5.3.17

Diário de Bordos - Genève, Suíça, 05-03-2017

Não somos navios especados na banquise à espera do degelo; nem pequenas embarcações numa eclusa, que se limitassem a subir e a descer sem dali sair. Devemos mudar regularmente de gostos, desgostos, antipatias, simpatias, óculos e vida.

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Domingo de sol, outra vez. O mercado de Plainpalais está cheio logo de manhã. Os stands preparam as comidas e os cheiros dos pratos de todo o mundo misturam-se num só: começa com as bifanas do português; ao lado os frangos assados de não sei quem. É uma longa geografia que acaba no stand da congolesa e o seu Poulet à la Mouamba (ela é do Sul do Congo), duzentos metros depois; entre elas tajines, hoummous, poulet grillet, mezze libaneses e por esse mundo fora; à frente dela um marroquino vende especiarias que me fazem sonhar: tenho vontade de as comprar todas, misturá-las e fazer um prato global, um pan-prato, pan-palato, pan-gastronomia, pan-tudo.

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Últimos dias em Genève. Há muito tempo que não passo por tanta ambivalência. Janus não deve ter tido uma vida fácil.

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A vida é uma azinhaga em terra batida, sinuosa, na qual os automóveis circulam a cento e cinquenta e nós vamos pela berma a ver quando podemos atravessar e a tentar evitar os despistes e os choques dos outros.

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