2.4.21

Variações apologéticas em torno do absinto Angélique

Absinthe rima com absente (enfim: quase, mas a diferença é tão pequena que nem um teste PCR a detectaria), coisa que só por si demonstra uma série de coisas importantes, todas elas conducentes ao mesmo: as razões para não o beber estão ausentes.

Se o absinto fosse a rainha das bebidas alcoólicas, o absinto Angélique, feito artesanalmente no Val-de-Travers, Jura suíço, por um senhor chamado Claude-Alain Bugnon seria a rainha-mãe. É.

A beleza do absinto começa no cheiro quando se abre a garrafa, continua na cor quando se o põe no copo (para quem não sabe: põe é como coloca, mas em melhor), prolonga-se quando se lhe junta a água e se o vê mudar de cor e acaba na explosão de sabores campestres, históricos, poéticos e profundamente inspiradores. A arte moderna deve muito ao absinto e o senhor Claude-Alain Bugnon (que ainda não conheço - sublinho ainda) e todos os que o antecederam na nobre arte de distilar plantas como (cito) grande absinthe, angélique e outras dez (fim de citação) deviam ser erigidos patronos das artes e grandes encorajadores da vida no campo.

O pastis está para o absinto Angélique como uma prostituta de rua para Mata Hari. 

Ao primeiro gole de absinto a vida muda para (muito) melhor. Os goles seguintes não fazem mais do que prolongar essa mudança; afiná-la, por assim dizer. Refiná-la. Dar-lhe um sentido, uma direcção, uma razão de ser. Quem não acredita no progresso nunca bebeu absinto Angélique.

O simples facto de o senhor que faz este absinto pôr o seu nome no contra-rótulo diz tudo: as obras de arte assinam-se.

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