29.1.23

Gratin dauphinois (a fixar)

100 gr de manteiga
1 l de leite
1,5 kg de batatas (charlotte)
1 dente de alho (ou dois)
30 cl de natas
Sal, pimenta, noz moscada

Misturar as natas com o leite e cozer as batatas cortadas em rodelas finas só até o leite começar a ferver, dispor as batatas no prato de ir ao forno previamente untado com o alho. Enfornar 1h / 1,5 h a 130º, mais coisa menos coisa.  

PS - Não lavar as batatas ou lavá-las muito pouco. Precisam do amido.

(https://www.enviedebienmanger.fr/fiche-recette/recette-gratin-dauphinois-traditionnel)

A experimentar

400g cooked chickpeas
1 avocado
1 handful of basil leaves
1 glass of water approx.
250 ml 2 tbsp lemon juice
1 tbsp tahini
2 small clove of garlic
2 tbsp olive oil
Salt, Oregano, Chili Flakes
Put everything in the blender and puree. Arrange the hummus on a plate, decorate with some olive oil, basil leaves and a few chili flakes.

28.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 28-01-2023

Ao contrário de muita gente, prefiro viajar na TAP a viajar em qualquer outra companhia (das que conheço. Nunca viajei na Emirates, por exemplo). A TAP só é péssima até se entrar no avião. Uma vez lá dentro transforma-se naquilo que nós somos: cordiais, flexíveis, atentos. O diabo está nesse «até se entrar no avião». Hoje tentei reservar o meu regresso a Lisboa na nossa «companhia de bandeira» (aspas porque ironizo) e mais uma vez não consegui. Vou de Easyjet, uma companhia pela qual não morro de amores - sobretudo quando, como foi o caso hoje, o preço é igual ao da TAP. Quando é mais barata ainda vá que não vá, o que não tem remédio remediado está. Mas sendo o preço praticamente o mesmo irrita-me esta necessidade que nós temos de ligar o complicómetro e a ele juntar a negligência ou incompetência ou seja o que for. A TAP é uma excelente montra do carácter português: inapto por fora, mais do que aprovável por dentro.

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Breve apresentação de uma psicóloga: «Dá consultas privadas sobretudo no âmbito das seguintes problemáticas: traumas, medos, fobias, depressão, bordeline, bipolaridade, dor de luto, dificuldades relacionais, violência doméstica, divórcio, aconselhamento parental, consulta de casal. As populações visadas são: Crianças, jovens, adultos e séniores». Apeteceu-me perguntar à senhora se é especializada em «Tudo» ou em «Quase tudo» e se por acaso pode incluir animais de companhia («cães, gatos, lagartixas, mini-hipopótamos, caracóis, periquitos e corvos» nas «populações visadas».

A psiquiatria em Portugal anda pelas ruas da amargura - se bem tenha recentemente ouvido dizer que está a melhorar - e das duas uma: ou a senhora é uma excelente generalista (espero que seja o caso) ou é «especializada» em demasiadas «problemáticas» (aspas porque ironizo e porque cito).

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Detesto fins de semana e este não é excepção. Quando se espera qualquer coisa vinda de uma empresa ou de um organismo público a única vantagem que têm é saber-se de antemão que nesses dois dias não se receberá o que se espera. Já quando trabalho não tenho razão nenhuma para gostar ou deixar de gostar: são dias de trabalho iguais aos outros. Em Genebra têm outra vantagem: são os dias do passeio ao campo, passeio mais ou menos longo em função do tempo, do cansaço e da disposição. O de hoje foi curto e quase dentro da cidade. O sítio é bonito, ao longo de um ribeiro chamado Aire, na comuna do Grand-Lancy. A cadela regalou-se e eu só lamentei a luz estar uma porcaria e não dar para fotografar fosse o que fosse.

Trajectos

S. conta-me episódios de quando estávamos casados e descubro com horror quão inimaginavelmente abominável eu podia ser com ela. Cada vez tenho menos dúvidas: para se ser um homem decente há que ter sido indecente. Quanto mais de um, mais do outro.

Não poder fazer mais nada

Estou a tentar arranjar uma forma de provar que é preciso ser-se fraco para se ganhar a batalha. Penso obviamente em Sun Tzu, mas sem o livro à mão dali não me vem ajuda. É um paradoxo, claro. O que quero dizer é que só os fortes se podem dar ao luxo de parecer fracos. Isto é: só os fortes sabem quando podem ser fracos. No mar temos muitas situações dessas. Num arraial de pouco serve fazer de Tarzan. Mais vale ser Jane. You Tarzan, me Jane. Oferecer a menor resistência possível ao mar. Ninguém luta contra um ciclone. On fait avec ce que l'on a. On fait le dos rond. O que é que fizeste? Bom, meti-me no beliche e dormi. Não podia fazer mais nada. Enrosquei-me tudo o que me era possível e dormi. Ou então: sentei-me e olhei pela janela. Não a abri sequer. Só olhei para fora. As árvores vergavam-se com o vento, as ruas inundavam-se com a chuva  e eu olhava, chávena de chocolate quente numa mão, croissant na outra. Puxei a cadeira, sentei-me e olhei. Não podia fazer mais nada. É preciso ser muito forte para se poder não poder fazer mais nada.

Assim se deve enfrentar os dias. Chocolate quente e croissant de manhã, vinho quente e bratwurst à noite. Entre os dois: nada. Olhar. Para dentro, para fora. Não se pode fazer mais nada. Excepto, talvez, escrever uma apologia do abulismo. E dormir enrolado em torno do vasto eixo do nothingness. Néant. Nada. 

Miragens, deserto. Para lhes resistir:  fechar os olhos. Fazer nada. Puxar os cobertores, tapar-se bem, aconchegar-se. Não pensar. Desligar os circuitos, como se se puxasse uma ficha. Não oferecer resistência às vagas. Fechar os olhos.  Não fazer mais nada. Repetir.

27.1.23

Falhado falhado

Era um falhado. Tão falhado que não conseguia sequer falhar o seu falhanço.

Tolerância, relativismo, tretas

O multiculturalismo é lindo. Porém, um dia esbarra com coisas como excisões, crenças chinesas nas virtudes do pó de corno de rinoceronte ou nas barbatanas de tubarões, caçadores de baleias et al. e os multiculturalistas - que são, não nos esqueçamos, meninos mimados das classes médias europeias - não sabem bem o que fazer.

Sou multiculturalista avant la lettre - não é bem desde que nasci, mas quase - e tenho sérias dúvidas sobre as virtudes de tal coisa. Prefiro dizer como dizia alguém: «Sou tolerante, mas não sou relativista.» 

26.1.23

Maldade - manual de utilização

I

A pior forma de maldade é a que vem embrulhada em bondade.

II

Há uma volúpia na maldade que é insaciável. 

III

Se magoares alguém, assegura-te de que o magoas onde mais dói e assegura-te de que o magoas mais do que o necessário. Deixa o "olho pir olho" para os justos.

Leonard Cohen, melancolia

Não há tristeza completa sem Leonard Cohen. O homem está para a melancolia como as abelhas para o pólen: precisam umas do outro para se realizarem. E darem frutos, convém acrescentar.

Vai bem com os Microcosmos de Bartók.

Diálogos impossíveis

A entrada de António na velhice foi abrupta, como de resto tudo o que de importante acontecera em toda a sua vida antes disso. 

- Primeiro foram os olhos, depois a resistência à bebida, depois a força fisica... O pior foi quando a ponte levadiça começou a fazer exigências estúpidas para se levantar. Ele era amor ele...
- Desculpa interromper-te, António, mas dessa parte beneficiei, beneficio e pior - aprecio muito que assim seja. Se percebi bem, tu não envelheceste. Melhoraste.

25.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 25-01-2023

As mercearias «bio» da Suíça (pelo menos na Suíça-francesa) estão a fechar. «Falta de clientes», diz o repórter. «Aparentemente, para as pessoas comer já não é uma prioridade». O dono de uma das mercearias, entrevistado, esqueceu-se de adjectivar comer. Compreende-se: comida é bio. A outra é uma mistela. Não se compreende é como conseguiu alimentar tantos milhões de pessoas por esse mundo fora.

Não tenho nada contra o bio, note-se. Aliás, quando morava no Príncipe Real era cliente do mercado bio que ali se realizava todos os sábados. Descobri que os legumes se aguentam muito melhor e sabem melhor. Para uma pessoa só, pouco consumidora de coisas verdes, a diferença de preço era facilmente compensada. Posso portanto dizer que contribuí para salvar o planeta, apesar de pensar que ele não precisa de ser salvo - tratá-lo bem é suficiente - e de as motivações serem bastante egoístas, por assim dizer. 

Como as dos fazedores-de-bem, de resto. «Não pode a alma elevar-se às regiões espirituais senão pela dedicação ao próximo; ela não encontra felicidade e consolação senão nos arroubos da caridade. Sede bons, ajudai aos vossos irmãos, ponde de lado essa horrível chaga do egoísmo. Esse dever cumprido vos deve abrir as vias da felicidade eterna. Aliás, quem dentre vós não sentiu o coração pulsar e sua alegria íntima expandir-se pela prática de uma obra de caridade? Não deveríeis pensar senão nesta espécie de volúpia proporcionada por uma boa acção...» (S. Vicente de Paula). O sublinhado é meu: a caridade pode ser embriagante. (Como explicar de outra forma que eu dê tanto dinheiro, quando o tenho?)

O que me chateia na «bio» é esse aspecto teológico, salvar o mundo, «eu estou no grupo dos bons». É uam atitude que se encontra em muitos grupos, um dos quais, para grande infelicidade minha, sendo o dos ciclistas. Nos anos oitenta em Berlim eram insuportáveis: andavam a toda a velocidade pelos passeios, atropelavam peões, gritavam para nos afastarmos - abominável comportamento que segundo eles se justificava por eles serem «o futuro», os «defensores do planeta», os portadores da palavra de deus. Sou ateu, impermeável a todas as religiões. Sejam elas laicas ou eclesiásticas. 

Enfim, começo nas mercearias biológicas da Suíça-francesa hoje e acabo nas bicicletas de Berlim dos anos oitenta. As primeiras fecham, as segundas expandiram-se. As queixas são permanentes em todo o lado. Em Berlim, claro, as autoridades intervieram e a coisa mudou. Não tarda vai acontecer o mesmo em todo o lado. Há ciclistas idiotas que tal como a maioria dos automobilistas não percebem que uma bicicleta é um híbrido, um misto de peão e veículo e como tal deve comportar-se diferentemente consoanto o sítio onde se está. (Há quem chame a isto bom senso, sensatez, siso, mas deixemos as complicações de lado.)

Falo das bicicletas porque me faz grande falta uma aqui em Genebra. Mal chegue, a chuva vai ter muitos jardins para regar.

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Quando esta espera acabar vou escrever um artigo a contar a história. Começo com duas digressões: a da equivalência na Martinique e a da experiência no Burundi. Depois vou confrontar os diferentes intervenientes. É importante ouvir os dois lados. E sobretudo mais eficaz, espero.

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De novo sozinho em casa: S. em Lyon e a cadela L. em casa da G. Estes dias seriam tão produtivos, não fosse esta maldita tensão em que vivo. Maldita e paralisante o que é pior. Não sou gajo de rancores, mas acho que esta vai ser difícil de esquecer. Os funcionários públicos portugueses deviam poder levar pontapés no cu até ficarem sem ele - refiro-me a pontapés literais, dados com botas cardadas, dez por cada dia perdido. (A dez por dia as vítimas da incompetência, negligência, sobranceria, desinteresse, preguiça e por aí fora ficariam sem pé antes de eles ficarem sem cu...)

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Portugal muda de polémicas mais depressa do que as casas de gelados mudam de sabores. Tanta futilidade é irritante. Parecem galinhas a cacarejar: fazem muito barulho mas não serve para nada.

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A fechar: amanhã vou ter o meu neto Leonardo comigo uma hora. Razão: exame de filha. Está a preparar outro neto. Ou neta, isso saber-se-á amanhã, justamente.Há pouco menos de dois anos não sonhava sequer que seria avô. Agora preparo-me para o ser a dobrar. A alegria não se divide pelos dois: multiplica-se por dois.

22.1.23

Guerra perdida

Nunca na história da humanidade os velhos ganharam a guerra contra a modernidade deles e não há geração que não o tenha tentado.

Linhas

"I don't know much about gods', dizia Eliot. Ruy Belo respondia-lhe:

"É antes do anoitecer suavíssimo dos deuses
antes do começar da sombra rente às árvores..."

É naquela linha que o Sol poente traça entre a luz e a sombra, ... É nessa linha que habitamos... 

Começo por procurar uns versos de Ruy Belo que me levam a Eliot e encontro um post meu de há três anos. Há quem chame a isto a linha do tempo ou a linha de luz. Conrad chama-lhe a linha de sombra. Seja do que for, é uma linha, uma fina e ténue linha que se vê mal. Para ser vista requer olhos e um bocadinho de alma. Psique e soma. Tateio hesitante a luz rugosa do fim do dia, uma luz "rente às árvores" e eu que nada sei de deuses pergunto-me o que está para lá daquela sombra que adivinho nos troncos, na metade deles voltada para mim, na escuridão que avança silenciosa, empurrada - quem sabe - por esses deuses de que nada sei. 

É mentira que nada sei de deuses. Quem como eu coabita com os diabos todos da criação tem de conhecer os deuses também,  se não não sobrevive. Andam sempre juntos. Naquele diálogo estou do lado de Belo: é em mim que os deuses escolheram anoitecer delicadamente e finjo não os conhecer, não lhes falo, limito-me a olhar para eles, para a luz rugosa que me estendem num prado meio coberto de neve. As árvores, a neve, a luz, as sombras que avançam para mim, que saem de trás dos troncos onde durante o dia se esconderam, de debaixo dos ramos que um vento forte agita. Tudo isso e eu, o que vejo fora de mim é o que está dentro, como se fosse um espelho ou feito de cristal transparente, como se fosse uma suavíssima parte da paisagem, inquieto à procura dos deuses escondidos nesta linha entre a sombra e a luz, essa linha onde todos habitamos, seja ela de sombra, de luz ou de tempo.

21.1.23

Diário de Bordos - Genebra, 21-01-2023

Sonhei com o Big Bad Dennis. Não faço a mais pequena ideia do porquê de tão estranha associação. Talvez tenha sido porque ontem vi umas fotografias de 12 M JI, não sei. A minha teoria dos sonhos é diferente das do Sigmund e do Jung. Não acredito muito nessas coisas de os sonhos serem portas para o inconsciente ou caminhos ou comunicações ou o diabo a sete. Acho que são o resultado do dia-a-dia e do estado de espírito do sonhador. Pelo menos os meus. Aceito naturalmente que me digam que sou um tipo primário que nem sonhos como deve ser sabe ter. Aceito com um caveat: depende de que sonhos estamos a falar. 

Não deixo contudo de ficar contente por ter o Dennis Conner  a dormir em mim, salvo seja. Deve ser o resultado das boas notícias que tive ontem. É um sintoma do estado a que cheguei, sonhar com o Conner por causa das micro-boas notícias de ontem. Em condições normais mereceriam um «óptimo!» meio distraído e pouco mais. Um dia estarei a sonhar com o Tabarly ou com o Loïc Peyron e aí terei atingido o cume do Everest das boas notícias, suponho.
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Saio para ir passear a cadela - outra das minhas funções aqui. A temperatura exterior é de um grau negativo. Com o vento parece muito mais frio. Apesar das luvas as mãos enregelam-se-me  em questão de minutos. No parque vejo um tipo a correr de calções e t-shirt. Deve ter um aquecimento interior, penso com um arrepio que me vem de dentro. Até os fluidos gástricos se me gelaram. Deve ser um daqueles que acredita no aquecimento global, o antepassado das alterações climáticas e da respectiva «urgência».

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Ontem a caixeira do supermercado dizia para uma cliente: «Normalmente o mês de Janeiro demora muito a passar mas este foi muito rápido. Já estamos quase em Fevereiro.» É verdade. Este mês não acaba e já acabou. O nome vem-lhe de Janus, o deus com duas caras, dois tempos. 

A doxa e eu

A única péssima e perene relação que tenho desde que comecei a balbuciar os primeiros monossílabos é com a doxa. Nunca nos suportámos mutuamente.

20.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 20-01-2023

As alterações climáticas acabaram e as temperaturas voltam ao normal para a época: mínimas de cinco negativos, máximas de zero ou um positivo. Já não estou habituado a estes números e saio pouco. Verdade que esta mistura de depressão e ansiedade na qual vivo, provocada pela pavorosa e cruel espera que os funcionários públicos me impõem (não só a mim), contribui bastante para este imobilismo. Refugio-me numa mistura eclética de música sacra, experiências de cozinha e programas de comentários de política nacional: música pré-gregoriana, improvisação para um bolo, Camilo Lourenço e Observador. E café, claro. Muito. Encontrei uma loja de café em Annemasse que o tem bom e muito mais barato do que Genebra, o que não é difícil. Ou seja: o títylo deste post tanto podia ser «Dias tranquilos em Genebra» como «Dias tensos em Genebra». Ou «Dias intermináveis em Genebra». Salvam-se, claro, os dias de visita ao neto, alguns passeios e pouco mais. 

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Penso muito no artigo que vou escrever a contar esta história. O mais importante - o mais difícil - é não lhe dar o aspecto de vingança. Evacuar a raiva antes. Pensar na New Yorker (excusez du peu). Não vai ser possível, claro, mas pelo menos deverei tentar.

Como descrever objectiva e friamente uma palhaçada?

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O resultado da experiência com o bolo não me parece famoso. Prolongo-lhe o tempo no forno, ver se pelo menos fica mais seco; e atiro-me a um livro, ver se o tempo passa mais depressa do que a música, que é encantadora mas paralisante. Isto é: move-se para dentro, para o fundo, como se o tempo tivesse feito um desvio de noventa graus para baixo.

19.1.23

Escrever

Escrevo porque preciso de escrever, não porque preciso de ser lido.

Retratos

 Era demasiado auto-centrado para ser capaz de sentir inveja.

17.1.23

Julgamentos

Por muito que vocifere contra os funcionários públicos - em especial os de uns determinados organismos ali de meados da linha de Cascais - por muita vontade que tenha de lhes pôr bombas debaixo da cadeira, de lhes dar cicuta de manhã ao pequeno-almoço e se for necessário completar a dose ao almoço; por muito que gostasse de os ver comidos pela lepra, roídos por térmitas, mordidos por serpentes venenosas (aqui há que ter cuidado. Não seria impossível que fossem as coitadas das cobras a morrer), por muito que deseje vê-los esquartejados debaixo do comboio, por muito que deseje estas coisas todas e outras que tenho vergonha de aqui confessar, a verdade é que tudo isto são desejos teóricos, desejos in vitro, por assim dizer. Na vida real tento não julgar ninguém, pelo menos antes de ter uma noção mais ou menos completa do que levou as pessoas a fazer qualquer coisa que a priori me pareça errada. Os supra-mencionados funcionários públicos - que morram queimados no fogo do inferno - não são excepção. Desejo-lhes todo o mal do mundo até ao momento em que for falar com eles e lhes perguntar porque agiram como estão a agir.

Só depois disso os julgarei «a sério». Julgamento esse, claro, que lhes será totalmente inofensivo. Não tenho - infelizmente - poderes para lhes impor todos os castigos que agora acho que merecem.

14.1.23

Revolução

Falava eu de revolução, mas não no sentido político. A política interessa-me pouco e esse pouco não inclui mudanças bruscas do que quer que seja. Não gosto de mudanças. Claro, podem vir dizer-me que a revolução industrial e blá blá blá. Tão pouco é dessa revolução que falo. Só uma revolução me interessa: a dos astros. Orbitar. Quantas órbitas deu a tua vida? Quantas voltas e a quê? A quem? Olhas para uma órbita como um fractal: começa na galáxia e acaba num asteróide em torno de um miniplaneta. Há vidas assim: órbitas fractais. Resta saber se as revoluções estão no mesmo plano ou se são elipsóidais. Cilíndricas? Vidas a duas ou três dimensões? Passeias-te com os fractais pela galáxia, feito dandy, fato de linho branco, chapéu e bengala e ela não te liga nenhuma, a galáxia. Nem a Lua sequer quer saber de ti. Verdade seja dita: nunca pensaste que eras tu o eixo da revolução. Se pensaste não disseste. Se disseste, ninguém ouviu. Uma sorte, repara. Nessa coorte de surdos que te segue, te precede, te envolve encontraste um canto para orbitares em paz. Estás sozinho no teu microplaneta, um espaço feito de ti e um elefante dentro de uma serpente. Aqui dispensas o fato de linho e a bengala. Dispensas tudo e todos, até o estúpido do elefante que ninguém sabe como se foi enfiar pela cobra dentro. Estás sozinho no meio de um exército de surdos a quem não tentas falar, de cegos que não te querem ver. Acabas de decidir que a tua vida é tridimensional: permite-te mais variedade. Com sorte consegues encher o sólido que desenhas no microespaço com algo de sólido. Tempo? Futuro? Passado não: há muito que o deixaste vadiar pelo espaço, sem rumo nem destino. Imagina um pião numa rampa. Não. Uma folha de papel A4 girando em torno do seu lado maior? Sim. Gera um cilindro cheio do que nela estiver escrito. Resta saber se estás do lado de dentro se de fora do cilindro. Se não te ouvem por serem surdos se por terem uma parede que os separa de ti. Indiferente, vais enchendo a folha A4 de palavras desconchavadas, de diagramas geométricos, de planos estelares. É isso que de ti alguém um dia encontrará: palavras, diagramas e planos. Estelares. Fechados.

13.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 13-01-2023

Hoje é um dia histórico: acabei a segunda volta da edição da continuação do Avenida. Ainda não sei como se vai chamar, ainda falta uma terceira volta (muito mais rápida porque é só praticamente eliminar posts, já há pouca revisão de texto a fazer), ainda falta enviá-lo para o J. R., que simpaticamente se propôs dar uma vista de olhos - vindo de um dos melhores editores portugueses isto é uma bênção - mas a verdade é só uma: falta menos uma etapa.

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Adultério é coisa de adultos. Já alguém ouviu falar em criancério?

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Partilho a sala com a cadela. O bicho sonha que faz inveja. Passar os dias a dormir e à noite sonhar parece-me uma uma boa forma de vida.

Eu também sonho, é certo. Mas acordado: sonho que um dia esta agonia vai acabar e vou poder voltar para o meu amado P., que me faz perder o sono. Sonho com o dia em que vai trabalhar. E muitas outras coisas, nas quais tento não pensar. Já basta não dormir.

Comentários

AVURNAV (Aviso urgente à navegação): só agora descobri que há uma etiqueta no Blogger onde ler os comentários. Antigamente os avisos chegavam-me por e-mail. Agora, aparentemente, há que ir a essa folha, adequadamente chamada «comments». O meu pedido de desculpa a quem enviou comentários aos quais não dei seguimento em devido tempo.

Oniris

Vi-o ontem na baixa: alto, magro, bem vestido "à funcionário", cabelo bem penteado. O que me chamou a atenção foi ter percebido que levava atrás um sonho completamente nu. Nada tenho contra a nudez dos sonhos, repare-se. Frequentemente até os prefiro assim, nus e puros. Acontece que não é frequente ver sonhos desses em tipos vestidos daquela forma. São mais coisa de hippies, aspirantes a cantores ou jovens empresários. Funcionários de fato cinzento barato, gravata indescritível comprada claramente no chinês da esquina e sapatos que pareciam estar na família há quatro gerações têm habitualmente o costume de vestir os sonhos antes de saírem de casa. O sonho parecia-me confuso, meio andrógino. Percebia-se que não tinha roupa, os cabelos tanto podiam ser de homem como de mulher e seguia-o de cabeça baixa, como se ali estivesse a contragosto.

Nós videntes de sonhos não somos mais de uma dúzia e conhecemo-nos todos. Sou o único que vê pesadelos e sonhos nus. Os outros especializaram-se em sonhos «normais» (aspas porque é uma maneira de dizer. Não há sonhos anormais). Eu preferi pesadelos: de qualquer forma, a minha vida acordada tem sido uma sucessão deles; passar essa experiência para a noite e para os outros foi fácil. Todos os dias treino: no jardim aonde passear a cadela, no supermercado, no autocarro que me leva para a beira-mar. A quantidade de pessoas que tem pesadelos é muito maior do que se pensa. Já os sonhos nus, sonhos que aparecem sem roupa, vindos do nada e sem destino aparente, são raros. Não sei como fui parar a essa área tão especializada da vidência de sonhos, mas pouco me importa. Os sonhos nus intrigam-me, por vezes levam-me a querer inquirir mais sobre o sonhador que os traz a reboque mas raramente dou seguimento a esse impulso.

Tenho que chegue com os pesadelos, os meus e os dos outros. 

11.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 11-01-2023

Esta espera, maldita espera continua. Entranha-se-me pelos ossos, pelo ventre que anda com uma pedra lá dentro há meses. Nunca fui muito fã dos funcionários públicos portugueses; agora começo a pensar que se lhes devia dar cicuta a beber ao pequeno-almoço. Os das câmaras municipais são os piores? Não sei. Quando me lembro das minhas guerras com a burocracia marítima hesito em estabelecer comparações: são todos iguais e igualmente péssimos. A falta de respeito, consideração, compaixão, humanidade daqueles animais é siderante. Funcionários públicos? Não. Disfuncionários públicos

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Resultado: a única coisa que consigo fazer é a edição do texto para a continuação do Avenida. Ler e escrever são para esquecer. O Guides V. O. sobre as Baleares está numa espécie de banho Maria doloroso. 

8.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 08-01-2023

Depois de uns dias de abatimento parece que a stamina voltou. Hoje avancei quase trinta ou quarenta páginas na edição da continuação do Avenida. Tem sido uma luta a subir, esta, coisa que Sun Tzu diz se deve evitar a todo o preço. Luto contra mim próprio e não percebo por que raio estou em baixo e em cima está a outra metade de mim. Devia ser ao contrário. 

Isto é retórica, claro. Sei muito bem de onde me cai este pedregulho que levo para todo o lado e me tolhe todos os movimentos, paralisa-me com algemas interiores, sufoca-me como se alguém me pusesse a cabeça debaixo de água e me impedisse de tirar. Uma amona, como lhe chamávamos quando éramos miúdos. Só que quem me faz isso tudo sou eu, Sísifo de mim.

Enfim, hoje não me queixo. O Sísifo conseguiu manter a pedra lá em cima, eu nem tive de lutar, sequer. O esforço não consumiu energia. Resta saber se fou uma aberta como um dia de sol no inverno de Genebra ou se é um Verão mediterrânico, inundado de luz. Veremos. Isto tem de ser um dia de cada vez, escada que se sobe degrau a degrau. Não vale a pena tentar apanhar o elevador: passa a vida avariado.

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Amanhã passamos o dia com o Leonardo, S. e eu. Vamos a Prangins, uma aldeola bonita a vinte quilómetros daqui. É um hábito da S. que decidiu consagrar todas as segundas-feiras ao neto. Eu vou de boleia. Ver se amanhã ainda tenho o fogo sagrado de hoje.

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Esta espera está a dar cabo de mim. Já as tive pior, bem sei. Mas quero que o pior se lixe. Assim já é mau que chegue. Sinto-me como aquelas rãs da história, que numa panela ao lume vão sendo cozidas sem darem por isso. Com a diferença óbvia de que eu dou e sinto a água a aquecer e tenho de me lembrar das lições de natação do passado e não parar e não me deixar afundar pelo calhau cá dentro.

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O Guide V. O. está completamente parado. Creio que só vou conseguir avançar com aquilo quando estiver em Palma.

A minha vida gira em torno do P. Só não sei se ele é um sol se um buraco negro.

7.1.23

"Europa"

Estou muito grato à Europa por uma certa quantidade de coisas: o euro, por exemplo. Cada vez que venho à Suíça penso no pesadelo que era andar com uma carteira de pesetas, outra de francos franceses, outra de francos suíços - para além da de escudos portugueses (e às vezes marcos alemães e libras esterlinas). As formalidades fronteiriças. As imposições ao nosso governo - para os outros estou-me nas tintas. (Sim, sei que essas imposições são insuficientes. A "Europa", entre aspas como a designava o saudoso Vasco Pulido Valente, devia ter um representante com direito de veto no conselho de ministros.) A facilidade de comércio intracomunitário.

Infelizmente, essa "certa quantidade de coisas" é cada vez menor. A "Europa" transformou-se num monstro burocrático e paranóico que - a título de exemplo - duzentas vezes por dia me obriga a dizer que sim, aceito cookies. Bolas, não podiam arranjar um sistema que se lembrasse da minha escolha?

Podiam, claro.

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 07-01-2023

Os dias sucedem-se calmamente, como é suposto acontecer na Suíça.

Isto é irónico, claro: a Suíça são vinte e seis países e Genebra é o mais "mediterrânico" deles (com bastantes aspas, mas não tantas quantas se poderia pensar). A calma não vem só do exterior. Ao almoço tive os filhos e companhia, a um dia cinzento segue-se outro dia cinzento mas hoje houve sol de maneira saí de manhã cedo para ir fazer fotografias para a beira do lago e - oh revolução,  oh epifania, oh metamorfose - usei o microondas para aquecer o jantar. E não foi a única revolução do dia - também agradeci a presença de uma máquina de lavar loiça. (Parafraseando o imortal e lamentado Mitterrand, demasiada loiça mata a loiça.)

Não quero contudo que os leitores vejam nisto uma transformação radical e, sobretudo, perene. Para começar, não é a primeira vez que uso um microondas. Deve ser para aí a quinta, pelo menos. Em segundo lugar, tão pouco é a primeira vez que uso uma máquina de lavar a loiça com gosto. Durante o primeiro confinamento, em Palma, usei-a todos os dias. Era uma máquina pequena, que se enchia com a loiça quotidiana e dados os menus tipo avalanche que faziam a minha ementa diária a maquineta era muito bem vinda. Já à televisão continuo reticente, apesar do prazer que é ver um telejornal aqui: curtos, concisos, informativos. Mas o filme que hoje se lhe seguia, uma comédia franco-francesa chamada Bienvenue chez les ch'tis aborreceu-me ao fim de dez minutos apesar de gostar muito dos ch'tis, diga-se de passagem, e da respectiva região.

Não estou, portanto, à beira de uma revolução na minha relação com as máquinas. E muito menos com o tempo, também conhecido por modernidade. 

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Reencontro o supremo gozo da pontualidade. Até para um almoço de família as pessoas estão a horas e se houver algum atraso avisam (atraso sendo tudo o que passe os cinco minutos).

Uma das coisas às quais não me habituo em Portugal é a falta de noção das horas. Bolas, é tão fácil ser pontual! E sobretudo, o gozo que proporciona é muito superior ao esforço que requer.

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A relação dos funcionários públicos portugueses com o público para quem são supostos funcionar continua a exasperar-me. É um hino quotidiano à minha capacidade de retenção, de controlo da raiva. É simplesmente indecente. Não merecem a designação de pessoas. São vermes que deviam ser esmagados. Deviam ser pagos com cuspidelas e não com dinheiro. (Refiro-me aos funcionários das câmaras municipais, especialmente a uma que fica ali para o meio da linha de Cascais. Não deve ser muito diferente das outras, eu sei. Mas desta tenho provas.)

6.1.23

Terra incognita, o que há

Sabes muito pouco do que quer que seja e esse muito pouco inclui muitos erros, muitas asneiras, falsas ideias, preconceitos que um dia serão corrigidos. O pouco que sabes é ainda menos do que à partida supões. Tens uma sorte e só uma: sabes que não sabes. A vastidão do desconhecido não é para ti a terra incognita das cartas de antigamente. Por isso te é tão difícil ter certezas: o teu território é o da dúvida, o da hesitação, o da bengala branca do cego no passeio de uma rua que desconhece. O teu mundo, por assim dizer. Navegas nesse mar de abismos descontrolados, fendas nas quais só penetram o teu olhar perplexo e com ele a fraca luz do pouco que sabes. É insuficiente, mas é o que há.  

Passado, futuro

Por muito arrumado que se seja, por muitas voltas que se dê na cama, chega-se a um ponto em que o passado não cabe no futuro.

Médico

Móveis velhos, baços. Rangem, coxeiam, estão cheios de marcas do uso. A própria casa esta desarrumada, demasiado cheia. As janelas já não fecham correctamente há bastante tempo. Não há aquecimento que chegue. A tinta das paredes escama-se, portas batem porque as fechaduras caíram e não têm quem as substitua. As paredes e os tectos enchem-se de mofo preto, as torneiras pingam, os ralos estão entupidos.

Decididamente está na hora de ir ao médico.

3.1.23

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 03-01-2023

A ser verdade que não devemos regressar a um sítio aonde fomos felizes, que dizer de um no qual não o fomos? Ou pior: aonde fomos infelizes? Talvez ali voltar seja uma questão de bom senso, não? Corrigir o que fizemos errado, apercebermo-nos de pormenores que passaram despercebidos, sei lá... Ou talvez, mais simplesmente, vermos os efeitos da passagem do tempo em nós e nesse lugar. Não somos os mesmos, ele também não e estamos bem assim, confortados, relaxados. 

A questão é falsa. Só se pode dizer que se foi feliz num lugar se lá se tiver passado pouco tempo. A felicidade é fugaz, como diz a canção brasileira. E, muito provavelmente, retroactiva. Pode - e deve - regressar-se a todo o lado onde já se esteve. A vida é uma sequência de círculos sobrepostos, não uma estrada recta no deserto. Pelo menos a minha.

A perfeição e nós

Pobre do Homem: sabe o que é a perfeição mas, com a excepção de alguns breves lampejos, é incapaz de a alcançar. Miguel Ângelo, Caravaggio (na pintura, que no resto mais valia estar quieto), Bach, Mozart, Hildegarde von Bingen, Rachmaninoff e talvez uma dúzia de outros alcançaram-na fugazmente, numa obra ou em poucas.

(Porque é que só artistas conseguem tocá-la, por muito brevemente que seja?)

2.1.23

Igualdade, nós e os outros

Somos todos iguais, com excepção dos que são mais estúpidos do que nós, não é? Isto é, há dois níveis de igualdade: o nosso e o que está abaixo de nós. 

1.1.23

História de comprimidos

Por vezes adormecer dá muito trabalho, é muito laborioso. Ora tens dores nos ombros, ora estás enjoado, ora te dói a memória ou o futuro ou outra coisa qualquer. Há sempre uma dor à espreita, quando envelheces. Por uma qualquer estranha alquimia da vida, essas dores não são compensadas por uma igual e simétrica quantidade de alegrias - à noite. Durante o dia a história é outra e melhor. Nalgumas dessas noites tomo um comprimido para dormir. Questão de preguiça, só. Não sou nenhum S. Jorge a lutar com o dragão nem S. Cristóvão com o Menino aos ombros. São poucas. Tal como são poucas as vezes em que tomo um analgésico para as dores de cabeça, apesar de andar sempre com eles atrás. Nada tenho contra a indústria farmacêutica, note-se. Ou tenho pouco, vá lá. Globalmente faz mais bem do que mal. Não sei de onde me vem esta antipatia pelos comprimidos e remédios em geral. Creio que é uma simples questão de hábito: ainda não me habituei à ideia de que daqui a menos de um terço dos anos que já por cá andei deixarei de andar e de ter dores.  Ou então é pior, é uma forma deslavada de estoicismo. Ou uma crença infantil na capacidade da carcaça se desenrascar sozinha. Não sei. Felizmente, nestas lutas comigo próprio saio sempre a ganhar: com somnífero ou sem ele acabo por adormecer; e se a dor de cabeça é demasiado persistente entra um Paracetamol. Ganho sempre, qualquer que seja a facção de mim que levou a melhor.

Diário de Bordos - Genebra, Suíça, 01-01-2023

Apesar - ou por causa - de nada fazer, os dias passam a uma velocidade vertiginosa. Ainda há pouco me levantei e já estou de novo pronto para dormir. Pouco mais fiz do que tratar da cozinha e cozinhar - se é que fazer um bife com batatas fritas pode ser considerado cozinhar. Pode.

Agora deito-me, não tenho luz para ler um livro mas posso ler e escrever disparates no FB (felizmente, mais estes do que aqueles) e penso que não tarda pego ao trabalho. Muito há que fazer, por isso mais vale aproveitar bem estes dias.

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Os quais foram de sol e amenos. O "chove, vírgula, claro" do outro dia foi uma clara injustiça. Bem sei que amanhã choverá de novo e por muito tempo, mas estes dois dias foram bonitos. Fica registado, para a próxima vez que o sarcasmo me tentar mais do que a precisão (tardará pouco).

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Ouvi a parte final do discurso de Ano Novo de Alain Berset, o actual presidente da Confederação. Sensato, moderado, para todos e não só para apaniguados. Pensar que o homem é socialista só me enche com ainda mais vergonha. António Costa é o traste que é por ser um canalha, não por ser socialista.

(De onde se conclui que o socialismo e a chuva em Genebra têm algumas coisas em comum.)

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Este ano de 2022 não foi fácil. Com excepção do Verão, em que trabalhei bem, o resto foi de espera e de desespero. Espero não conhecer outro assim, nos vinte que estatisticamente ainda tenho pela frente.