24.12.20

Diário de Bordos - Lisboa, 25-12-2020

Estou com saudades da neve, de frio a sério, de casas aquecidas, de fondue e de raclette.

Uma cidade coberta de neve é como chegar a casa e ver o corpo amado adormecido debaixo de um edredom espesso, leve e macio. O melhor da neve é o silêncio. A cor e a luz vêm depois. E a ausência de ângulos agudos. A neve arredonda e suaviza tudo por onde passa e se poisa, absorve os ruídos, silencia os passos e distrai o olhar, incapaz de se fixar num ponto concreto.

Mas como quem não tem neve tem amigas e uma bicicleta Vitus, "vou levando". O jantar foi bacalhau cozido, um dos meus pratos favoritos; a amiga e anfitriã foi a M.,  daquelas amizades que vão crescendo dia a dia, palavra a palavra, olhar a olhar, sorriso a sorriso, silêncio a silêncio... sei lá, peça a peça, daquelas que fazem da amizade aquilo que é. O regresso a casa foi rápido. Descer leva menos tempo do que subir, faça-se o que se fizer (falo de bicicletas a pedais. A electrons é outra história, menos agradável). 

A bicicleta é um meio de locomoção maravilhoso. O resto é conversa de pedalar na maionese. Tem o defeito de não ser prática na neve. Não faria aquelas descidas se as estradas estivessem brancas (e as subidas tão pouco, mas por outra razão).

Acho bem: deixa-se a neve para a nostalgia, a amizade e os pedais para hoje. É uma boa divisão de tarefas emocionais. (Curioso, este calendário: só tem hoje e amanhã. Tudo o que ficou para trás tem o nome genérico de "Nostalgia".)

Feliz Natal! (Isto é simultaneamente uma exclamação de júbilo, uma descrição e um voto dirigido a todos os que me lêem.)

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