Dizem que temos de aumentar as exportações. A verdade é que nós já exportamos o que temos de melhor: pessoas. Às centenas de milhar.
30.9.10
Selvajaria injusta.
Só não percebo porque é que a lei dos mercados só é selvagem com certos países e não com outros.
"Com o travo amargo da injustiça de, apesar de fundamentais reformas feitas ainda antes de todos os outros países e da crise eclodir, nos acharmos hoje neste “estado de necessidade” pela selvajaria da lei dos mercados, que esta UE dominada pela direita neo-liberal não tem querido controlar."
(Via O Insurgente)
"Com o travo amargo da injustiça de, apesar de fundamentais reformas feitas ainda antes de todos os outros países e da crise eclodir, nos acharmos hoje neste “estado de necessidade” pela selvajaria da lei dos mercados, que esta UE dominada pela direita neo-liberal não tem querido controlar."
(Via O Insurgente)
Jornal de Notícias
O Jornal de Notícias de hoje tem quatro excelentes artigos: os de Pedro Lains; Marina Costa Lobo; Nuno Garoupa e (como sempre) Camilo Lourenço.
Eu renuncio
Neste momento de aflição em que todos temos de dar as mãos e deixar de olhar só para o nosso umbigo, correspondo ao apelo de quem nos governa e de quem apoia quem nos governa, faço pública parte da lista do que o Estado criou e mantém para minha felicidade, e de que de estou disposto a patrioticamente prescindir.
Assim:
Seria fastidioso alongar-me nas coisas que o Estado criou para o meu bem estar e que me disponho a não mais poder contar. E lanço um desafio aos leitores do 4R : renunciem também! Apoiemos todos, patrioticamente, o governo a ajudar o País nesta hora de aflição. Portugal merece.
Assim:
- Renuncio a boa parte dos institutos públicos criados com o propósito de me servir;
- Renuncio à maior parte das fundações públicas, privadas e áquelas que não se sabe se são públicas se privadas, mas generosamente alimentadas para meu proveito, com dinheiros públicos;
- Renuncio a ter um sector empresarial público com a dimensão própria de uma grande potência, dispensando-me dos benefícios sociais e económicos correspondentes;
- Renuncio ao bem que me faz ver o meu semelhante deslocar-se no máximo conforto de um automóvel de topo de gama pago com as minhas contribuições para o Orçamento do Estado, e nessa medida estou disposto a que se decrete que administradores das empresas públicas, directores e dirigentes dos mais variados níveis de administração, passem a utilizar os meios de transporte que o seu vencimento lhes permite adquirir;
- Renuncio à defesa dos direitos adquiridos e à satisfação que me dá constatar a felicidade daqueles que, trabalhando metade do tempo que eu trabalhei, garantiram há anos uma pensão correspondente a 5 vezes mais do que aquela que eu auferirei quando estiver a cair da tripeça;
- Renuncio ao PRACE e contento-me com uma Administração mais singela, compacta e por isso mais económica, começando por me resignar a que o governo seja composto por metade dos ministros e secretários de estado;
- Renuncio ao direito de saber o que propõem os partidos políticos nas campanhas pagas com milhões e milhões de euros que o Estado transfere para os partidos políticos, conformando-me com a falta de propaganda e satisfazendo-me com a frugalidade da mensagem política honesta, clara e simples;
- Renuncio ao financiamento público dos partidos políticos nos actuais níveis, ainda que isso tenha o custo do empobrecimento desta democracia, na mesma mesmísisma medida do corte nas transferências;
- Renuncio ao serviço público de televisão e aceito, contrariado, assistir às mesmas sessões de publicidade na RTP, agora nas mãos de um qualquer grupo privado;
- Renuncio a mais submarinos, a mais carros blindados, a mais missões no estrangeiro dos nossos militares, bem sabendo que assim se põe em perigo a solidez granítica da nossa independência nacional e o prestígio de Portugal no mundo;
- Renuncio ao sossego que me inspira a produtividade assegurada por mais de 230 deputados na Assembleia da República, estando disposto a sacrificar-me apoiando - com tristeza - a redução para metade dos nossos representantes.
- Renuncio, com enorme relutância, a fazer o percurso Lisboa-Madrid em 3h e 30m, dispondo-me - mesmo que contrariado mas ciente do que sacrificio que faço pela Pátria - a fazer pelo ar por metade do custo o mesmo percurso em 1 h e picos, ainda que não em Alta Velocidade.
- Renuncio ao conforto de uma deslocação de 50 km desde minha casa até ao futuro aeroporto de Lisboa para apanhar o avião para Madrid em vez do TGV, apesar da contrariedade que significa ter de levantar voo e aterrar pertinho da minha casa.
- Renuncio a mais auto-estradas, conformando-me, com muito pena, com a reabilitação da rede nacional de estradas ao abandono e lastimando perder a hipótese de mudar de paisagem escolhendo ir para o mesmo destino entre três vias rápidas todas pagas com o meu dinheiro, para além de correr o triste risco de assistir à liquidação da empresa Estradas de Portugal.
Seria fastidioso alongar-me nas coisas que o Estado criou para o meu bem estar e que me disponho a não mais poder contar. E lanço um desafio aos leitores do 4R : renunciem também! Apoiemos todos, patrioticamente, o governo a ajudar o País nesta hora de aflição. Portugal merece.
Talkie talkie
Em Portugal andamos há anos a falar do hipercluster do mar (que é uma grande ideia, de resto). Na Polónia falam menos, muito menos.
Se por acaso
Desmitos.
A Douta Ignorância.
A Douta Ignorância.
Eu não sou economista e foi a primeira coisa que pensei. É bom ver um achismo confirmado.
Imprecisão
“O povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre”. Almeida Santos devia ter acrescentado "e os seus amigos". Ficaria assim: "O povo tem que sofrer a crise como o Governo e os seus amigos a sofrem".
Mas forçoso é reconhecer que já é um grande passo em frente, o que o senhor disse.
Mas forçoso é reconhecer que já é um grande passo em frente, o que o senhor disse.
29.9.10
Náuseas
Vi o homem na televisão e fiquei um bocadinho nauseado. Citando um post no FB (não sei linkar): "Afinal de contas ainda descobriu uns quantos milhões do lado da despesa. Não se percebe é porque andou este tempo todo em estado de negação e agora aparece com o semblante grave como se carregasse o mundo às costas para nos salvar do abismo. Carrega a sua arrogância e as suas asneiras, o que só por si não é nada leve. Onde é que andarão as políticas de investimento público que tanto jogou à cara da MFL."
Pergunto-me como é que os Jugulares, Abrantes et al. vão reagir.
Pergunto-me como é que os Jugulares, Abrantes et al. vão reagir.
Desilusão
Espero, sinceramente, que Passos Coelho me desiluda uma vez mais e mantenha o que diz. Far-me-ia mudar a fraca opinião que tenho dele - para melhor, claro. É sempre bom descobrir que estamos enganados.
Mas acredito pouco, infelizmente.
Mas acredito pouco, infelizmente.
Hoje na rua
Hoje na rua vi bandos de estudantes com latas aos pés a pedir dinheiro para penicos de plástico. Eram caloiros e aquilo faz, aparentemente, parte da praxe. Eu não percebo como é que jovens adultos aceitam participar em práticas degradantes, humilhantes, rídiculas e confrangedoras; e em rebanho, ainda por cima. É inquietante.
Hoje na rua vi um senhor dos seus 60 anos com uma saia de jeans e saltos altos. Vinha acompanhado pela mulher, creio; pelo menos parecia. Pensei "é a primeira vez que vejo um homem de saias", e ocorreu-me imediatamente que não é: há uns anos em Genève e em Zürich apareciam ocasionalmente. A diferença é que eram jovens. Ou seja: hoje vi pela primeira vez um homem de 60 anos com saias e saltos altos. Não foi fácil. A relação do liberalismo com o hábito é muito mais tensa do que pensamos.
Hoje na rua vi prédios num estado de degradação inacreditável. Mas isto vejo todos os dias; estranho é que ainda os veja, e ainda me revolte.
Hoje na rua vi um senhor dos seus 60 anos com uma saia de jeans e saltos altos. Vinha acompanhado pela mulher, creio; pelo menos parecia. Pensei "é a primeira vez que vejo um homem de saias", e ocorreu-me imediatamente que não é: há uns anos em Genève e em Zürich apareciam ocasionalmente. A diferença é que eram jovens. Ou seja: hoje vi pela primeira vez um homem de 60 anos com saias e saltos altos. Não foi fácil. A relação do liberalismo com o hábito é muito mais tensa do que pensamos.
Hoje na rua vi prédios num estado de degradação inacreditável. Mas isto vejo todos os dias; estranho é que ainda os veja, e ainda me revolte.
O governo fedorento dos gatos
Há dias vi, creio que no Facebook, alguém a perguntar "onde andam os Gatos Fedorentos?". A resposta é: estão no governo.
"Documentação exigida aos pastores transumantes e a entregar quase exclusivamente pela net:«Para a instrução do licenciamento da área de pasto, cada produtor tem de entregar um formulário com descrição exaustiva da actividade e da exploração pecuária, a caracterização da Parcela Valorização Agrícola (gestão dos efluentes pecuários), uma Declaração de Responsabilidade Sanitária, uma Declaração de Responsabilidade pelos Animais e uma Declaração do Produtor (do proprietário da exploração onde se localizam os pastos). (…) Além destes documentos, cada o pastor está também obrigado a manter um registo de existências e deslocações, actualizado semanalmente, e onde devem constar, entre outros elementos, uma planta em escala não inferior a 1:25.000, indicando a localização das instalações da actividade pecuária e abrangendo um raio de um quilómetro, com a indicação da zona de protecção e da localização de outras edificações envolventes.»"
"Documentação exigida aos pastores transumantes e a entregar quase exclusivamente pela net:«Para a instrução do licenciamento da área de pasto, cada produtor tem de entregar um formulário com descrição exaustiva da actividade e da exploração pecuária, a caracterização da Parcela Valorização Agrícola (gestão dos efluentes pecuários), uma Declaração de Responsabilidade Sanitária, uma Declaração de Responsabilidade pelos Animais e uma Declaração do Produtor (do proprietário da exploração onde se localizam os pastos). (…) Além destes documentos, cada o pastor está também obrigado a manter um registo de existências e deslocações, actualizado semanalmente, e onde devem constar, entre outros elementos, uma planta em escala não inferior a 1:25.000, indicando a localização das instalações da actividade pecuária e abrangendo um raio de um quilómetro, com a indicação da zona de protecção e da localização de outras edificações envolventes.»"
28.9.10
Discutir, opinião, gosto
De qualquer forma, se não discutirmos opinões e gostos, o que discutimos? O que comparamos, quando não comparamos opiniões?
Raban
Prometi que escrevia um texto sobre Passage to Juneau, de Raban. Ainda não o fiz: não é por preguiça, é por realismo.
Negação
Há pessoas que não gostam de lavar a loiça; não posso deixar de as admirar (e lamentar, de certa forma): um gajo não faz outra coisa senão lavar loiça. Melhor seria gostarem.
Firmeza
João Galamba, um deputado socialista que, no voto de condenação da França no caso da expulsão dos ciganos preferiu abandonar o Parlamento a votar contra as indicações do seu partido fala, neste post, de firmeza.
Firmeza. Repare-se: ele podia ter ficado e acatado as ordens, porque concordava com elas; ou votado contra, como Sérgio Sousa Pinto. Não: preferiu ser firme e abandonar a sala.
Firmeza. Isto num jovem de pouco mais de 30 anos que está a começar a sua vida política.
Firmeza. Se fosse ele esquecia essa palavra, e todos os seus sinónimos.
Firmeza. Repare-se: ele podia ter ficado e acatado as ordens, porque concordava com elas; ou votado contra, como Sérgio Sousa Pinto. Não: preferiu ser firme e abandonar a sala.
Firmeza. Isto num jovem de pouco mais de 30 anos que está a começar a sua vida política.
Firmeza. Se fosse ele esquecia essa palavra, e todos os seus sinónimos.
Pelos púbicos femininos: uma perspectiva política (e saudosista)
Que saudades tenho dos pelos púbicos das senhoras de esquerda (não é preconceito, é estatística) que os usavam, sem ofensa, como as francesas em geral e as alemãs alternativas usavam os dos sovacos. Aquelas magníficas vistas de densas florestas tropicais, onde hoje, à direita, só há planícies (vá lá, colinas) lindas, mas lisas, escanhoadas; savanas.
Insónias
A vantagem de uma insónia urbana sobre uma campestre é que a primeira tem, normalmente, uma boa solução na rua ao lado.
27.9.10
Elegância
Nada é mais elegante, mais indispensável, do que uma deselegância propositada, uma deselegância vinda de alguém que sabemos elegante, fino, gracioso.
26.9.10
Sopa de cenoura - uma receita de leão
A ideia é fazer uma sopa de cenoura para quem não gosta de cenoura (e pouco de sopa). É fácil: um quilo de cenoura cortada às rodelas, 2 cebolas grandes idem, um ou dois alhos (há uma cumplicidade evidente entre a cenoura e o alho, quanto mais não seja ao nível das formas), uma boa noz de manteiga. Água: nenhuma, nil, nem uma gota (qu'elles cuisent dans leur jus, diria um francês). Deixa-se cozinhar em lume muito brando; quando está cozido liquidifica-se com a varinha mágica, acrescenta-se leite e deixa-se cozer mais um bocadinho.
Vou continuar a não gostar de cenoura - excepto, claro, se for feita assim.
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Receitas
25.9.10
Salvar a face, perder o país
O objectivo deste governo é mais salvar a face do que governar.
"TGV: Governo mantém intenção de construir linha Lisboa-Madrid, diz ministro"
"TGV: Governo mantém intenção de construir linha Lisboa-Madrid, diz ministro"
Outono / Inverno
Um pequeno passeio entre o Príncipe Real e o Chiado é suficiente para um tipo ver que as miúdas vão andar giras, este Outono / Inverno. Cinzentos largos, arredondados, sensuais. Que venha depressa.
24.9.10
O lixo e a separação
Às vezes vêm pessoas a minha casa e perguntam-me se eu não "separo o lixo". Confesso que não as percebo, porque me perguntam isso precisamente quando estou a pôr o lixo no caixote; isto é, a separá-lo.
Sensations
Hoje,num blog muito giro chamado My Shelf and I, descobri esta música.
É muito boa, e trouxe-me à memória um dos raros grupos de música moderna que conheço e de que gosto, os Swayzak.
É muito boa, e trouxe-me à memória um dos raros grupos de música moderna que conheço e de que gosto, os Swayzak.
Desconchavadas pimbas
O frango não tinha sal e o arroz não tinha arroz: era pouco. Corrigi um e deixei o outro como estava; que me interessa, saber se o arroz é escasso ou não. O Eugénio de Almeida é um vinho fácil: acompanha qualquer coisa, mesmo arroz à pouco. Uma família de indianos mudou-se para a casa em frente - lembras-te dela? A dos trolhas que nos impediam de sair nus do quarto e vir para a sala fumar o primeiro cigarro. Espero que os monhés sejam menos curiosos, e não passem o dia a olhar para a nossa (enfim, nossa, claro; isto passa-se no antigamente) janela. Não resisti e pus um disco da Jeanne Lee, de que tu gostavas tanto, e logo a seguir o do Celentano a cantar-te o nome, e a insolência, o humor:
Quando nos conhecemos disseste-me que estudaste em Roma, mas era mentira. Nunca puseste um pé em Itália. Aliás acho que nunca puseste um pé fora de Portugal, não é? Conhecias o Alentejo e o Algarve, quando muito, e puseste-te em mim como no circo os artistas num cavalo a galope: de pé às voltas e voltas na pista. Só que a pista não era nada do que tu dizias; e eu galopava, galopava, galopava, tão orgulhoso de ti, tão loira, tão bonita, tão presente.
É verdade: um par de mamas bonitas faz-me correr como um cavalo louco. Estás no cinema, não é? Tu.
Mentira, tudo. Eras italiana e amei-te algures na Alemanha. Depois do amor traduzias-me as músicas pimba dos italianos. Um dia convidaste-me para jantar e fizeste-me frango insonso com arroz. O arroz não chegou para os dois: "não estou habituada. Faço massa quase todos os dias e pensei que talvez não gostasses". "Gosto, sim. Mas não faz mal. Trouxe um vinho português que é como os teus olhos, redondo e vai bem com tudo e espero que gostes de vinho tinto". "Gosto, claro. Sou italiana". "Eu sei". "Gosto muito de ti". "Eu sei".
"Eu sei". Foi por aí que começámos, e por aí acabámos. "Vou-me embora". "Eu sei". "Gostei muito de te conhecer". "Eu sei". "Adeus". "Eu sei".
Não sabia nada. A única coisa que sabia era que tinhas as mamas mais bonitas que jamais vi numa mulher; e que passaria o resto da minha vida a pensar nelas.
Mentira. Um dia esqueci-as; e agora só me lembro de ti, toda.
Quando nos conhecemos disseste-me que estudaste em Roma, mas era mentira. Nunca puseste um pé em Itália. Aliás acho que nunca puseste um pé fora de Portugal, não é? Conhecias o Alentejo e o Algarve, quando muito, e puseste-te em mim como no circo os artistas num cavalo a galope: de pé às voltas e voltas na pista. Só que a pista não era nada do que tu dizias; e eu galopava, galopava, galopava, tão orgulhoso de ti, tão loira, tão bonita, tão presente.
É verdade: um par de mamas bonitas faz-me correr como um cavalo louco. Estás no cinema, não é? Tu.
Mentira, tudo. Eras italiana e amei-te algures na Alemanha. Depois do amor traduzias-me as músicas pimba dos italianos. Um dia convidaste-me para jantar e fizeste-me frango insonso com arroz. O arroz não chegou para os dois: "não estou habituada. Faço massa quase todos os dias e pensei que talvez não gostasses". "Gosto, sim. Mas não faz mal. Trouxe um vinho português que é como os teus olhos, redondo e vai bem com tudo e espero que gostes de vinho tinto". "Gosto, claro. Sou italiana". "Eu sei". "Gosto muito de ti". "Eu sei".
"Eu sei". Foi por aí que começámos, e por aí acabámos. "Vou-me embora". "Eu sei". "Gostei muito de te conhecer". "Eu sei". "Adeus". "Eu sei".
Não sabia nada. A única coisa que sabia era que tinhas as mamas mais bonitas que jamais vi numa mulher; e que passaria o resto da minha vida a pensar nelas.
Mentira. Um dia esqueci-as; e agora só me lembro de ti, toda.
Antevisão
Uma vez descobri quanto iria sofrer com a tua ausência. Era uma noite triste, fria. Na rua um automóvel businava desesperadamente: alguém o tinha entalado. Tu estavas no cinema, e de repente percebi que um dia o filme não teria fim.
Não posso buzinar para que me venham tirar da minha tristeza; e não há lã que nos proteja de certos frios.
Não posso buzinar para que me venham tirar da minha tristeza; e não há lã que nos proteja de certos frios.
Pergunta quase (espero, em breve) desinteressada
Alguém me sabe dizer se isto é doença, incompetência, loucura pura, mitomania simples?
"Sócrates recusa reduzir défice só com cortes na despesa"
"Sócrates recusa reduzir défice só com cortes na despesa"
Pergunta e resposta
Poderia escrever-te para te dizer que não sei o que escrever-te; mas não te escrever diz a mesma coisa, não é?
Não.
Não.
Graça
Uma vez namorámos aqui, no alto do jardim. Tínhamos Lisboa e o desejo aos pés. No lago há uma praia de pedra, onde vêm morrer vagas que não existem. Depois levantámo-nos e beijámo-nos debaixo da bandeira. "Já viste?, tem a área de um apartamento", disse-te. "Nem penses nisso", respondeste. Nunca mais falámos nisso. Desde aí limitámo-nos às árvores, das quais tu me ensinavas os nomes; e às flores, que me davas a cheirar nos jardins.
Um dia falaste-me de uma árvore cujos ramos abanam como se estivessem a dizer adeus, e foste-te embora. Nunca mais te vi, até hoje. Passaste por mim apressada, como se estivesses a dizer-me "adeus". Mas não foi isso que disseste. Foi: "Que fazes nos meus domínios?". Estávamos perto da bandeira, e de tua casa.
Até te conhecer não sabia nada da graça das plantas; não sabia nada da graça, tout court.
Um dia falaste-me de uma árvore cujos ramos abanam como se estivessem a dizer adeus, e foste-te embora. Nunca mais te vi, até hoje. Passaste por mim apressada, como se estivesses a dizer-me "adeus". Mas não foi isso que disseste. Foi: "Que fazes nos meus domínios?". Estávamos perto da bandeira, e de tua casa.
Até te conhecer não sabia nada da graça das plantas; não sabia nada da graça, tout court.
22.9.10
Selecção natural
Um dos piores momentos das mudanças é a escolha - o que levar, o que guardar, o que deitar fora? Sugiro um método infalível: colocam-se todos os objectos, indiscriminadamente e sem qualquer espécie de protecção, em caixas.
Em seguida põem-se essas caixas no veículo que as levará para o putativo destino.
As que chegarem inteiras devem guardar-se; as outras devem deitar-se fora, porque não foram capazes de se adaptar à mudança.
Em seguida põem-se essas caixas no veículo que as levará para o putativo destino.
As que chegarem inteiras devem guardar-se; as outras devem deitar-se fora, porque não foram capazes de se adaptar à mudança.
21.9.10
Maldade, bondade
Só quem é capaz de maldade pode ser bom; ou melhor: só de quem sabemos que pode ser mau devemos pensar que é bom. Sem a possibilidade de maldade a bondade não passa de tolice, ou retórica.
(cf. Othon)
(cf. Othon)
20.9.10
19.9.10
18.9.10
Portugal
Portugal é Lisboa; o resto é uma mistura de paisagem e pesadelo.
(Nada como uns dias na margem sul do Tejo para um banho de realidade.)
(Nada como uns dias na margem sul do Tejo para um banho de realidade.)
Mais uma carrada
"O desemprego na Suíça poderá baixar para menos de 3%", diz um reputado economista helvético. Com o desemprego a 5% as empresas já se vêem aflitas para conseguir pessoal. A metade disso, lá vai mais uma carrada de portugueses, que preferem o ultra-mega-hiper-liberalismo alpino (imagine-se que na Suíça se pode despedir sem justa causa! - sem causa nenhuma, aliás) ao Estado Social do senhor que inaugura creches.
17.9.10
Lanche improvisado; ou: Variações sobre um tema
O tema é a polenta, claro. Para além de pequenos-almoços divinos (e ticineses) também faz um bom lanche ajantarado, se servir de base a uma morcela, por exemplo; ou a tiras de pimento assados.
Se for cortada em cubos, frita num azeite com alho e salpicada, mais ou menos generosamente, de orégãos e paprika.
Se for cortada em cubos, frita num azeite com alho e salpicada, mais ou menos generosamente, de orégãos e paprika.
"Interessadíssima"
Todos temos a nossa fair share de termos de busca no Google cómicos, intrigantes, etc. Hoje chegou aqui alguém com "interessadíssima". Ainda tentei encontrar o post ao qual o ou a senhora foi ter, mas estava muito lá para baixo e abandonei.
Interessadíssima.
Interessadíssima.
"Por amor de Deus", dizia ele
(Isto dito, decemos regozijar-nos: o homem tomou uma decisão sensata, finalmente. Finalmente.)
16.9.10
Os malefícios da bondade
A maldade extrema é revoltante; a bondade extrema asfixiante. Mas enquanto aquela reverte uma boa imagem de nós próprios - quem não é contra a maldade? Quem não se demarca dela? - esta tem um efeito de culpabilização perverso: só um "pulha" se queixa do excesso de bondade.
Jantar improvisado - coelho
O coelho gosta de mostarda e de vinho tinto, isso sabêmo-lo há muito; pois dêem-se-lhos; e junte-se-lhes meia dúzia de ervas, para compor: oregãos, cravinho (pouco, muito pouco), e mais uma ou duas que haja à mão. Deixa-se embeber o coiso - uma hora, mas podia ter sido mais.
Numa panela refogam-se cebolas, alho en chemise e um pimento encarnado; numa frigideira ao lado douram-se os bocadinhos de coelho, bem escorridos da marinada. Juntam-se à vizinhança e deixa-se cozer o todo, acrescentando vinho tinto em caso de necessidade.
Serve-se com polenta, mamma mia, polenta.
(No dia seguinte, essa polenta cortada em cubos e frita faz um pequeno-almoço divino, e ticinês).
Numa panela refogam-se cebolas, alho en chemise e um pimento encarnado; numa frigideira ao lado douram-se os bocadinhos de coelho, bem escorridos da marinada. Juntam-se à vizinhança e deixa-se cozer o todo, acrescentando vinho tinto em caso de necessidade.
Serve-se com polenta, mamma mia, polenta.
(No dia seguinte, essa polenta cortada em cubos e frita faz um pequeno-almoço divino, e ticinês).
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Receitas
14.9.10
Retratos
I
Era uma espécie de disléxico motor. Não havia refeição em que não confundisse a camisa com um guardanapo.
II
Um tipo tremendamente egoísta; estava com duas mulheres na cama e preferia ir à casa de banho masturbar-se.
Era uma espécie de disléxico motor. Não havia refeição em que não confundisse a camisa com um guardanapo.
II
Um tipo tremendamente egoísta; estava com duas mulheres na cama e preferia ir à casa de banho masturbar-se.
13.9.10
Correcção
Deixo aqui uma troca de comentários a este post do Jugular. O meu comentário saíu-me de mão antes de o corrigir e não gosto de ter coisas assim.
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"De Luís Serpa a 13 de Setembro de 2010 às 12:30
Bom bom seria que fossem tão lestos a modernizar a legislação sobre as actividades económicas e a burocracia como são a fazê-las para maior bem estar dos homo e transexuais.
responder a comentário | discussão
De Romeu a 13 de Setembro de 2010 às 18:17
Isso fizeram com o SIMPLEX.
Você pode criar e legalizar uma empresa em média em 48 minutos em Portugal, algo raríssimo mesmo nos países mais avançados do mundo.
Quer arranjar argumentos de jeito em vez de tentar atirar poeira para os olhos das pessoas?
responder a comentário | início da discussão | discussão
De Luís Serpa a 13 de Setembro de 2010 às 20:19
"Argumentos de jeito"? Caro Romeu Monteiro, para onde quer que lhe envie os 20 volumes?
Venha para o mundo real, e deixe os gabinetes. Você cria a empresa em 48 minutos e depois fica 6 meses à espera de uma licença para operar (aconteceu comigo, uma empresa chamada Amar o Mar. Quer confirmar? Dra. Graça Carvalho, Turismo de Portugal). E porque é que fica 6 meses à espera de uma licença? Porque, entre outras coisas, o TdeP exige um duplo seguro - sim, leu bem, um duplo seguro - de Responsabilidade Civil e de Acidentes Pessoais. Quer confirmar? Dr. Carlos Barata, TdeP.
Depois de obtida a licença - seis meses, seis - você descobre que precisa, também - uma licença não chega, são precisas duas - da APL. Estou desde Julho - Julho. Quer confirmar? Dra. Manuela Patrício, APL - à espera que a APL me envie os formulários.
Antes de acusar os outros de mandar poeira para os olhos venha para o mundo real. Defender Sócrates nos blogs é fácil, é bom e dá milhões (a alguns. Quer confirmar? Pergunte à Mota-Engil); viver com o Simplex, só para chorex, ou rirex.
Ou forex, que é a única atitude sensata, infelizmente.
O meu e-mail é lserpa@gmail.com; se quiser dou-lhe mais pormenores e exemplos. Tenho uma lista relativamente grande, e não só na minha área profissional."
______________________________________________________________
Parece-me facilmente compreensível a razão pela qual um comentário com um pedido de desculpa pelos lapsos não foi publicado. Fica aqui a correcção.
(Quanto à legibilidade: isso é outra coisa; que se f... a legibilidade. "Poeira para os olhos"! "Simplex"! Cambada.)
_______________________________
"De Luís Serpa a 13 de Setembro de 2010 às 12:30
Bom bom seria que fossem tão lestos a modernizar a legislação sobre as actividades económicas e a burocracia como são a fazê-las para maior bem estar dos homo e transexuais.
responder a comentário | discussão
De Romeu a 13 de Setembro de 2010 às 18:17
Isso fizeram com o SIMPLEX.
Você pode criar e legalizar uma empresa em média em 48 minutos em Portugal, algo raríssimo mesmo nos países mais avançados do mundo.
Quer arranjar argumentos de jeito em vez de tentar atirar poeira para os olhos das pessoas?
responder a comentário | início da discussão | discussão
De Luís Serpa a 13 de Setembro de 2010 às 20:19
"Argumentos de jeito"? Caro Romeu Monteiro, para onde quer que lhe envie os 20 volumes?
Venha para o mundo real, e deixe os gabinetes. Você cria a empresa em 48 minutos e depois fica 6 meses à espera de uma licença para operar (aconteceu comigo, uma empresa chamada Amar o Mar. Quer confirmar? Dra. Graça Carvalho, Turismo de Portugal). E porque é que fica 6 meses à espera de uma licença? Porque, entre outras coisas, o TdeP exige um duplo seguro - sim, leu bem, um duplo seguro - de Responsabilidade Civil e de Acidentes Pessoais. Quer confirmar? Dr. Carlos Barata, TdeP.
Depois de obtida a licença - seis meses, seis - você descobre que precisa, também - uma licença não chega, são precisas duas - da APL. Estou desde Julho - Julho. Quer confirmar? Dra. Manuela Patrício, APL - à espera que a APL me envie os formulários.
Antes de acusar os outros de mandar poeira para os olhos venha para o mundo real. Defender Sócrates nos blogs é fácil, é bom e dá milhões (a alguns. Quer confirmar? Pergunte à Mota-Engil); viver com o Simplex, só para chorex, ou rirex.
Ou forex, que é a única atitude sensata, infelizmente.
O meu e-mail é lserpa@gmail.com; se quiser dou-lhe mais pormenores e exemplos. Tenho uma lista relativamente grande, e não só na minha área profissional."
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Parece-me facilmente compreensível a razão pela qual um comentário com um pedido de desculpa pelos lapsos não foi publicado. Fica aqui a correcção.
(Quanto à legibilidade: isso é outra coisa; que se f... a legibilidade. "Poeira para os olhos"! "Simplex"! Cambada.)
A melancia, os astros e o amor
"Ninguém imagina o que uma melancia fresca e boa pode fazer pelo bem estar de uma pessoa", pensou, enquanto se enroscava na cama, melancia nos braços. A lua, acabadinha de nascer, tingiu-se de encarnado - sinal de empatia, sem dúvida. No mar, o sol que ainda há pouco se deitara voltou atrás. Não sabia, mas tinha os dois principais astros com ele.
Na cama lembrou-se dos seios de Isabela; "não é por acaso que os bons seios têm a forma de melancias cortadas ao meio". Mas a recordação dos de Analisa fê-lo acrescentar "enfim, nem todos". Adormeceu numa mistura revolta de melancias e seios a que se juntaram imediatamente coxas e mangas (os frutos tropicais, não as da roupa). Dos trópicos passou a algumas peles mais escuras que já lhe tinham iluminado algumas noites ou escurecido alguns dias; dormia a sono livre e viajava pelo tempo, a cavalo no sonho. Via ventres, línguas, lábios, mãos mas não os misturava: sabia perfeitamente de quem era cada uma das partes do corpo que lhe aparecia, como num anúncio da TV. "Girls, it's only girls", explicou, quando chegou à secção anglófona (os sonhos são como bibliotecas, estão divididos por secções e por idiomas).
Acordou de manhã com a melancia desfeita e uma mensagem de Isabela, a dizer que se ia embora para o Japão (era hospedeira nos aviões). Com ela tinha iniciado uma prática que acabara de interromper: pedir a cada mulher com quem fazia amor que lhe desse uma nota, de zero a dez. Durante muito tempo a média andou pelos cinco, cinco e meio, seis, e não se importou; mas depois foi baixando. "É o sacana do amor", concluiu, depois de uma olhadela superficial para o registo das notas e das senhoras que lhas tinham atribuído. "Estraga tudo".
Na cama lembrou-se dos seios de Isabela; "não é por acaso que os bons seios têm a forma de melancias cortadas ao meio". Mas a recordação dos de Analisa fê-lo acrescentar "enfim, nem todos". Adormeceu numa mistura revolta de melancias e seios a que se juntaram imediatamente coxas e mangas (os frutos tropicais, não as da roupa). Dos trópicos passou a algumas peles mais escuras que já lhe tinham iluminado algumas noites ou escurecido alguns dias; dormia a sono livre e viajava pelo tempo, a cavalo no sonho. Via ventres, línguas, lábios, mãos mas não os misturava: sabia perfeitamente de quem era cada uma das partes do corpo que lhe aparecia, como num anúncio da TV. "Girls, it's only girls", explicou, quando chegou à secção anglófona (os sonhos são como bibliotecas, estão divididos por secções e por idiomas).
Acordou de manhã com a melancia desfeita e uma mensagem de Isabela, a dizer que se ia embora para o Japão (era hospedeira nos aviões). Com ela tinha iniciado uma prática que acabara de interromper: pedir a cada mulher com quem fazia amor que lhe desse uma nota, de zero a dez. Durante muito tempo a média andou pelos cinco, cinco e meio, seis, e não se importou; mas depois foi baixando. "É o sacana do amor", concluiu, depois de uma olhadela superficial para o registo das notas e das senhoras que lhas tinham atribuído. "Estraga tudo".
Alguém me agarra os queixos e mos remete no lugar, por favor?
Jesus f... Christ!
"Governo de Cuba despede 500 mil funcionários nos próximos seis meses"
Isto é o equivalente do 11 de Setembro para bem, não?
"Governo de Cuba despede 500 mil funcionários nos próximos seis meses"
Isto é o equivalente do 11 de Setembro para bem, não?
Visto prévio
Não percebo muito bem o barulho que se faz em torno do visto prévio do Ecofin aos orçamentos nacionais. Só peca por tardia; aliás, essa foi uma das razões que me levou a aderir tão entusiasticamente à "Europa" - e me senti enganado, pois não havia maneira de ver o fim do descalabro.
Proliferações - erros, palavras, amores
Da mesma forma que a proliferação de imagens nos deixou sem palavras - orfãos, por assim dizer, porque não ter palavras é como não ter pai, mãe (ou sequer família) - a proliferação dos afectos deixou-nos perdidos no deserto. - Perdidos nos inevitáveis, labirínticos amores, atraídos como a água pela lua, magnetizados como o desejo por um corpo sensual... - a noção de amor perdeu-se. Penduramos os amores como roupa num estendal, metodicamente: aqui as calças, ali as loiras; arruma as morenas com as camisas, e aquelas que eram para durar e não duraram naquele canto; não sei se vai chover; logo se verá.
Entretanto os dias vão caindo; a piscina enche-se de folhas e flores que te deviam ter sido oferecidas e não foram. As primeiras nuvens do outono cobrem o que resta do verão. Em breve começarão os últimos erros deste ano; preparam-se os primeiros do que aí vem. Teremos palavras, ou ficar-nos-ão apenas as imagens, as insuficientes imagens?
Entretanto os dias vão caindo; a piscina enche-se de folhas e flores que te deviam ter sido oferecidas e não foram. As primeiras nuvens do outono cobrem o que resta do verão. Em breve começarão os últimos erros deste ano; preparam-se os primeiros do que aí vem. Teremos palavras, ou ficar-nos-ão apenas as imagens, as insuficientes imagens?
12.9.10
Fragmentos velhos
Gosto de de ti e gosto de gostar de ti como gosto, com gosto, e gosto de ti, que é gosto de amar e sal; com prazer e ternura, luxúria e luxo, e muitas vontades - de ti e de te ver feliz, de te amar sem te amar, de te navegar sem rumo, de te rir e rir, de te percorrer a pele e me perder nesses olhos pelos quais me perco, e te perco. Afundas-te-me na pele, miúda; e quando dela saio saio feliz, mole e forte, riso de um deus saciado; pronto para tudo, até para a vida, até para ti.
11 de Setembro
Li aqui que as feridas não estão cicatrizadas. É o understatement mais polido dos últimos 200 anos.
10.9.10
Salários chineses
É só a mim que ver notícias destas dá náuseas? Por quanto tempo mais estamos a preparar-nos para ter "salários baixos"?
"Dez pontos fortes, incluindo salários baixos
Cidade segura, país acolhedor e boa qualidade de vida"
"Dez pontos fortes, incluindo salários baixos
Cidade segura, país acolhedor e boa qualidade de vida"
9.9.10
"António Costa muda-se para o Intendente"
As senhoras que trabalham no Intendente vão ter concorrência desleal.
Retomando
1 - Prioridades
Portugal aprovou recentemente uma lei sobre a mudança de género; e outra, há pouco mais tempo, sobre o casamento homossexual. A náutica de recreio - tal como, eu sei, muito outros sectores - espera há pelo menos trinta anos uma legislação adequada. Cada país tem as prioridades que merece, e o inalienável direito de ser pobre. Mas estes direitos não deixam, por vezes, de ser revoltantes.
2 - Bullshit (em inglês no original)
Abriu no Chiado uma Koni Store. É um espécie de fastfood com temakis, cujos preços rondam os 4 euros, 4 euros e meio. Ou seja, uma vez e meia o preço normal de um bom prego. Um temaki consiste numa folha de algas enrolada em cone, com um recheio de aproximadamente 85% de arroz e 15% o conteúdo escolhido: atum, salmão, camarão. Comi um de "Roast tuna" (por uma razão qualquer diferente de "atum grelhado") e bebi uma imperial, que vinha, apesar de eu ter dito que ia comer no local, num copo de plástico. Tudo isto por seis euros.
Pouco me importa o preço: não tenciono lá voltar. Mas não deixa de ser significativo que aquilo estava cheio de gente nova. Os portugueses estão tão receptivos à mudança que engolem a primeira aldrabice que lhes enfiam pela garganta abaixo, desde que tenha cores bonitas e um nome exótico.
3 - Depois do trabalho, e antes da casa
Fui petiscar à Casa do Alentejo: salada de polvo, favas, queijo. O sítio é obscenamente bonito, e àquela hora ainda mais. A luz entrava por ali dentro carregada com a poluição do dia, a humidade e já cansada de atravessar a atmosfera, que ao fim da tarde é mais larga, como se sabe, do que ao meio-dia. Parecia uma fotografia a preto e branco com alguns toques de cor, aqui e ali.
Só faz pena o estado lastimável daquela casa. As nossas instituições habituaram-se a viver à conta do Estado, e foram incapazes de gerar receitas para a manutenção. Ou então dedicaram-nas a outras coisas, vá saber-se.
4 - Leitura
Continuo a ler "Passage to Juneau", de Jonathan Raban. É a minha última grande descoberta, que devo a uma leoa querida (última no sentido de mais recente; espero ter muitas mais como esta). O livro é o relato de uma viagem num veleiro de Seattle, onde o autor reside, a Juneau, no Alasca, pelos canais e ilhas da Colômbia Britânica. Tenho um amigo que uma vez passou lá um verão, a pescar salmão num navio de pesca: já sabia da beleza rude do lugar, da inacreditável força das correntes, dos ursos e dos lenhadores. Mas visto com a enciclopédica cultura de Raban, descrito com o seu talento, aquilo deixa de ser uma viagem de barco, e transforma-se numa viagem, tout court. Uma magnífica viagem - há momentos em que os adjectivos são imprescindíveis - pelas arte e cultura índias, a viagem de Vancouver (o capitão inglês que nos finais do século XVIII explorou a região), a morte, a literatura. Um livro sublime.
5 - Portugal (é inevitável...)
Há dias fui comprar um charuto à Havaneza (Romeu y Julieta nº 1 - é o indicado para quem não fuma um há muito tempo); quando lá cheguei a loja estava fechada, mas mesmo assim as senhoras deixaram-me entrar (se calhar alarmadas pelo meu ar de aflição, não sei). Noutra ocasião entornei a garrafa de vinho que trazia num saco ao balcão da Ginginha (Sem Rival, cela va sans dire). O senhor Coelho limpou aquilo com o sorriso habitual e quando lhe pedi desculpa respondeu que só era pena entornar vinho "tão bom" ("pelo menos cheira bem" explicou, pois não o tinha provado, nem visto o rótulo). Eu gostaria que Portugal fosse um bocadinho menos português às vezes; mas espero que nunca se transforme numa Alemanha, ou Suíça.
6 - Conversões
Vejo frequentemente nos jornais montantes em escudos convertidos directamente em euros, sem qualquer espécie de actualização ou de menção à inflação. Nos jornais generalistas essa asneira enfurece-me; nos económicos deixa-me literalmente possesso. Ontem foi no Negócios: referia-se ao primeiro salário de Amorim como tendo sido de "500 escudos (dois euros e meio)". Bolas, não há limites?
Portugal aprovou recentemente uma lei sobre a mudança de género; e outra, há pouco mais tempo, sobre o casamento homossexual. A náutica de recreio - tal como, eu sei, muito outros sectores - espera há pelo menos trinta anos uma legislação adequada. Cada país tem as prioridades que merece, e o inalienável direito de ser pobre. Mas estes direitos não deixam, por vezes, de ser revoltantes.
2 - Bullshit (em inglês no original)
Abriu no Chiado uma Koni Store. É um espécie de fastfood com temakis, cujos preços rondam os 4 euros, 4 euros e meio. Ou seja, uma vez e meia o preço normal de um bom prego. Um temaki consiste numa folha de algas enrolada em cone, com um recheio de aproximadamente 85% de arroz e 15% o conteúdo escolhido: atum, salmão, camarão. Comi um de "Roast tuna" (por uma razão qualquer diferente de "atum grelhado") e bebi uma imperial, que vinha, apesar de eu ter dito que ia comer no local, num copo de plástico. Tudo isto por seis euros.
Pouco me importa o preço: não tenciono lá voltar. Mas não deixa de ser significativo que aquilo estava cheio de gente nova. Os portugueses estão tão receptivos à mudança que engolem a primeira aldrabice que lhes enfiam pela garganta abaixo, desde que tenha cores bonitas e um nome exótico.
3 - Depois do trabalho, e antes da casa
Fui petiscar à Casa do Alentejo: salada de polvo, favas, queijo. O sítio é obscenamente bonito, e àquela hora ainda mais. A luz entrava por ali dentro carregada com a poluição do dia, a humidade e já cansada de atravessar a atmosfera, que ao fim da tarde é mais larga, como se sabe, do que ao meio-dia. Parecia uma fotografia a preto e branco com alguns toques de cor, aqui e ali.
Só faz pena o estado lastimável daquela casa. As nossas instituições habituaram-se a viver à conta do Estado, e foram incapazes de gerar receitas para a manutenção. Ou então dedicaram-nas a outras coisas, vá saber-se.
4 - Leitura
Continuo a ler "Passage to Juneau", de Jonathan Raban. É a minha última grande descoberta, que devo a uma leoa querida (última no sentido de mais recente; espero ter muitas mais como esta). O livro é o relato de uma viagem num veleiro de Seattle, onde o autor reside, a Juneau, no Alasca, pelos canais e ilhas da Colômbia Britânica. Tenho um amigo que uma vez passou lá um verão, a pescar salmão num navio de pesca: já sabia da beleza rude do lugar, da inacreditável força das correntes, dos ursos e dos lenhadores. Mas visto com a enciclopédica cultura de Raban, descrito com o seu talento, aquilo deixa de ser uma viagem de barco, e transforma-se numa viagem, tout court. Uma magnífica viagem - há momentos em que os adjectivos são imprescindíveis - pelas arte e cultura índias, a viagem de Vancouver (o capitão inglês que nos finais do século XVIII explorou a região), a morte, a literatura. Um livro sublime.
5 - Portugal (é inevitável...)
Há dias fui comprar um charuto à Havaneza (Romeu y Julieta nº 1 - é o indicado para quem não fuma um há muito tempo); quando lá cheguei a loja estava fechada, mas mesmo assim as senhoras deixaram-me entrar (se calhar alarmadas pelo meu ar de aflição, não sei). Noutra ocasião entornei a garrafa de vinho que trazia num saco ao balcão da Ginginha (Sem Rival, cela va sans dire). O senhor Coelho limpou aquilo com o sorriso habitual e quando lhe pedi desculpa respondeu que só era pena entornar vinho "tão bom" ("pelo menos cheira bem" explicou, pois não o tinha provado, nem visto o rótulo). Eu gostaria que Portugal fosse um bocadinho menos português às vezes; mas espero que nunca se transforme numa Alemanha, ou Suíça.
6 - Conversões
Vejo frequentemente nos jornais montantes em escudos convertidos directamente em euros, sem qualquer espécie de actualização ou de menção à inflação. Nos jornais generalistas essa asneira enfurece-me; nos económicos deixa-me literalmente possesso. Ontem foi no Negócios: referia-se ao primeiro salário de Amorim como tendo sido de "500 escudos (dois euros e meio)". Bolas, não há limites?
3.9.10
Ultra-mega-coiso
"Ultraliberalismo". Em Moçambique.
Às vezes pergunto-me se não haverá uma coisa chamada "ultra-idiotice", ou assim.
Às vezes pergunto-me se não haverá uma coisa chamada "ultra-idiotice", ou assim.
2.9.10
1.9.10
Retrato
Era um tipo simpático, mas tinha um contacto bastante superficial com a realidade. Nunca conseguiu perceber, por exemplo, aquilo a que chamava "obsessão" dos senhorios pelas rendas; ou a razão pela qual a companhia da electricidade insistia em cortar-lha apesar de ter o congelador cheio de peixe.
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