9.4.21

Semi-afundado

Uma vez estava dentro de um barco que se tinha afundado - mas não ido ao fundo, porque era um catamarã. Estava a flutuar à tona de água. Estávamos a rebocá-lo para um porto onde o pudéssemos encalhar. O cabo de reboque rompera-se por causa de um squall, que em português tem o nome enganador de aguaceiro. Estava no rebocador e lancei-me à água para passar outro cabo de reboque. Não voltei a subir porque seria demasiado perigoso e fiquei dentro da embarcação semi-afundada. Era noite e o salão (o que estava destinado a ser o salão, a embarcação estava em construção) estava cheio de madeiras soltas, de todas as dimensões. Com as vagas - completamente desencontradas porque estávamos muito perto da costa e da barra do porto - as madeiras andavam em todas as direcções, violentamente. Pus-me num canto, para pelo menos ter as costas protegidas. Tinha de me defender de paus, pedaços de troncos, chapas de todos os tamanhos que vinham contra mim a toda a velocidade e só via quando estavam a decímetros.

Sinto-me como me sentia nessa noite, com a diferença de que nada é visível: nem o temporal, nem as madeiras, nem as vagas, nem o casco semi-afundado.

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