13.3.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 13-03-2020

E assim me recebeu Palma: cálida, azul e pálida. Pouca gente nas ruas, mas tudo bem no melhor dos mundos, disse-me a jovem (e bonita, claro) taxista. Meia dúzia de horas depois o idiota do Sanchez - sem relação com esta decisão. Já era idiota muito antes - decreta o "estado de alarma". À boa maneira socialista, ninguém sabe bem em que consiste o dito estado.

F., dono do Antiquari diz-me que todos os cafés, bares e restaurantes serão obrigados a fechar. O do café Santa Eulália, onde gosto de ir comer uma tapa ou duas ao fim do dia, diz-me que obrigado talvez não seja, pelo governo. Mas abrir sem ninguém a quem servir serve-lhe de pouco e talvez feche. A Uta da Sifoneria não abriu. Prefere ir beber copos onde há gente a ficar sozinha no estaminé.

Venho à Tasquita, oiço o Bob Dylan arranhar a garganta a cantar "Não penses duas vezes, está tudo bem", encomendo umas pataniscas - mais para ajudar a S. do que por ter fome - e abro a frincha às gatas. Elas sabem para onde vão. Eu não.

(Gatas são as palavras; o resto fica para depois.)

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Fui ao Mercadona logo a segui ao almoço. Estava mais ou menos normal. Voltei lá às oito da noite porque a Sifoneria está fechada e preciso de vinho tinto, o vírus não aguenta um copo. Parecia um supermercado da Rússia soviética.

As prateleiras, as ruas, os cafés estão vazios. Eu não, mas de pouco serve; ou nada. Na verdade este vazio é-me indiferente. (Tudo é, excepto a fixação no papel higiénico. A mente humana é gregária e mimética, nada a fazer. E o P., mais cela va sans dire.)

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Como serão os próximos dias? Só espero que não sejam como a travessia do Pacífico no M/V RIO CUANZA, a minha primeira, mais longa e dolorosa experiência de isolamento.

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Não deixa de ser reconfortante um gajo poder pensar que pelo menos viveu. Aconteça o que acontecer, esta já ninguém ma leva. 

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