29.7.20

Os queixos e as balizas

Ignoro se é possível gostar menos de qualquer coisa do que gosto de futebol. Se for, esse lugar está ocupado - em mim, claro. Não falo pelos outros - pelo boxe.

Mas tal como há golos que parece terem sido feitos não pelo goleador mas pela baliza - como se esta chamasse a bola, lhe dissesse "vem por aqui" e a bola não conhecesse a resposta correcta ("Sei que não vou por aí") suponho que haja queixos que chamam um uppercut, o provocam (no sentido de causalidade).

Não sei. Metáforas futebolísticas e boxísticas não são o meu forte. Refiro-me à inevitabilidade, a certo tipo de atracção demolidora, certo tipo de vitórias que o são por falta de alternativas.

Ou a certas vidas: são elas o queixo ou a baliza da minha analogia. Ou seja: há derrotas que contam como vitórias. A baliza que recebeu o golo porque a bola não tinha alternativa faz parte do golo, faz parte da beleza do conjunto, da grandiosidade geral, amorfa, difusa das coisas. 

Amar é isso: ser o queixo e o murro,  a bola e a baliza. 

Talvez não. Talvez isso seja apenas viver, talvez o amor não seja para aqui chamado.

É. 

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