9.2.24

Diário de Bordos - Z'Abricots, Martinique, DOM-TOM França, 09-02-2024

Parece-me importante informar a humanidade de que o meu álbum favorito de Lou Reed é Magic and Loss. Depois, Songs for Drella. Depois, os outros, quase todos. Coney Island Baby, por exemplo. New Sensations. E por aí fora, tenho pouca paciência para o Google. Ou os álbuns com a Nico, foi através dele que fiquei a conhecê-la. The Raven... lembro-me mal deste, mas o youtube recorda-mo. A ver. 

Há aquela música com a Laurie Anderson que é uma maravilha. Call on me? Não sei, talvez. Coitada da humanidade, tão mal informada que fica sobre as minhas preferências reedianas.

Aliás: tenho pouca paciência para a maioria das coisas, o que é uma das vantagens da idade. Cada vez sou mais tolerante e menos paciente, como naqueles gráficos sobre o preço das coisas e a respectiva qualidade. Há um ponto em que se encontram, as curvas fazem um X. Não sei em que ponto estou de cada uma dessas linhas, mas sei que não me apetece nada ir percorrer o Google mais do que o que já o fiz. Em termos de qualidade não estou grande coisa, isso é seguro. Já de preço não sei.

Isto porque oiço Magic and Loss e penso nuns anos em que fui particularmente miserável e ouvia este disco em loop no Fiat que o meu Pai me dera, em casa, em todo o lado (se bem me lembro até cheguei a ter um Walkman da Sony). 

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Horas mais tarde: oiço a Nico do álbum Desertshores e penso nas pessoas que são contra a imigração. Pior: que fazem disso uma agenda política. Viver aonde se quer viver não é só um direito básico. É o que está na base da hominização. O homem é hoje o que é porque sempre andou de um lado para o outro. Vejam os mapas das migrações pré-históricas. Migrar - seja antecedido por um e seja por um i - é muito anterior à invenção das fronteiras, passaportes, bilhetes de identidade e «papéis». «Sou de onde estou» não foi inventado por mim: é uma máxima da Idade Média (perdão, não encontro a fonte. Fica para outro dia. Devo dizer que a «inventei» muito antes de a ver escrita num sítio qualquer. Passo a vida a «inventar» coisas já inventadas).

Que seria o homem sem migrações? Duvido muito que tivesse inventado a roda, quanto mais os anticonceptivos orais ou o cálculo diferencial.

O problema não são as migrações. Essas são um direito e como todos os direitos vêm acompanhadas de deveres. Não há um sem outro. Nos anos sessenta, o Ocidente «esqueceu-se» da segunda parte da equação, por duas razões: interesse (era preciso mão-d'obra) e ideologia (o «fardo do homem branco»). A primeira era real - os «trinta gloriosos» precisavam de gente; a segunda era uma invenção. O homem branco não tem fardo nenhum a carregar. Antes pelo contrário. Fizemos mais bem do que mal, de longe.

Como sempre, resolver um problema que não se resolveu atempadamente cria problemas maiores do que o original.

Sabiam que a Nico morreu em Ibiza? Pouco importa. Já estou na Marianne Faithfull, a ouvir Broken English

Sugestão de leitura: Éloge du Cosmopolitisme, Guy Scarpetta.

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Fui à FNAC da Galleria e comprei três livros: Tahar Ben Jelloun, Philippe Labro e Le Clézio. Não tinham a Cidade de Deus - encomendado - nem a Política, de Aristóteles. Ter a sua biblioteca ao alcance da mão é, para um homem, a mesma coisa do que para um bebé ter uma mama cheia de leite ao alcance da boca. E não ter é como para um bebé não ter.

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Hoje tive luz verde do armador: antes do fim do mês vou para o Marin. Seja para uma bóia, um pontão ou fundeado. 

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Vou ler. 

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