8.8.16

Diário de Bordos - Praia da Rocha, Algarve, Portugal, 08-08-2016 (cont.)

Foi provavelmente no Verão de setenta e seis. Se não, foi no de setenta e cinco. É forçoso reconhecer que interessa pouco. Estava em Portimão com um Princess  de trinta e cinco pés cujo hélice se tinha partido no caminho de Lisboa para aqui.

Com o hélice fora-se a solidez da aranha e o barco metia água. Estava fundeado à frente de Ferragudo e vinha com o dinghy à praia da Rocha. Quando voltava para bordo bombeava a água e ia para um bar na praia do qual gostava muito e ao qual nunca mais voltei.

Na Rocha frequentava um bar chamado Bacchus que tinha aquele que para mim foi um dos melhores barman de sempre, ao nível do Luís da Casa do Largo, do senhor Miguel do Pavilhão Chinês ou do Luís do Procópio (o facto de eu me chamar Luís Miguel não tem rigorosamente nada a ver com esta selecção. Mero acaso).

Em setenta e cinco tinha dezoito anos; em setenta e seis dezanove. Não queria os cocktails que toda a gente bebia. A minha adolescência sempre foi ao contrário das outras: afastar-me do grupo parecia-me então mais importante do que integrá-lo. Hoje lamento-o, claro.  Menos whisky e menos Nietzsche teriam feito de mim um homem de sucesso. Aposto.

No bar Bacchus o barman fez-me perceber, não me lembro como, que sabia fazer cocktails. Todos os dias lhe pedia um diferente. Mas nada que saísse do livro de receitas. Queria um criado para mim, ali, então.

Ele só me perguntava Qual a base? (Já então não gostava de coisas demasiado doces). Todos os dias inventava um cocktail para mim, que depois declinávamos até chegar "àquele ponto, exterior ao mundo, para onde tendem todos os cocktails".

Poucos anos depois li num jornal que o barman tinha ganho um prémio qualquer Internacional no estrangeiro lá fora e tudo.

As minhas passagens por Portimão tornaram-se raras, espaçadas e esqueci-me de onde era o bar. Há alguns anos reencontrei-o e hoje bebo aqui Irish Coffees divinos.

Não só porque são muito bons, não têm açúcar e são feitos com natas em vez de chantilly. Mas porque são muito bons, não têm açúcar e são feitos com natas em vez de chantilly.

Adenda: o senhor - provavelmente o que há quarenta anos me fazia cocktails - esclarece gentilmente que nunca ganhou prémios lá fora no estrangeiro. Ganhou uma vez um em Portugal. Terceiro ex-aequo.

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A Praia da Rocha está cheia de gente. Uma multidão como a do Metro em hora de ponta. Tenho de sair desta rua depressa. Se isto são férias para estas pessoas como serão os dias?

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