31.1.21

Nove coisas que (agora) sei

  1. As pessoas sabem o que é melhor para elas. 
    1. Não sabem, claramente. Contudo, democracia é, acima de tudo, dar a cada um o direito de se enganar. Só os ditadores têm as respostas «certas».
  2. Os media não têm poder.
    1. Têm. Não há volta a dar. Falharam nas eleições de Trump e de Bolsonaro - tanto os media indígenas como os internacionais - mas se em questões políticas não têm a influência que pensavam ter, em questões emocionais têm.
  3. A democracia directa afinal tem falhas.
    1. Não tem. Isto não é democracia directa. Esta é intermediada - mesmo a iniciativa popular que neste momento está a decorrer na Suíça, com o objectivo de  retirar poderes ao Conselho Federal, só será votada em Setembro. Estamos a ser governados directamente pelos media, mas isso não tem nada a ver com a democracia directa.
  4. Os responsáveis por isto tudo são os media.
    1. Não são. Os responsáveis são as pessoas que lêem ou vêem acriticamente os media, o que é diferente.
  5. O Facebook é uma péssima fonte de informação.
    1. Não é. Filtrando o que se lê, é muito mais amplo, mais profundo e mais informativo do que os media. Basta filtrar o que se lê.
  6. (Ao contrário dos pontos anteriores, este não é uma dúvida. É uma confirmação.) «Este país...»
    1. Como sempre pensei, os portugueses não vêm de outro planeta. A uniformidade de reacções à crise demonstra-o à saciedade. Há obviamente diferenças nas titudes das pessoas, mas são de grau, não são qualitativas.
  7. Prefiro ser governado por políticos a sê-lo por tecnocratas, padres ou soldados. 
    1. Quanto ao dois últimos, continuo a não ter dúvidas. Em relação aos primeiros, o exemplo sueco demonstrou que os políticos devem delegar em técnicos algumas das suas funções. Como se aceita sem demasiada dificuldade que os bancos centrais devem ser independentes, também se deve aceitar que algumas decisões devem incumbir a quem não é eleito. Claro que há alguns caveat a ter em conta - em Espanha o «conselho científico» que Sanchez dizia estar a orientá-lo veio a revelar-se inexistente (Sanchez é um crápula, toda a gente sabe, mas não será o último); em Portugal, o governo afastou o Conselho Nacional de Saúde Pública, porque se opôs ao fecho de escolas). Mesmo assim, devem criar-se mecanismos para que algumas decisões estejam for da esfera política.
  8. É preciso reforçar o Estado de direito em Portugal. A facilidade com que o governo toma medidas inconstitucionais e ilegais é assustadora. Ou seja: a reforma jurídica que durante mito tempo vi como prioritária deve obrigtoriamente incluir este aspecto.
    1. Mais fácil de dizer do que de fazer. Continua a sonhar.
  9. (Mais uma confirmação.) A liberdade não é o valor mais importante pra a maioria das pessoas.
    1. Citando o senhor moçambicano que um dia disse ao meu Pai «a liberdade não enche a barriga», o trabalho do liberalismo deve passar por explicar ás pessoas que a liberdade é a melhor forma - no sentido de mais eficaz - de «encherem a barriga». Para quem tem o sustento assegurado, a liberdade é o valor mais importante. Para quem não tem, a liberdade é a melhor forma de o assegurar. Não é um fim em si mesmo.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.