12.6.20

Diário de Bordos - Palma, Mallorca, Baleares, Espanha, 12-06-2020

O frio foi-se embora, voltou o calor,  mas um calor calmo, primaveril, gentil. I. vai trocar o carro e deixa-me perto da capitania. Na volta deambulo mais do que caminho, páro no Minyones para uma cerveja e um bocadinho de presunto "só para dar gosto à cerveja", explico ao senhor e ele percebe, ando por estas ruas de que tanto gosto à velicidade de um caracol bêbedo, penso nos versos de Baudouin:

«Mais l’air du printemps est une chose souple et tendre.
Les pores s’ouvrent, tout l’espace entre
en nous et nous nous répandons délicieusement en lui


Sim, é verdade: derramo-me neste espaço que entra em mim por todos os poros, espalho-me, encho de mim estas ruas que me devolvem a empatia em dobro.

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O X. telefona-me a dizer que o sensor afinal não funciona. Temos de encontrar outra solução e pede-me o fim-de-semana para pensar nisso. Claro, X. De qualquer forma os moitões para a enora ainda não chegaram, não serve de nada excitarmo-nos. Aliás, só torna tudo pior: que faria eu de Baudouin, das ruas de Palma, da tapa no Minyones?

(- Felizmente o telefonema chegou depois, estúpido. Queria ver essa calma toda se tivesse chegado antes.
- Cala-te, parvalhão. Achas que é a primeira vez que isto acontece?
- E tu achas que mudas só porque aprendes?
- E se te calasses?
- ...
- Obrigado. )

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Tenho uma paella reservada no Aurélio e já a tinha esquecida. Por mais que um gajo tente comer menos, a memória opõe-se.

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Não prometo responder a todos os comentários, mas prometo que fico grato por todos.