Mas não sei se foi uma visão, uma memória, ou uma ilusão de óptica. Adormeci depois da foda mais alucinante da minha vida, tântrica antes de conhecer o termo, e a coisa.
(Cont.)
Greve geral
Parece que a mãe de todos os nossos sindicalistas anda a pensar numa greve geral. Não percebo: com os feriados de Junho, o campeonato de futebol e logo a seguir as férias o país está em greve geral durante pelo menos dois meses. Basta-lhe capitalizar.
Futemerda
Hoje começa um campeonato qualquer de futebol na África do Sul. Um mês de merda, na pior das hipóteses. Talvez menos, se a nossa selecção for eliminada precocemente, como alguns especialistas predizem. E eu ardentemente desejo.
Deseo
O nome não é grande coisa, e as garrafas de Bombay Sapphire na montra, vazias, evocam outras coisas. Mas o espaço é giro, a música excelente - e sobretudo o Hêrnani anda por lá, à frente do balcão, simpático e eficaz como sempre, de 5ª a Sábado.
Bar Deseo, Largo de Santos. Abre às 23.
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Bares Lisboa
10.6.10
Retratos potenciais
Tem todos os defeitos do mundo, e nenhuma das qualidades, excepto uma: é inteiro, nos sentidos díspares em que um cavalo, ou um bloco de granito o são.
Ninguém gosta dele, claro: quem percebe de defeitos só vê os todos que tem; os que percebem de qualidades, as que lhe faltam. Só inteiros se percebem e apreciam; são poucos, e poucas.
Ninguém gosta dele, claro: quem percebe de defeitos só vê os todos que tem; os que percebem de qualidades, as que lhe faltam. Só inteiros se percebem e apreciam; são poucos, e poucas.
Surpresa, surpresa
Com textos destes estou em crer que a senhora não vai lá. Não é propriamente uma surpresa.
9.6.10
"Chasseurs d'impossible"
"Alors, mettons-nous en mouvement, donnons libre cours à nos émois et partons à la recherche de nous-même et de ce qui fût notre mère patrie. Quelque part, ne l'oublions pas, nous sommes des chasseurs d'impossible."
(Boualem Sansal, in "Petit éloge de la mémoire", Ed. Gallimard, 2007, Collection Folio)
8.6.10
Jantar improvisado - Frango para a leoa
O meu livro de receitas favorito chama-se "La cuisine d'amour". O amor é o ingrediente principal de qualquer receita; sem ele, o jantar fica pior do que sem sal, do que aguado, do que spaghetti demasiado cozido, do que um dia sem vento; pior - diria um fumador francês - do que dia sem tabaco.
Comece-se com um frango do campo cortado aos bocadinhos e frito uma frigideira; ao lado, num tacho, refogam cebolas encarnadas, pimentos idem (era dia de esquerdismo, vá saber-se), aipo em quantidade, alho en chemise e um chouriço de sangue. Estando os dois a ponto misturam-se (no tacho, claro, cela va sans dire) e regam-se com cerveja até estarem cobertos, coitados. Junta-se um bocadinho de água, não vão as vizinhas pensar coisas. Tempera-se: cravinho, noz moscada, ervas provençais, paprika, um bom molho de salsa, grande e cheiroso.
Deixa-se cozer, enquanto se tratam de diversas ocupações domésticas: comer uma morcela de arroz divinamente frita; e outras tarefas, variadas.
Um pouco antes, juntam-se as batatas, cortadas aos bocadinhos. Acompanha-se com um bom Dão. Sem amor talvez fique bom. É possível. Não sei, nunca experimentei.
Comece-se com um frango do campo cortado aos bocadinhos e frito uma frigideira; ao lado, num tacho, refogam cebolas encarnadas, pimentos idem (era dia de esquerdismo, vá saber-se), aipo em quantidade, alho en chemise e um chouriço de sangue. Estando os dois a ponto misturam-se (no tacho, claro, cela va sans dire) e regam-se com cerveja até estarem cobertos, coitados. Junta-se um bocadinho de água, não vão as vizinhas pensar coisas. Tempera-se: cravinho, noz moscada, ervas provençais, paprika, um bom molho de salsa, grande e cheiroso.
Deixa-se cozer, enquanto se tratam de diversas ocupações domésticas: comer uma morcela de arroz divinamente frita; e outras tarefas, variadas.
Um pouco antes, juntam-se as batatas, cortadas aos bocadinhos. Acompanha-se com um bom Dão. Sem amor talvez fique bom. É possível. Não sei, nunca experimentei.
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Receitas
5.6.10
4.6.10
Territorialidade simplex
Portugal é um país de quintinhas, há muito o sabemos; mas que a tradição de territorialidade das capitanias dos portos se mantenha a este ponto é inconcebível. Cada capitania é uma fortaleza, dentro da qual só o respectivo capitão do porto manda. E qualquer tentativa de explicar que se está a lidar com entidades e não com pessoas está votada ao simplex real: "não".
Uma iniciativa louvável
Vão de certeza acusar o senhor de tudo e mais alguma coisa, e quem aprovar também; mas eu acho a iniciativa louvável e aprovo-a inteiramente.
"Eurodeputado Rui Tavares cria bolsas de estudo a partir do próprio bolso"
West coast simplex propaganda, vírgula, propaganda
Portugal, o país do Simplex e da Europe's West Coast, pagou milhões de euros por uma campanha publicitária no estrangeiro sobre talento e não sei que mais e modernismo e coisas assim. Pergunto-me se esse dinheiro não teria sido melhor utilizado a adaptar a legislação aos tempos modernos. Experimentem registar um bote numa capitania e percebem o que quero dizer.
West Coast? Sim, mas de África.
West Coast? Sim, mas de África.
3.6.10
"em nenhum lugar"
Na Galeria Arthobler uma soberba exposição (isto é quase um pleonasmo, "soberba exposição" e Arthobler") de um jovem artista português sobre a cidade, a paisagem, a arquitectura e as suas representações. A Arthobler é (quanto a mim, que sou suspeito de proximidade) uma das galerias mais estimulantes de Lisboa, e esta exposição é uma das que mais me agradou, de todas as que lá vi.
Uma pergunta inocente (quase humanitária) sobre opções laborais
Recentemente, na caixa de comentários de um blogue onde escreve um deputado - que deve de resto ser uma pessoa simpática, amável e honesta - escrevi que o país ganharia se os deputados, em vez de trabalharem oito longos anos para terem direito à reforma por inteiro, fossem enviados para casa logo depois de eleitos.
Era uma boutade, claro: o ideal seria que começassem a trabalhar como deve ser. Dado que amanhã não é decerto a véspera nem de uma coisa nem de outra, deixo aqui uma pergunta.
A legislação que rege o sector da náutica de recreio é - isto é consensual - inadaptada. Essa legislação, em conjunto com a proverbial propensão da burocracia portuguesa para, em caso de incerteza, optar sempre pela interpretação mais complicada, mais cara, mais prejudicial e, ou, mais abstrusa, faz com que o nosso país, apesar das suas magníficas condições, não tenha expressão no sector da náutica de recreio (que não é só, recordo, um passatempo de meninos ricos: é uma indústria que dá trabalho a centenas de milhar de pessoas e gera milhares de milhões de euros em impostos).
A minha pergunta é: por que raio de carga de água um país como Portugal conseguiu aprovar a lei dos casamentos homossexuais em tempo recorde, e anda há dezenas de anos para fazer uma lei que funcione para um sector que poderia ser tão gerador de riqueza como o da náutica de recreio?
Era uma boutade, claro: o ideal seria que começassem a trabalhar como deve ser. Dado que amanhã não é decerto a véspera nem de uma coisa nem de outra, deixo aqui uma pergunta.
A legislação que rege o sector da náutica de recreio é - isto é consensual - inadaptada. Essa legislação, em conjunto com a proverbial propensão da burocracia portuguesa para, em caso de incerteza, optar sempre pela interpretação mais complicada, mais cara, mais prejudicial e, ou, mais abstrusa, faz com que o nosso país, apesar das suas magníficas condições, não tenha expressão no sector da náutica de recreio (que não é só, recordo, um passatempo de meninos ricos: é uma indústria que dá trabalho a centenas de milhar de pessoas e gera milhares de milhões de euros em impostos).
A minha pergunta é: por que raio de carga de água um país como Portugal conseguiu aprovar a lei dos casamentos homossexuais em tempo recorde, e anda há dezenas de anos para fazer uma lei que funcione para um sector que poderia ser tão gerador de riqueza como o da náutica de recreio?
Um mundo melhor
Se eu percebo bem os críticos de Israel, se o país desaparecesse e aquele território fosse governado, por exemplo, pelo Hamas, o mundo tornar-se-ia imediatamente um lugar melhor: mais democrático, mais próspero, mais pacífico, menos corrupto; a causa dos homossexuais daria um gigantesco passo em frente, tal como a das mulheres. Um estado de direito, a lei teriam, finalmente, lugar num país do Médio Oriente.
Sem dúvida.
Sem dúvida.
"Israel rejeita investigação ao ataque à frota humanitária"
É inaceitável. Israel recusa que os seus actos sejam investigados por países como (entre outros) Angola, Egipto, China, Arábia Saudita, Kirguistão, Federação Russa, Cuba... Isto apesar de serem países reconhecidos pelo seu respeito pelos direitos humanos, pela sua independência face a Israel, e - sobretudo - por serem total, incondicional, permanentemente abertos a investigações e a escrutínios por países terceiros e organismos internacionais.
(Aqui)
(Aqui)
Aspas
Sobre esta história da frota "humanitária" (patrocinada, lembro aos mais distraídos, por uma organização terrorista e que fez do fim de Israel o seu objectivo nº1 e a sua razão de ser) continuo a ver muitas vezes "humanitária" sem aspas. O que me leva a pensar que as pessoas o fazem por uma de duas razões: ou acreditam que o objectivo daquela acção era humanitário; ou querem atirar areia para os olhos de quem as lê. Ela por ela, prefiro a segunda hipótese. É-me mais fácil lidar com a má-fé do que com a estupidez (é uma escolha, ou um drama, pessoal).
PS - esta fotografia é magnífica:
(Ahmet Davutoglu, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia)
(Daqui)
PS - esta fotografia é magnífica:
(Ahmet Davutoglu, Ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia)
(Daqui)
Finalmente
A Assembleia da República revogou, FINALMENTE, o contrato de prolongamento da concessão. Esperemos que agora a APL, o Governo e - sim - a Câmara Municipal de Lisboa se apercebam de que há muitas formas de "dinamizar" o Porto de Lisboa; e que um terminal de contentores em pleno centro da cidade talvez não seja a melhor.
"Lisboa/Contentores: Câmara reitera importância de "não prejudicar" dinamização do porto"
"Lisboa/Contentores: Câmara reitera importância de "não prejudicar" dinamização do porto"
2.6.10
Empurrada
Coitada da Turquia. Foi naturalmente a contragosto que ela aceitou servir de base à operação do Hamas - deixou-se empurrar, também, sem dúvida.
1.6.10
Desaparecer
Os estúpidos dos israelitas ainda não perceberam que a única coisa que podem fazer para ter a aprovação do "mundo" é desaparecer. Tudo o que fizerem para evitar esse fim feliz será, sempre e seja o que for, condenado pela imparcial "comunidade internacional".
Ou, dito de outra forma: instados a escolher entre desaparecer e obter a aprovação internacional uma vez, uma vez só que seja, os estúpidos dos israelitas não escolhem esta última opção e decidem existir.
Ou ainda: a Turquia, um país que é o farol dos direitos humanos, um país onde os curdos são tratados como se estivessem em casa acha que Israel é um estado terrorista.
Ou, dito de outra forma: instados a escolher entre desaparecer e obter a aprovação internacional uma vez, uma vez só que seja, os estúpidos dos israelitas não escolhem esta última opção e decidem existir.
Ou ainda: a Turquia, um país que é o farol dos direitos humanos, um país onde os curdos são tratados como se estivessem em casa acha que Israel é um estado terrorista.
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