7.1.15

Diário de Bordos - Cole Bay, St. Maarten, Antilhas Holandesas, 07-01-2015

Os meus telefones continuam a ser mortalmente atraídos pela água, qualquer que ela seja. Ontem no regresso à minha pequena e, acrescento agora, generosa e compreensiva casa escorreguei na valeta e caí naquela mistura de lama, esgotos, algas e lixo.

Para minha surpresa o telefone continuou a funcionar, apesar de todo molhado e coberto de lama. Só à noite me apercebi do verdadeiro dano: não carrega. Espero que seja reparável.

Compreendo esta atracção dos meus telefones pela água: eu também a tenho. Mas só pela do mar. E não é mortal, a minha atracção. Nem vital, de resto. É simplesmente vida, e vida dispensa adjectivos.

Eu fiz uma ferida na mão. Infectou a uma velocidade lancinante, claro. Noutras circunstâncias teria sido interessante assistir à luta entre a fauna bacterial de uma valeta de Cole Bay e o meu sistema imunitário. Infelizmente com a crise de chikungunya que por aí vai não posso arriscar e hoje vou à farmácia comprar uma pomada antibiótica. O médico bem me disse para me vacinar, mas por uma razão qualquer não o fiz.

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Escrevo de manhã. Hoje não vou trabalhar: vou dar os primeiros passos para a abertura de uma conta bancária. Até aqui o grande obstáculo tem sido a ausência de uma residência fixa. Antes sequer da ausência de fundos: uma concha vazia é uma concha, não um bocado de calcário, tal como uma conta é uma conta, vazia ou não. Se tudo correr bem esta tarde terei oficialmente uma residência. É o primeiro passo de um longo e pouco apetecível calvário.

Fictícia, claro, a residència. Mas que importa? Não há ficção maior do que a da burocracia. Responder-lhe com outra, bem menor é quase um imperativo moral. E residência por residência St. Martin não é a pior. Pelo menos aqui a carga fiscal é relativamente baixa. Não vai durar, é certo: a autonomia e o fim dos subsídios de França encarregar-se-ão disso. Mas ainda não é elevada.

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