16.12.23

Diário de Bordos - Le Marin, Martinique, DOM-TOM França, 16-12-2023

Dia de vir ao médico.  Nove pessoas à minha frente. Até o consultório abrir não há bicha. Depois abre e cada um encontra o seu lugar na ordem de chegada. A fila forma-se para inscrevermos o nome numa folha que o médico vai consultando a cada paciente que sai. As pessoas estão concentradas nos seus telefones. Ninguém fala. O senhor ao meu lado tecla sem parar mas não tem o telefone no silêncio e o ruído é irritante. É o único, felizmente. 

A linha na qual inscrevi o meu nome indicava nove e quarenta e cinco como hora para a minha consulta - o doutor atribui quinze minutos a cada consulta, a primeira coluna é a das horas, esta organização parece-me perfeita, tudo se compõe. As duas maleitas que me trazem aqui - uma recente outra já mais velhinha - têm os dias contados. Quando receber a informação do SNS sobre a data da operação já terá sido feita. É uma boa ideia de exportação para Portugal: doentes. Isto é, os doentes que o SNS não consegue tratar debaixo do seu programa "Consulta a tempo e horas" (não é piada. É assim que vêm tituladas as folhas que recebo do centro de saúde) podiam ser enviados para países dos quais os respectivos SNS fossem menos dados a troçar das pessoas. Continuo a ter vontade de me vergastar por não ter tratado disto em Cuxhaven mas é mais uma questão de desporto do que de real zanga: as razões que me levaram a fazê-lo eram sólidas e de pouco serve agora remexê-las. Já só tenho cinco pessoas à frente. O médico respeita a duração das consultas, pelo menos na média. Ou seja, ainda tenho uma hora de espera. Uma hora e quinze. Vou beber um café, se estiver algum aberto. Se não estiver, não bebo mas apanho um bocadinho de ar.

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Falta uma semana para o Natal. Não parece. Este ano foi parco em prendas.

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Afinal o médico não respeita a média de duração das consultas: recebeu-me uma hora antes do previsto. Foi rápido, eficaz, simpático e fiquei livre de uma das chatices. A outra é mais complicada e vai exigir uma viagem a Fort-de-France. Não é uma surpresa e a sublime vista que tenho da mesa de onde agora escrevo apazigua tudo e mais alguma coisa.

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Convivência com o filho: um gajo pensa que tem uma filho e descobre que tem uma pessoa. Pelo menos é boa, valha-me isso.

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