23.8.24

Diário de Bordos ' Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 23-08-2024

Dia redondo, sem ponta por onde se lhe pegue. Não tem princípio nem fim, escorrega-me da mão como garrafas de vinho na boca de um bêbedo. Deixa-se beber mas não deixa traços.

Que bom tudo isto ser mentira!

Na verdade o dia acabou bem, mas não tão bem que valha a pena falar dele. Amanhã tenho um charter, daqueles que eu gosto: barco a motor, oito horas de trabalho. Talvezes: a mesma coisa no domingo, mais um transporte de três dias de uma motora de vinte e dois metros, tudo isto antes de ir para a Holanda. De confirmado, só amanhã. É pouco? É. Mas chega.

Como se estivesse num interminável escorrega e só avançasse aos soluços. Os dias deixam de ser redondos. São ovais. Têm a forma de um coração. Piscam-me o olho e de repente abrem-me as pernas, escancaradas. Benditos sejam.

Gostaria de lhes cantar laudas, a esses dias que ora me sorriem ora me fazem manguitos e eu continuo a amar porque através deles é com a vida que me deito, todas as noites.

Fui finalmente comprar analgésicos. Paracetamol. Fui à farmácia aonde não me deixam entrar com a bicicleta, o que é uma excepção. Normalmente só entro em lojas que aceitam a burra. A cem metros há uma, mas prefiro esta. A minha farmácia em Lisboa deixa entrar a bicicleta. A pergunta é: será que o Paracetamol mil é suficiente para eu dormir? Até agora tudo leva a supor que sim, mad ainda só tomei dois 

Resposta definitiva amanhã. 

.........

Há cada vez mais portugueses nas ruas. Consequência dos voos directos, suponho. Hoje - ou terá sido ontem? Estas dúvidas que me atormentam... - vi um grupo na rua. A rapariga tinha uma t-shirt que dizia Benfica. Era nova, vinte e poucos. Facilmente reconhecível como portuguesa: meia perna e rabo e meio. Quando envelhecer vai ficar bonita, uma bola vestida de preto e buço.  Terá de encontrar outro clube, suponho. Hoje no Mercadona vi outro grupo, mais jovem, bonito e menos futebolístico, pelo menos na aparência. Gosto de ouvir portugueses porque me muda dos alemães. Acho uma pena só falarem de futebol, mas isso é outra história. Pelo menos falam, não grunhem. É um grande avanço civilizacional.  Passaram da fase macacos à de homo sapiens graças ao futebol. Se não fosse a bola ainda andariam a quatro. 

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